segunda-feira, 13 de setembro de 2010

UM CRIME A QUE O REGIME ANGOLANO CHAMA JONAS SAVIMBI

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NOTÍCIAS LUSÓFONAS

Segundo o Jornal de Angola, órgão oficial (correia de transmissão em linguagem mais popular) do regime angolano e do MPLA (são uma e a mesma coisa), a UNITA apela à desobediência civil porque o seu líder, Isaías Samakuva, disse que a juventude do partido deveria seguir o exemplo de Jonas Savimbi. Está tudo dito.

Por Orlando Castro - Jornalista

Como era, é e será previsível, Jonas Savimbi – apesar de morto – continua a ser uma espinha atravessada na garganta dos que se consideram angolanos de primeira, os donos do regime e do MPLA (são uma e a mesma coisa).

Bem tinha razão Jonas Savimbi quando dizia em relação ao MPLA: «ise okufa, etombo livala» (prefiro antes a morte, do que a escravatura).

É que se os jovens angolanos seguirem o exemplo de Savimbi (mau grado os muitos erros que cometeu), Angola deixará um dia de ser um país onde os poucos que têm milhões (quase todos do MPLA mas onde aparecem também alguns da UNITA) continuam a ter cada vez mais milhões e em que, no mesmo país, muitos milhões não têm sequer o que comer.

É que se os jovens angolanos seguirem o exemplo de Savimbi, Angola deixará de ser o país dos contratados e de os escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Norte, mas deixará igualmente de ser o que é hoje, onde todos os que não são do MPLA se sujeitam a ser enxovalhados para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilares”

Bem diziam, em Fevereiro de 2002, alguns dos angolanos de segunda (os que não são do MPLA): «Sekulu wafa, kalye wendi k'ondalatu! v'ukanoli o café k'imbo lyamale!»: Morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados, ou ser escravos na terra que ajudaram a, supostamente, libertar.

É por tudo isto que seguir o exemplo de Jonas Savimbi é um crime contra a segurança do regime angolano.

E não vale a pena pensar que os alertas lançados ao mundo vão ter algum resultado prático. Isto porque é muito mais fácil – como também dizia Jonas Savimbi - negociar com um regime ditatorial do que com um que seja democrático. É muito mais fácil negociar com alguém que, à partida, se sabe que irá estar na cadeira do poder durante toda a vida, caso de José Eduardo dos Santos, do que com alguém que pode ao fim de um par de anos ser substituído pela livre escolha popular.

É, como acontece com José Eduardo dos Santos, muito mais fácil negociar com o líder de um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto, do que com alguém que não seja dono do país mas apenas, como acontece nas democracias, representante temporário do povo soberano.

Bem visível na caso angolano é o facto de, como em qualquer outra ditadura, quanto mais se tem mais se quer ter, seja no país ou noutro qualquer sítio. Por muito pequeno que seja o ditador, o que não é o caso de José Eduardo dos Santo, a História mostra-nos que tem sempre apreciável fortuna espalhada pelo mundo, seja em bens imobiliários (como era tradição) ou mais modernamente nos paraísos fiscais.

E seguir o exemplo de Jonas Savimbi é lutar contra tudo isto. Por isso o regime angolano e o MPLA (são uma e a mesma coisa) estão tão revoltados com a ideia.

Alguns pensaram que a estatura ditatorial de José Eduardo dos Santos, visível sobretudo a partir do momento em que deixou de poder contar com Jonas Savimbi como o bode expiatório para tudo o que de mal se passava em Angola, era intocável. Enganaram-se. Tanto o partido que goverma Angola desde 1975 como o seu presidente, não eleito, e que está no poder há 31 anos, têm medo de Jonas Savimbi... mesmo morto.

Desde 2002, o presidente vitalício de Angola tem conseguido fingir que democratiza o país e, mais do que isso, conseguiu (embora não por mérito seu mas, isso sim, por demérito da UNITA) domesticar completamente todos aqueles que lhe poderiam fazer frente. No entanto, o tiro saíu-lhe pela culatra. Como em vida, Jonas Savimbi continua a ser indomesticável.

José Eduardo dos Santos não tem as mãos limpas de sangue. Aliás, nenhuma ditador com 31 anos de permanência seguida no poder, tem as mãos limpas. E ele sujou-as há muitos, muitos anos, logo em Maio de 1977.

Mas essa também não é uma preocupação. Quando se tem milhões, pouco importa como estão as mãos. Aliás, esses milhões servem também para branquear, para limpar, para transplantar, para comprar (quase) tudo e (quase) todos. E isso não é aceitável por quem siga o exemplo de Jonas Savimbi.

O Povo angolano continua a ser gerado com fome, a nascer com fome, e a morrer pouco depois... com fome. E a fome, a miséria, as doenças, as assimetrias sociais são chagas imputáveis a regime angolano e ao MPLA (são uma e a mesma coisa). E seguir o exemplo de Jonas Savimbi é lutar contra tudo isto.

12.09.2010 - orlando.s.castro@gmail.com
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