segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ato no RS lança ofensiva pró-Dilma e denuncia: campanha sórdida e golpista pode provocar ruptura política

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MARCO AURÉLIO WEISSHEIMER – CARTA MAIOR

Ato histórico com mais de duas mil pessoas reuniu antigos adversários políticos no Rio Grande do Sul e lançou uma advertência ao país: clima inédito de sordidez, de difamação e calúnias, em um ambiente de golpismo político-midiático ameaça a democracia e legitimidade do processo eleitoral, podendo descambar para uma ruptura política. Governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e lideranças políticas de vários partidos anunciaram que exército de militantes estará nas ruas nos próximos dias e conclamaram resto do país a fazer o mesmo. “A militância vai fazer a diferença e eleger Dilma", disse Tarso.

O salão São José do Hotel Plaza San Rafael viveu um momento histórico na noite de quinta-feira. O ato de mobilização da candidatura de Dilma Rousseff (PT) reuniu mais de duas mil pessoas, contando quem conseguiu entrar no auditório e quem teve que ficar do lado de fora. Mas o tamanho do público não foi o único destaque do ato. A mesa que comandou os trabalhos mostrou uma aliança de forças políticas que há muito tempo não se via na história do Rio Grande do Sul. Lá estava, entre outros, o governador eleito do Estado, Tarso Genro (PT), o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), os senadores Sérgio Zambiasi (PTB) e Paulo Paim (PT), o deputado federal Mendes Ribeiro Filho (PMDB), o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), a deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B), deputados federais e estaduais do PT, o deputado estadual Luis Augusto Lara (PTB), lideranças históricas da política gaúcha como Aldo Pinto (PDT), além de dezenas de parlamentares, prefeitos, vereadores e lideranças de vários partidos, igrejas, sindicatos e outras organizações da sociedade.

Um tom de urgência, gravidade e intensa mobilização marcou praticamente todas as intervenções. A unidade política representada na mesa, reunindo tradicionais rivais políticas da história recente da política gaúcha, deixou claro qual era o cimento que a solidificava: um objetivo maior, um bem maior, a saber, o futuro do Brasil e a continuidade do atual projeto de desenvolvimento social representado pelo governo Lula. Denunciando a sordidez sem limites da campanha de baixarias, mentiras e difamações patrocinada e apoiada pela campanha de José Serra, vários oradores falaram de riscos para a democracia e lembraram a campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola em defesa do governo de João Goulart. “Eu nunca vi uma campanha tão sórdida em toda a minha vida”, desabafou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, que saudou, sem esconder a emoção, seus antigos e , naquele momento, renovados, “companheiros e companheiras”.

Aldo Pinto fez um dos pronunciamentos mais veementes da noite e remexeu em feridas históricas brasileiras e nas relações conflituadas entre projetos de governo que tinha ligações fortes com o Rio Grande do Sul e as elites paulistas. “Tenho certeza que o povo gaúcho não vai escolher outra vez um paulista como governante”. Na mesma linha, o deputado federal do PMDB, Mendes Ribeiro Filho, criticou o projeto representado pelo representante da elite paulista, José Serra, conclamando uma intensa mobilização para as próximas duas semanas. Vários prefeitos do PMDB acompanharam o deputado no ato e anunciaram trabalho ininterrupto nos seus municípios nos próximos dias. Já o senador Sérgio Zambisi fez um alerta especial às mulheres: “Vocês tem uma responsabilidade especial nestas próximas duas semanas, maior que a nossa até, pois, caso Serra vença, são vocês que sofrerão mais”, disse Zambiasi.

Coube ao governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, fazer a fala mais veemente da noite. O tom dramático do discurso estava baseado na percepção de que há uma grave ameaça pairando sobre a democracia brasileira. Nunca antes na história do Brasil, um candidato adotou como plataforma política uma campanha de calúnias e difamações contra sua adversária política. Uma inédita sordidez, repetiu Tarso. “Estamos assistindo a uma campanha de golpismo político e midiático semelhante ao que ocorreu antes do golpe de 64. Mas hoje a ameaça não vem dos militares. Hoje essa ameaça é talvez mais grave, pois se trata de golpismo político com apoio de uma parte importante da grande imprensa”. Uma prática, segundo ele, que pode provocar uma ruptura política no país e coloca em risco a legitimidade do processo eleitoral. A frase mais grave e significativa da noite: A campanha de baixarias da candidatura Serra pode provocar uma ruptura política no país.

Mas Tarso e os demais não apostam no caminho da ruptura, mas sim no da superação do nível sórdido da campanha por meio de uma antiga e sempre eficiente arma do PT e dos partidos e organizações populares: a força de sua militância. Nos próximos dias, milhares de ativistas, militantes e apoiadores deverão sair às ruas do Rio Grande do Sul para fazer campanha para Dilma. “A gente ganha uma eleição pedindo voto. Nós temos que ir para a rua pedir votos”, resumiu Mendes Ribeiro, bastante aplaudido. “A militância vai fazer a diferença e eleger Dilma. Eles esgotaram seu estoque de baixarias e já estão repetitivos”, acrescentou Tarso.

Fazendo mais uma vez referência à Campanha da Legalidade, Tarso e as demais lideranças políticas presentes no ato anunciaram que o Rio Grande do Sul pretende mobilizar todo o país em defesa de Dilma, da democracia e do projeto representado pelo governo Lula. A mensagem transmitida no ato foi em tom alto e claro, sem metáforas: as elites paulistas e seus aliados terão mais uma vez à sua frente adversários que, desde Getúlio Vargas, insistem em contrapor um projeto de desenvolvimento nacional ao suposto cosmopolitismo dessa elite que só enxerga o povo pobre como um objeto a ser usado em época de eleição e o país como um balcão para seus negócios privados.

Foto: Caco Argemi
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