MARTINHO JÚNIOR
Uma das constatações que se podem fazer entre o 1º turno das eleições no Brasil e o 2º, é de quanto foi muito mais rico o debate antes e quão pobre o está a ser agora.
De facto, deixada só perante o candidato da oligarquia, Dilma Rousseff parece perder as qualidades que só a consciência à esquerda dos tucanos, uma esquerda por inteiro, pode conferir.
Isso significa que as ideias que reflectem a consciência crítica sobre o Brasil estão no PT, mas sobretudo à esquerda do PT.
A situação da esquerda, à esquerda de Dilma, pode ser bem sintetizada em termos de impacto eleitoral e capacidade para fazer passar a sua mensagem entre os “leões” da “mídia”: (1)
“Os quatro candidatos progressistas foram praticamente invisibilizados nestas eleições.
Fizeram campanhas pobres em recursos, mas ricas em ideias.
Foram os únicos que realmente levantaram problemas sérios e utilizaram as suas campanhas para fazer esclarecimento e romper o bloqueio hegemónico imposto pelos media das classes dominantes.
Apesar disso, mesmo com todas as limitações, estes quatro candidatos (Plínio de Arruda Sampaio, Ivan Pinheiro, Zé Maria e Rui Pimenta) conseguiram uma votação somada de 1.022.767 votos.
Em termos quantitativos parece pouco.
Mas em termos qualitativos estes votos mostram que há mais de um milhão de brasileiros que não se deixam enganar pela demagogia eleitoralista e pela burla do voto dito útil que acaba por ser inútil.
Este milhão de cidadãos conscientes poderá vir a constituir a base para a frente anti-capitalista e anti-imperialista de que o Brasil precisa.”
Até que ponto a consciência crítica sobre a lógica capitalista se fortaleceu com estas eleições?
Até que ponto se estão a identificar as causas profundas dos desequilíbrios humanos e ambientais e a pôr de parte carnavais de fora de época?
Até que ponto no Brasil está em construção uma Frente capaz de ser socialista e anti imperialista podendo abranger ou não Lula e Dilma?
Julgo que também aí se está no limiar duma conclusão incontornável:
Enveredar pela lógica capitalista quando ela se esgota, ou mesmo apenas admitir num quadro desta natureza concessões “à esquerda”, é a trilha para o beco sem saída que se desenha no horizonte planetário, fértil para quem possui a hegemonia e o poder das armas, mas desde já cada vez mais esgotado de argumentos, ao ponto de fazer uso da mentira continuada para fazer prevalecer apenas seus interesses, conveniências e poder degenerescente.
Historicamente foram as sucessivas revoluções, a Industrial e a Tecnológica, que fundamentaram a cultura capitalista eminentemente Anglo Saxônica contemporânea e por isso a emergência Americano – Africana – Latina tendo o Brasil como componente geo estratégico de primeira grandeza, pode constituir uma profunda alternativa aos expedientes correntes desta globalização, uma alternativa que pode vir a tornar ainda mais viável o socialismo do século XXI que para uns está já na forja e para outros se perfila no horizonte.
Mesmo os pensadores militares brasileiros, perante as ameaças veladamente reconhecidas da hegemonia Anglo Saxónica que afetam as Amazônias (Verde e Azul), parece conferirem razão à profundidade estratégica desse argumento. (2)
Frei Beto, na sua intervenção “Dilma ou a fé cristã” confirma o sentido da emergência, que opera em fase embrionária: (3)
“Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: que, se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria sítios e fazendas produtivos; implantaria o socialismo por decreto...Passados quase oito anos, o que vemos? Vemos um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.”
A emergência do Brasil, ou é à esquerda dos padrões implantados pelos tucanos e seus parceiros yankees, ou não o é, mas a emergência terá de percorrer um longo caminho pejado de obstáculos para um dia se poder afirmar e o socialismo é de fato a plataforma de harmonia que se torna cada vez mais premente erigir no horizonte contemporâneo do Brasil.
Provavelmente o Rio Grande do Sul está na vanguarda hoje dessa harmonia possível, mas para o Brasil contemporâneo, são Estados como o de São Paulo os decisivos.
De certo modo a distância entre o Rio Grande do Sul e São Paulo pode ser ideológica e politicamente medida entre o PC do B, incondicional apoio de Dilma e o PCB que está apenas com Dilma para obstruir Serra, mas possui estratégia própria à esquerda do PT.
De entre os obstáculos, os que os meios norte americanos continuam a utilizar na América Latina em função do seu poderio são pelo menos “indicadores” para os tucanos e para os outros.
