quarta-feira, 27 de outubro de 2010

MOÇAMBIQUE E OS ACORDOS DE ROMA

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INÁCIO NATIVIDADE - NOTÍCIAS LUSÓFONAS – 27 outubro 2010

Quando a Frelimo - Frente de Libertacao de Moçambique declarou a independência de Moçambique em 1975, vozes inconformadas ligadas à direita colonial portuguesa foram vaticinando que (eles), eram incapazes de se governar. Nessa ordem de pensamento, muitos deles nascidos em Moçambique abandonaram o território, alegando incapacidade de viver numa África governada por pretos, e com essa posição de ruptura julgavam estar a contribuir para a desgovernação da jovem Nação.

Outros entretanto no intuito de pensar tacticamente em recuperar o que julgavam deles, aproximaram-se dos regimes da ex-Rodésia e depois junto ao regime do apartheid, pedindo apoio material e económico para desestabilisar a integridade do estado moçambicano.

Com essse propósito promoveram a guerra, tendo sido os mesmo que na sua relutância haviam criado a agitacão do 7 de Setembro , para depois criarem e passarem a financiar as actividades subversivas da Renamo.

Foi com estas palavras que o ex-presidente Joaquim Chissano usou como pano de fundo do discurso alusivo à passagem de mais um aniversário dos acordos de Roma.

Chissano lembrou que esses portugueses moveram uma guerra de 16 anos, e no final a integridade do estado mostrou-se inabalável, porque as suas pretensões resvalaram no escudo de defesa dos mocambiçanos caindo derrotadas. Mais ainda que a guerra na altura movida contra Moçambique não era de índole ideológica, no fundo a intenção era derrubar o governo de Maputo, fazendo marcha atrás ao processo de descolonização que teve o seu ponto alto no acordo de Lusaca, entre democratas portugueses ligados ao Movimento das Forças Armadas que fez o 25 de Abril e a Frente de Libertação de Moçambique.

Hoje perante todos os factos da história recente moçambicana na mesa, conclui-se que Moçambique teve de vencer escolhos e bloqueios gigantescos desde a sua criação, não só pela diversidade da sua herança cultural e ser o mosaico multicolor que representa, mas porque o despertar do ideal de uma Nação passou a funcionar como uma ameaça ao interesses de um grupo com interesses próprios; a independencia de um territorio com uma costa maritima gigantesca, rico em recursos energéticos e minerais , era inadmissivel e uma afronta, para aqueles que se julgavam herdeiros naturais da metrópole colonial.

Nenhum patriota que se preze pode alguma vez dar o seu voto de confiança à Renamo. Ser de esquerda não é crime nenhum, acontece porém que o dito grupo achava-se no direito de interferir na transição politica de uma causa que a metrópole colonial considerou politicamente esgotada, e por ter encontrado o representante legitimo dos moçambicanos, a Frelimo.

Uma metrópole que mudara e tentava consertar um passado que resistia imutável politica e ideologicamente, face a uma nova realidade não confinada a renúncia de principios que o iam imolando: Direito à independencia, Direitos humanos, inclusão racial e justiça social são normas e linguagem inaudita aos olhos e ouvidos colonialistas.

A única razão pela qual a Renamo aceitou as regras da democracia, foi o receio de ser considerada inimiga da democracia e de perder os fundos do estado. Os fundadores e apoiantes da Renamo eram incapazes de entender o badalar de ideias e ideologias obedecendo a uma candeia cuja dinâmica ia contra a vontade dos seus interesses mais sórdidos.

Hoje chegada a época da globalização e da interculturalidade, continuam a cultivar essse conservadorismo fidalgal, apesar da ilha de isolamento e de saudosismos longe da África que os enxotou para longe das suas fronteiras. Continuam vociferando lástimas à idelogia da esquerda e a Mário Soares pela perda dos previlégios, ao mesmo tempo não escondem as dificuldades de inserimento em sociedades modernas e inclusivas. Enquanto isso Portugal e Moçambique consolidaram as pontes de amizade, reforçando as relaçoes bilaterais, e são ambos membros efectivos dos PALOPS.

A guerra foi ganha pelos moçambicanos, que elegeram a Frelimo como timoneira da Nação e no mais profundo sentir patriótico, não posso deixar de render a devida homenagem à bravura das forças de defesa e segurança e ao presidente Samora Machel. Vencemos o colonialismo, e contribuimos para a derrocada do racismo em toda a região da África Austral. Ninguém verdadeiramente livre pode ignorar o contributo da Nação moçambicana para a liberdade mundial.

