ANTOANETA BECKER – BRASIL DE FATO
Gigante asiático busca evidências históricas de ligação com o continente para justificar seu "abraço" econômico sobre ele.
Irritada com as acusações de ser a nova colonizadora da África, a China está buscando usar poder inteligente e evidências históricas de suas ligações ancestrais com o continente para justificar seu “abraço” econômico sobre ele.
Arqueologistas chineses foram enviados para procurar um naufrágio antigo na costa do Quênia que apoie os argumentos de que a China descobriu a África antes dos exploradores brancos. Enquanto isso, Pequim se prepara para financiar mais pesquisas no continente para atender o pedido de expansão de suas empresas e bancos.
Em agosto, foi lançado, pelo Ministério do Comércio, o Centro de Pesquisa China-África. O objetivo é “fornecer uma base teórica para as decisões do governo chinês relativas à África”, disse, na ocasião, Huo Jianguo, presidente da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Econômica. Segundo ele, o centro também fornecerá serviços de consultoria para empresas que tenham planos de expandir seus negócios para a África.
Corrida pelo tesouro
“Por muito tempo, nossa estratégia para a África foi similar à nossa estratégia para o desenvolvimento econômico: atravessar o rio sentindo as pedras”, disse He Wenping, diretor de Estudos Africanos do Instituto de Estudos do Oeste Asiático e da Academia Chinesa de Ciências Sociais. “Não estávamos bem preparados para ir à África e tivemos que pagar um preço alto, aprendendo com nossos erros. Mas, agora, estamos consolidando nossa estratégia e haverá um novo foco em aprender sobre a África e em falar por nós mesmos”.
Muitas esperanças estão sendo postas na corrida pelo tesouro conduzida por arqueologistas chineses e africanos no Quênia. Eles estão procurando pelo naufrágio e outras evidências de relações comerciais entre os dois territórios antes do século 15. Acredita-se que o navio fez parte de uma armada comandada pelo almirante Zheng He, da dinastia Ming, que, de acordo com os chineses, chegou à África 80 anos antes do português Vasco da Gama.
“Jornada de paz”
O projeto de três anos de exploração foi lançado em julho e é simbólico do quanto a China tem intensificado esforços para mostrar sua atual presença na África como uma continuação da “jornada de paz e amizade” de Zheng He. Os porta-vozes chineses afirmam que a frota de 300 navios e milhares de homens navegaram pelo Pacífico a partir de 1405. Zheng He fez diversas viagens a outros lugares da Ásia, África e Oriente Médio.
Acredita-se que He tenha chegado à costa do Quênia aproximadamente em 1418, com sua esquadra repleta de mercadorias e presentes do imperador chinês. Os arqueólogos acreditam que o navio procurado naufragou quando retornava para a China, carregando, dentre outras coisas, uma girafa dada pelo sultão do Malindi como um presente à corte chinesa.
“A viagem é, de fato, simbólica das intenções da China em relação à África, antes e hoje”, insistiu Wenping. “Os chineses que chegaram à África não foram colonizar, e sim comercializar”.
“Pilhagem”
Hoje, a China é um dos principais importadores de minerais da África. Sua incursão no continente africano tem sido qualificada por alguns críticos como “pilhagem”, gerando descontentamentos no país. O projeto arqueológico evidencia seu desejo de publicizar que sua relação com a África seria mais antiga do que se imagina e o interesse de hoje, portanto, não seria apenas comercial, mas também por relações históricas.
Até poucos anos atrás, os oficiais chineses gostavam de ressaltar o apoio dado por seu país para os movimentos nacionalistas africanos na luta pela independência e a herança anticolonial em comum. Mas a história de 60 anos de relações com a África não é considerada hoje pelos acadêmicos chineses como páreo para a presença ocidental no continente desde o século 15.
Muitos acadêmicos chineses afirmam que a China não possui o mesmo conhecimento acumulado sobre a África que outros países do Ocidente. Sem a mesma tradição religiosa que vincula os países europeus e a África, a China tenta justificar sua expansão sobre o continente a partir de um aspecto histórico.
Pesquisas
Ciente da necessidade de dar sua própria versão da história das relações entre a China e o continente africano, Pequim tem pensado em criar um fundo para pesquisas com o eixo China-África, que poderia dar apoio financeiro a instituições e indivíduos. Hoje, a maioria dos estudos sobre África feitos por acadêmicos chineses é financiada por instituições internacionais de países ocidentais.
Os estudantes africanos são também vistos como um fator que poderá cumprir um papel em modelar o novo discurso da China sobre a África. Nos últimos anos, o governo chinês tem encorajado estudantes africanos a ir à China estudar, oferecendo milhares de bolsas de estudo. Em 2009, a China recebeu 120 mil estudantes africanos, dez vezes mais do que em 2000. Educados para ser a elite governamental de seus países, esses estudantes estão aprendendo não só o chinês, mas carreiras como Engenharia e Agronomia.