De entre esses “indicadores” não se podem perder de vista a construção e reconstrução das elites de feição, com toda a perspicácia sócio-política e psicológica que isso obriga, tal como acontece deste lado leste do Atlântico Sul, em África.
A África do Sul “arco íris” é disso um acabado exemplo: o processo democrático representativo tem possibilitado que, para além das elites brancas, uma parte das quais estão ligadas à trajetória dos boers e ao “apartheid”, há espaço para “emergência” de outras elites, as negras, ou as indianas, sem se beliscar o capitalismo, muito menos as causas profundas que fazem fermentar a desigualdade, a injustiça social e a paz.
A construção de elites nunca está esgotada, por que a lógica capitalista permite espaços ideológicos e de ação incomensuráveis: todas as classes que historicamente foram ou são exploradas, fragilizadas, ou confundidas na “panela de pressão” que com tanto “esmero” tem sido montada (estas eleições no Brasil são também disso espelho), podem ser alvo das grandes manipulações e isso tornou-se viável mesmo para aqueles que estiveram por dentro do movimento de libertação contra o colonialismo e o “apartheid” e tantos agenciamentos hoje promovem no quadro dum neo colonialismo persuasivamente imposto pelos termos da globalização Anglo Saxônica.
O novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, um homem singularmente com curriculum no Golfo da Guiné, na América Latina e que fala português fluentemente, entre as suas esmeradas encomendas traz, num momento em que se tornam mais visíveis na América Latina as manipulações com os indígenas (o caso do Equador parece ser paradigmático), uma receita para o Brasil: o “Plano Brasil – Estados Unidos”. (4)
Logo no início da entrevista concedida ao “Raça Brasil” (bem escolhido o veículo para “passar a mensagem”), o embaixador não deixa de fazer um “apelo crioulo” de amplitude Atlântica que transcende o relacionamento Brasil – Estados Unidos e se dirige para todos os Povos que constituem o universo Americano – Africano – Latino nos termos afins “à voz do dono”:
“RB – O senhor trabalhou no Brasil de 1989 a 1992. Agora, volta como embaixador, o que mudou no país daquele tempo para cá?
Thomas A. Shannon – Tudo! O Brasil não é mais uma potência emergente.
Ele já emergiu, tem lugar no cenário global que não pode ser negado ou mesmo ignorado.
Isso muda as relações entre nossos países, que agora, mais do que relações bilaterais são relações globais.
Vemos o Brasil hoje em um lugar onde historicamente nunca esteve e dividimos com o país temas e iniciativas inovadoras. Nossa relação deixou de ser exclusivamente entre governos, agora é entre sociedades e povos.
A globalização, as novas tecnologias, como a internet, e as viagens conectaram as sociedades americana e brasileira como nunca antes, e isso aconteceu naturalmente, com pouca influência ou envolvimento dos governos.
Contudo, à medida que essa rede se fortalece e se consolida, exigirá cada vez mais que os governos dos dois países facilitem e promovam os crescentes vínculos entre nossas sociedades, que são as maiores democracias do Ocidente.
RB - O que é o Plano Brasil Estados Unidos para a eliminação da discriminação etnorracial e promoção da igualdade?
Thomas A. Shannon – Antes de descrever o plano, é preciso dizer que para entendê-lo temos que estar cientes de algo que jamais foi realizado entre dois países.
É exactamente essa inovação que o torna desafiador, cujo grande feito é vincular sociedade civil, governo e iniciativa privada na construção de uma sociedade justa e com igualdade para todos.
O plano foi assinado em Março de 2008 e, se eu pudesse resumir aqui, diria que é o compromisso entre os dois governos e sociedade civil a fim de eliminar a discriminação racial e étnica, e promover a igualdade de oportunidades em ambos os países.”
A esquerda brasileira terá que encontrar outras amplas formas de mobilização, pois até nos substratos sociais historicamente mais desfavorecidos da sociedade brasileira vai encontrar veladas ingerências a vencer, prontas a envenenar subtilmente os expedientes da emergência e por isso, a sua capacidade de mobilização terá de se implicar em factores de ordem estratégica em reforço da viabilidade dos processos culturais Americano – Africano – Latinos.
Estarão aqueles que se situam à esquerda da oligarquia tucana, particularmente à esquerda do PT e de Dilma, disponíveis para além da consciência crítica, com consciência estratégica, responder desde já à fermentação de outras elites talhadas pela feição globalizadora Anglo Saxónica, conforme as “experiências” Africanas?