O mundo estava dividido em blocos ideológicos antagónicos, e dado a natureza da luta de libertação, pertenciamos ao bloco que naturalmente se solidarizou à nossa causa.

Os acordos de Roma e a transição da guerra para a democracia pluripartidária em Moçambique não produziu ressentimentos. Os moçambicanos no todo sabem que a um dado momento da sua história recente foram instrumentos soando a mando de ditâmes de uma conjuntura impossivel de controlar. Sabem que têm uma tarefa gigantesca, que é vencer a pobreza, as endemias crónicas e o subdesenvolvimento.

O défice de liberdade vivido na época revolucionária, relenta hoje na plena democracia, e na economia de mercado. Na revolução nem todos eram necessariamente revolucionários, assim como hoje na economia de mercado nem todos são capitalistas. Mas hoje pode-se constatar que devido à aculturação da experiência marxista e capitalista, muitos mocambicanos foram perdendo muito da sua autenticidade africana; tornaram-se egoistas e egocêntricos, foram perdendo o contacto com a familia e com a comunidade.

Desde quando o verdadeiro africano deixava a familia, os mais velhos morrer à fome?

No capitalismo se a pessoa não herda nada ou não possui propriedade não passa da merda, contudo se na época revolucionária alguém podia ser revolucionário e não o foi, perdeu uma excelente oportunidade de ficar na história. Qual o problema em ser-se patriota, quando a pátria era vitima de agressão estrangeira, e era necessário consolidar a independencia?

Não precisavamos de um Che Guevarra porque tinhamos Samora Machel. Samora Machel foi morto por deliberação de politicas neoliberais (Washington Consensus) que viam no seu desaparecimento uma oportunidade para expandir de mercados económicos até ao Cabo. Como contrapartida estava na mesa a libertação de Nelson Mandela e o fim do apartheid.

Hoje o mercado económico é real, mas as politicas económicas neoliberais que priorizam o interesse das elites, constituem um perigo à estabilidade politica em toda a região da África Austral. Por causa da crise económica global do capitalismo, muitos paises do terceiro mundo especialmente árabes, e pessoas individuais com o capital em bancos americanos ou europeus perderam triliões de dólares que jamais serão recuperados.

Passados 35 anos, apesar das dificuldades experimentadas, o estado de saúde da economia moçambicana respira razoavelmente. O Impacto recessivo nas economias, e a má distribuição da riqueza , assim como chantagens dos mercados constituem um mal mundial, contudo apesar dos contorcionismos político-financeiros dos últimos dois anos a economia mocambicana cresceu este ano 6.2 por cento. Há medidas de sacrifício que são inevitáveis. Moçambique continua ser um espaço em que no periodo das chuvas os rios facilmente galgam as margens. O pais precisa de mobilizar o poder económico e a finança internacional para que haja uma saída urgente da pobreza e subdesenvolvimento.

Governo e agentes económicos tém de se locomover aumentando a produção e a produtividade, além de terem de duplicar as exportações. O campo tem de produzir comida para todos. Há momentos em que um pequenino efeito pode ser extraordinário para se iniciar uma mudança. Os moçambicanos mais necessitados estão à espera de sair dessa situação e ansiosos em encontrar uma solução social e política, mais justa, o que a ser conseguido a curto ou longo prazo será extraordinário.

A crise de confiança na governação é global. O económico mexe no bolso e na cabeça, de governos, empresas e cidadãos. Não há mal algum em remodelar-se o governo, é necessário coragem para fazê-lo. Numa situação de crise, se o governo opta por caras novas é porque quer encontrar soluções, e dar respostas adequadas aos anseios das familias, empresas e ao próprio estado.

Na Europa por causa da economia existe uma crise de confiança nos governos e as soluções políticas ainda não se perspectivam. A Europa deixou de constituir o maior travão ao surgimento de alternativas à subjugação, do neoliberalismo económico. Assiste-se ao surgimento da extrema-direita e outros bloqueios de desenvolvimento, a esperança é que deste caldeirão social venha dos governos e da oposição politica e dos agentes económicos uma estratégia de consenso que permita uma saida; a questão que se coloca é para quando? Os Governo à esquerda, têm de tomar medidas para salvar o estado social. Só há saída da crise e combate à recessão se houver criação de emprego e crescimento económico.

Na América a Direita e os conservadores ganham o terreno porque a economia não cresce e o desemprego aumenta. O fenónemo Obama está mais do que esgotado. Consideram-no culpado de tudo o que acontece ao pais incluindo a perda da liderança americana como grande potencia mundial.
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