JOÃO MANUEL ROCHA – PÚBLICO
O Governo do Presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediu ao Senado para acelerar a aprovação das mudanças no sistema de pensões, pouco antes de os sindicatos terem anunciado duas novas jornadas de luta: uma para a próxima quinta-feira, dia 28, outra para 6 de Novembro, um sábado.
O pedido para que o Senado recorra ao “voto único”, uma possibilidade constitucional, foi feito para evitar discutir cada uma das 265 propostas de emenda. “O debate não deve durar por durar”, disse o ministro do Trabalho, Eric Woerth, citado pelo diário Le Monde.
Numa altura em que os protestos prosseguem na rua e o país sofre os efeitos da greve nas refinarias, o Executivo pretende impedir que a discussão se prolongue pelo fim-de-semana. A líder socialista, Martine Aubry, falou em “golpe de força”.
Para além de acelerar o voto no Senado – que já aprovou os aspectos centrais do projecto: idade mínima de reforma aos 62 anos e não aos 60, pensão completa aos 67 e não aos 65 – Sarkozy aposta na desmobilização que as férias de dez dias que hoje se iniciam possam ter junto dos estudantes. O passo seguinte seria, segundo a imprensa francesa, uma remodelação que permitisse ao Governo retomar o diálogo social, até porque a popularidade de Nicolas Sarkozy está em níveis muito baixos e as eleições de 2012 estão no horizonte.
Na quarta-feira, os senadores aprovaram uma emenda da UMP que propõe uma reflexão sobre a reforma dos sistemas de aposentação em 2013, após as eleições. Mas a decisão não demoveu os sindicatos. A última mobilização, terça-feira, teve a adesão de 1,1 milhões de pessoas, segundo o Governo, ou 3,5 milhões, números sindicais.
Ao mesmo tempo que Governo e sindicatos definiam estratégias, trabalhadores e estudantes manifestavam-se. Esta de madrugada, a polícia foi chamada a desbloquear acessos ao aeroporto de Marselha, cortados por grevistas das refinarias, que continuaram paradas, algumas pelo décimo dia consecutivo. O mesmo acontecia com 15 dos 219 depósitos de combustíveis. Um quarto das 12.300 estações de serviço permaneciam sem gasolina, segundo a AFP. Os transportes foram afectados por greves sectoriais, mas menos do que em dias anteriores. O Presidente acusou os grevistas de “sequestrarem a economia, as empresas e a vida quotidiana dos franceses”.
Os jovens também se mantiveram mobilizados. “Queremos manter as nossas reformas”, gritaram os quatro mil a 15 mil, segundo as fontes, que desfilaram na capital e, segundo o Monde, foram dispersados por canhões de água. Lyon voltou a ser palco de incidentes. Em Poitiers uma adolescente ficou ferida na agitação entre jovens e polícias. O Governo admitiu “perturbações” em 312 liceus, sete por cento do total, e numa dezena das cerca de 80 universidades.
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