Estarão aqueles que têm esse tipo de responsabilidades históricas capazes de dar outro rumo à interligação por exemplo do Brasil com a Namíbia, quando o Sudoeste Africano tem sido um feudo dos processos elitistas que têm evoluído a partir de Cecil John Rhodes em África? (2)
Que não esqueçam que a escola de Oxford onde se formou Thomas A. Shanon possui recursos científico-tecnológicos e experiência histórica acumulados desde os alvores da Revolução Industrial, inclusive no continente Africano: basta avaliar a formação da União Sul Africana, a trilha “do Cabo ao Cairo” (que eu agora sintetizo como “do Cabo a Jerusalém”), as construções modernas de estados como o Botswana e a Namíbia, tudo isso com profundas implicações na África Austral e Central, bem como no Golfo da Guiné (precisamente um dos trajectos do novo Embaixador norte americano no Brasil) e a África do Sul “arco íris”, uma África do Sul que confirma que a democracia não se pode basear apenas na oportunidade um homem, um voto, por que entre eleições é o poder dominante que dita as regras do jogo (aparentemente) democrático, por via duma representatividade que só tem garantido a continuidade sem justa causa do poder económico e financeiro duns quantos com processos elitistas forjados às custas das omissões que se produzem em prejuízo das grandes maiorias.
Notas e apontamento:
- (1) – As eleições brasileiras – PCB – http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2050:qas-eleicoes-brasileirasq&catid=73:eleicoes-2010
- (2) – A Amazónia Azul: o mar que nos pertence – Almirante Guilherme Mattos de Abreu – Geopolítica-energia – http://geopolitica-energia.blogspot.com/2010/01/amazonia-azul-o-mar-que-nos-pertence.html ; Exercício militar “Atlântico 2” – Bruno Boghossian – http://democraciapolitica.blogspot.com/2010/08/exercicio-militar-foca-protecao-do-pre.html
- (3) – Dilma e a fé cristã – Frei Beto – Brasil de fato – http://www.brasildefato.com.br/node/4417
- (4) – O Plano Brasil – Estados Unidos – Entrevista de Thomas A. Shannon ao Raça Brasil – http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/145/o-plano-brasil-estados-unidos-thomas-a-shannon-jr-tambem-178556-1.asp
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Uma das constatações que se podem fazer entre o 1º turno das eleições no Brasil e o 2º, é de quanto foi muito mais rico o debate antes e quão pobre o está a ser agora.
De facto, deixada só perante o candidato da oligarquia, Dilma Rousseff parece perder as qualidades que só a consciência à esquerda dos tucanos, uma esquerda por inteiro, pode conferir.
Isso significa que as ideias que reflectem a consciência crítica sobre o Brasil estão no PT, mas sobretudo à esquerda do PT.
A situação da esquerda, à esquerda de Dilma, pode ser bem sintetizada em termos de impacto eleitoral e capacidade para fazer passar a sua mensagem entre os “leões” da “mídia”: (1)
“Os quatro candidatos progressistas foram praticamente invisibilizados nestas eleições.
Fizeram campanhas pobres em recursos, mas ricas em ideias.
Foram os únicos que realmente levantaram problemas sérios e utilizaram as suas campanhas para fazer esclarecimento e romper o bloqueio hegemónico imposto pelos media das classes dominantes.
Apesar disso, mesmo com todas as limitações, estes quatro candidatos (Plínio de Arruda Sampaio, Ivan Pinheiro, Zé Maria e Rui Pimenta) conseguiram uma votação somada de 1.022.767 votos.
Em termos quantitativos parece pouco.
Mas em termos qualitativos estes votos mostram que há mais de um milhão de brasileiros que não se deixam enganar pela demagogia eleitoralista e pela burla do voto dito útil que acaba por ser inútil.
Este milhão de cidadãos conscientes poderá vir a constituir a base para a frente anti-capitalista e anti-imperialista de que o Brasil precisa.”
Até que ponto a consciência crítica sobre a lógica capitalista se fortaleceu com estas eleições?
Até que ponto se estão a identificar as causas profundas dos desequilíbrios humanos e ambientais e a pôr de parte carnavais de fora de época?
Até que ponto no Brasil está em construção uma Frente capaz de ser socialista e anti imperialista podendo abranger ou não Lula e Dilma?
