sábado, 30 de outubro de 2010

Dilma e Serra enfrentam os indecisos sem se enfrentarem um ao outro

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Alexandra Lucas Coelho, no Rio de Janeiro – PÚBLICO – 30 outubro 2010

Não houve troca de acusações. Não houve sequer diálogo. O último debate entre os candidatos à presidência do Brasil foi diferente de todos os outros. De pé, num palco redondo, Dilma Rousseff e José Serra enfrentaram as perguntas de 12 indecisos, sentados em estúdio e vindos de todo o Brasil.

As últimas sondagens dão razões a Serra para estar preocupado e a Dilma para estar tranquila. Na pesquisa do Ibope, Dilma ganha por 14 pontos, na da DataFolha por 12.

Mas no debate de ontem à noite, Serra mostrou-se ágil e fluente e Dilma cansada e tensa. Os derradeiros aplausos reflectiram claramente estas prestações. Depois de Dilma completar os seus dois minutos de considerações finais, houve um aplauso morno. Serra teve a vantagem de fechar, e o aplauso foi entusiástico.

Dos 80 indecisos presentes, o Ibope — instituto de pesquisas — selecionou perguntas de 12. Dilma e Serra iam teclando num ecrã para os chamar ao acaso. Depois, o indeciso nomeado levantava-se, lia a pergunta no cartão e ficava de pé enquando o candidato, à beira do palco, lhe respondia. Seguia-se a réplica do candidato rival, e a tréplica do primeiro candidato.

Os dois concorrentes cumpriram o modelo sem nunca se interpelarem, circulando pelo palco de mãos atrás das costas enquanto o outro falava.

Os 12 temas das perguntas seleccionadas foram: funcionalismo e cidadãos, agricultura, corrupção, segurança, saneamento, educação, legislação trabalhista, saúde, meio ambiente, política social, impostos e previdência.

Corrupção de fora

Nem a pergunta sobre corrupção levou um candidato a referir-se directamente a outro. Serra fez uma série de menções indirectas ao “exemplo que tem de vir de cima”. Por exemplo: “Quando o chefe de governo passa a mão na cabeça é terrível porque as pessoas [acusadas de corrupção] vão achar que estão protegidas.”

A pergunta formulada de forma mais brutal foi sobre saúde. A indecisa queria saber se os pobres que procuram os serviços públicos vão continuar a ser tratados “como animais”. Serra, a quem cabia a resposta, fez um sorriso amarelo. E depois, como ex-ministro da saúde de Fernando Henrique Cardoso tratou de dizer que o problema é que nos últimos anos (do governo Lula) tinha acontecido “um recuo”.

Dilma prometeu “zerar” (levar a zero) problemas tão diferentes como saneamento e desmatação da Amazónia. Durante a resposta sobre políticas sociais, um problema momentâneo no cronómetro fê-la hesitar, e depois impacientar-se: “Essa daí…” Nas considerações finais começou por um desabafo: “Foi uma campanha dura. Em alguns momentos fiquei triste por um conjunto de calúnias veiculadas através da Internet.” Ataques que a acusavam de ser “abortista”. Mas fez questão de dizer: “Não guardo mágoa. Peço humildemente o voto.”

Serra, como em todos debates, terminou a oferecer a sua biografia de homem que combateu a ditadura e depois foi eleito várias vezes para cargos públicos.

O debate terminou em cima da meia-noite, hora limite segundo a lei eleitoral.
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