Tradução: Dafne Melo
Gigante asiático busca evidências históricas de ligação com o continente para justificar seu "abraço" econômico sobre ele.
Irritada com as acusações de ser a nova colonizadora da África, a China está buscando usar poder inteligente e evidências históricas de suas ligações ancestrais com o continente para justificar seu “abraço” econômico sobre ele.
Arqueologistas chineses foram enviados para procurar um naufrágio antigo na costa do Quênia que apoie os argumentos de que a China descobriu a África antes dos exploradores brancos. Enquanto isso, Pequim se prepara para financiar mais pesquisas no continente para atender o pedido de expansão de suas empresas e bancos.
Em agosto, foi lançado, pelo Ministério do Comércio, o Centro de Pesquisa China-África. O objetivo é “fornecer uma base teórica para as decisões do governo chinês relativas à África”, disse, na ocasião, Huo Jianguo, presidente da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Econômica. Segundo ele, o centro também fornecerá serviços de consultoria para empresas que tenham planos de expandir seus negócios para a África.
Corrida pelo tesouro
“Por muito tempo, nossa estratégia para a África foi similar à nossa estratégia para o desenvolvimento econômico: atravessar o rio sentindo as pedras”, disse He Wenping, diretor de Estudos Africanos do Instituto de Estudos do Oeste Asiático e da Academia Chinesa de Ciências Sociais. “Não estávamos bem preparados para ir à África e tivemos que pagar um preço alto, aprendendo com nossos erros. Mas, agora, estamos consolidando nossa estratégia e haverá um novo foco em aprender sobre a África e em falar por nós mesmos”.
Muitas esperanças estão sendo postas na corrida pelo tesouro conduzida por arqueologistas chineses e africanos no Quênia. Eles estão procurando pelo naufrágio e outras evidências de relações comerciais entre os dois territórios antes do século 15. Acredita-se que o navio fez parte de uma armada comandada pelo almirante Zheng He, da dinastia Ming, que, de acordo com os chineses, chegou à África 80 anos antes do português Vasco da Gama.
“Jornada de paz”
O projeto de três anos de exploração foi lançado em julho e é simbólico do quanto a China tem intensificado esforços para mostrar sua atual presença na África como uma continuação da “jornada de paz e amizade” de Zheng He. Os porta-vozes chineses afirmam que a frota de 300 navios e milhares de homens navegaram pelo Pacífico a partir de 1405. Zheng He fez diversas viagens a outros lugares da Ásia, África e Oriente Médio.
Acredita-se que He tenha chegado à costa do Quênia aproximadamente em 1418, com sua esquadra repleta de mercadorias e presentes do imperador chinês. Os arqueólogos acreditam que o navio procurado naufragou quando retornava para a China, carregando, dentre outras coisas, uma girafa dada pelo sultão do Malindi como um presente à corte chinesa.
“A viagem é, de fato, simbólica das intenções da China em relação à África, antes e hoje”, insistiu Wenping. “Os chineses que chegaram à África não foram colonizar, e sim comercializar”.
“Pilhagem”
Hoje, a China é um dos principais importadores de minerais da África. Sua incursão no continente africano tem sido qualificada por alguns críticos como “pilhagem”, gerando descontentamentos no país. O projeto arqueológico evidencia seu desejo de publicizar que sua relação com a África seria mais antiga do que se imagina e o interesse de hoje, portanto, não seria apenas comercial, mas também por relações históricas.
Até poucos anos atrás, os oficiais chineses gostavam de ressaltar o apoio dado por seu país para os movimentos nacionalistas africanos na luta pela independência e a herança anticolonial em comum. Mas a história de 60 anos de relações com a África não é considerada hoje pelos acadêmicos chineses como páreo para a presença ocidental no continente desde o século 15.
Muitos acadêmicos chineses afirmam que a China não possui o mesmo conhecimento acumulado sobre a África que outros países do Ocidente. Sem a mesma tradição religiosa que vincula os países europeus e a África, a China tenta justificar sua expansão sobre o continente a partir de um aspecto histórico.
Pesquisas
Ciente da necessidade de dar sua própria versão da história das relações entre a China e o continente africano, Pequim tem pensado em criar um fundo para pesquisas com o eixo China-África, que poderia dar apoio financeiro a instituições e indivíduos. Hoje, a maioria dos estudos sobre África feitos por acadêmicos chineses é financiada por instituições internacionais de países ocidentais.
Os estudantes africanos são também vistos como um fator que poderá cumprir um papel em modelar o novo discurso da China sobre a África. Nos últimos anos, o governo chinês tem encorajado estudantes africanos a ir à China estudar, oferecendo milhares de bolsas de estudo. Em 2009, a China recebeu 120 mil estudantes africanos, dez vezes mais do que em 2000. Educados para ser a elite governamental de seus países, esses estudantes estão aprendendo não só o chinês, mas carreiras como Engenharia e Agronomia.
Tradução: Dafne Melo
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