Julgo que também aí se está no limiar duma conclusão incontornável:
Enveredar pela lógica capitalista quando ela se esgota, ou mesmo apenas admitir num quadro desta natureza concessões “à esquerda”, é a trilha para o beco sem saída que se desenha no horizonte planetário, fértil para quem possui a hegemonia e o poder das armas, mas desde já cada vez mais esgotado de argumentos, ao ponto de fazer uso da mentira continuada para fazer prevalecer apenas seus interesses, conveniências e poder degenerescente.
Historicamente foram as sucessivas revoluções, a Industrial e a Tecnológica, que fundamentaram a cultura capitalista eminentemente Anglo Saxônica contemporânea e por isso a emergência Americano – Africana – Latina tendo o Brasil como componente geo estratégico de primeira grandeza, pode constituir uma profunda alternativa aos expedientes correntes desta globalização, uma alternativa que pode vir a tornar ainda mais viável o socialismo do século XXI que para uns está já na forja e para outros se perfila no horizonte.
Mesmo os pensadores militares brasileiros, perante as ameaças veladamente reconhecidas da hegemonia Anglo Saxónica que afetam as Amazônias (Verde e Azul), parece conferirem razão à profundidade estratégica desse argumento. (2)
Frei Beto, na sua intervenção “Dilma ou a fé cristã” confirma o sentido da emergência, que opera em fase embrionária: (3)
“Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: que, se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria sítios e fazendas produtivos; implantaria o socialismo por decreto...Passados quase oito anos, o que vemos? Vemos um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.”
A emergência do Brasil, ou é à esquerda dos padrões implantados pelos tucanos e seus parceiros yankees, ou não o é, mas a emergência terá de percorrer um longo caminho pejado de obstáculos para um dia se poder afirmar e o socialismo é de fato a plataforma de harmonia que se torna cada vez mais premente erigir no horizonte contemporâneo do Brasil.
Provavelmente o Rio Grande do Sul está na vanguarda hoje dessa harmonia possível, mas para o Brasil contemporâneo, são Estados como o de São Paulo os decisivos.
De certo modo a distância entre o Rio Grande do Sul e São Paulo pode ser ideológica e politicamente medida entre o PC do B, incondicional apoio de Dilma e o PCB que está apenas com Dilma para obstruir Serra, mas possui estratégia própria à esquerda do PT.
De entre os obstáculos, os que os meios norte americanos continuam a utilizar na América Latina em função do seu poderio são pelo menos “indicadores” para os tucanos e para os outros.
De entre esses “indicadores” não se podem perder de vista a construção e reconstrução das elites de feição, com toda a perspicácia sócio-política e psicológica que isso obriga, tal como acontece deste lado leste do Atlântico Sul, em África.
A África do Sul “arco íris” é disso um acabado exemplo: o processo democrático representativo tem possibilitado que, para além das elites brancas, uma parte das quais estão ligadas à trajetória dos boers e ao “apartheid”, há espaço para “emergência” de outras elites, as negras, ou as indianas, sem se beliscar o capitalismo, muito menos as causas profundas que fazem fermentar a desigualdade, a injustiça social e a paz.
A construção de elites nunca está esgotada, por que a lógica capitalista permite espaços ideológicos e de ação incomensuráveis: todas as classes que historicamente foram ou são exploradas, fragilizadas, ou confundidas na “panela de pressão” que com tanto “esmero” tem sido montada (estas eleições no Brasil são também disso espelho), podem ser alvo das grandes manipulações e isso tornou-se viável mesmo para aqueles que estiveram por dentro do movimento de libertação contra o colonialismo e o “apartheid” e tantos agenciamentos hoje promovem no quadro dum neo colonialismo persuasivamente imposto pelos termos da globalização Anglo Saxônica.
O novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, um homem singularmente com curriculum no Golfo da Guiné, na América Latina e que fala português fluentemente, entre as suas esmeradas encomendas traz, num momento em que se tornam mais visíveis na América Latina as manipulações com os indígenas (o caso do Equador parece ser paradigmático), uma receita para o Brasil: o “Plano Brasil – Estados Unidos”. (4)
Logo no início da entrevista concedida ao “Raça Brasil” (bem escolhido o veículo para “passar a mensagem”), o embaixador não deixa de fazer um “apelo crioulo” de amplitude Atlântica que transcende o relacionamento Brasil – Estados Unidos e se dirige para todos os Povos que constituem o universo Americano – Africano – Latino nos termos afins “à voz do dono”:
“RB – O senhor trabalhou no Brasil de 1989 a 1992. Agora, volta como embaixador, o que mudou no país daquele tempo para cá?
Thomas A. Shannon – Tudo! O Brasil não é mais uma potência emergente.
Ele já emergiu, tem lugar no cenário global que não pode ser negado ou mesmo ignorado.
Isso muda as relações entre nossos países, que agora, mais do que relações bilaterais são relações globais.
Vemos o Brasil hoje em um lugar onde historicamente nunca esteve e dividimos com o país temas e iniciativas inovadoras. Nossa relação deixou de ser exclusivamente entre governos, agora é entre sociedades e povos.
A globalização, as novas tecnologias, como a internet, e as viagens conectaram as sociedades americana e brasileira como nunca antes, e isso aconteceu naturalmente, com pouca influência ou envolvimento dos governos.
Contudo, à medida que essa rede se fortalece e se consolida, exigirá cada vez mais que os governos dos dois países facilitem e promovam os crescentes vínculos entre nossas sociedades, que são as maiores democracias do Ocidente.
RB - O que é o Plano Brasil Estados Unidos para a eliminação da discriminação etnorracial e promoção da igualdade?
Thomas A. Shannon – Antes de descrever o plano, é preciso dizer que para entendê-lo temos que estar cientes de algo que jamais foi realizado entre dois países.
É exactamente essa inovação que o torna desafiador, cujo grande feito é vincular sociedade civil, governo e iniciativa privada na construção de uma sociedade justa e com igualdade para todos.
O plano foi assinado em Março de 2008 e, se eu pudesse resumir aqui, diria que é o compromisso entre os dois governos e sociedade civil a fim de eliminar a discriminação racial e étnica, e promover a igualdade de oportunidades em ambos os países.”
A esquerda brasileira terá que encontrar outras amplas formas de mobilização, pois até nos substratos sociais historicamente mais desfavorecidos da sociedade brasileira vai encontrar veladas ingerências a vencer, prontas a envenenar subtilmente os expedientes da emergência e por isso, a sua capacidade de mobilização terá de se implicar em factores de ordem estratégica em reforço da viabilidade dos processos culturais Americano – Africano – Latinos.
Estarão aqueles que se situam à esquerda da oligarquia tucana, particularmente à esquerda do PT e de Dilma, disponíveis para além da consciência crítica, com consciência estratégica, responder desde já à fermentação de outras elites talhadas pela feição globalizadora Anglo Saxónica, conforme as “experiências” Africanas?
Estarão aqueles que têm esse tipo de responsabilidades históricas capazes de dar outro rumo à interligação por exemplo do Brasil com a Namíbia, quando o Sudoeste Africano tem sido um feudo dos processos elitistas que têm evoluído a partir de Cecil John Rhodes em África? (2)
Que não esqueçam que a escola de Oxford onde se formou Thomas A. Shanon possui recursos científico-tecnológicos e experiência histórica acumulados desde os alvores da Revolução Industrial, inclusive no continente Africano: basta avaliar a formação da União Sul Africana, a trilha “do Cabo ao Cairo” (que eu agora sintetizo como “do Cabo a Jerusalém”), as construções modernas de estados como o Botswana e a Namíbia, tudo isso com profundas implicações na África Austral e Central, bem como no Golfo da Guiné (precisamente um dos trajectos do novo Embaixador norte americano no Brasil) e a África do Sul “arco íris”, uma África do Sul que confirma que a democracia não se pode basear apenas na oportunidade um homem, um voto, por que entre eleições é o poder dominante que dita as regras do jogo (aparentemente) democrático, por via duma representatividade que só tem garantido a continuidade sem justa causa do poder económico e financeiro duns quantos com processos elitistas forjados às custas das omissões que se produzem em prejuízo das grandes maiorias.
Notas e apontamento:
- (1) – As eleições brasileiras – PCB – http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2050:qas-eleicoes-brasileirasq&catid=73:eleicoes-2010
- (2) – A Amazónia Azul: o mar que nos pertence – Almirante Guilherme Mattos de Abreu – Geopolítica-energia – http://geopolitica-energia.blogspot.com/2010/01/amazonia-azul-o-mar-que-nos-pertence.html ; Exercício militar “Atlântico 2” – Bruno Boghossian – http://democraciapolitica.blogspot.com/2010/08/exercicio-militar-foca-protecao-do-pre.html
- (3) – Dilma e a fé cristã – Frei Beto – Brasil de fato – http://www.brasildefato.com.br/node/4417
- (4) – O Plano Brasil – Estados Unidos – Entrevista de Thomas A. Shannon ao Raça Brasil – http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/145/o-plano-brasil-estados-unidos-thomas-a-shannon-jr-tambem-178556-1.asp
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