quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Angola enfrenta novos desafios após 35 anos de independência

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Eduardo dos Santos, o ditador angolano, 31 anos de poder

ABEL COELHO DE MORAIS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 11 novembro 2010

Quase 90% da população urbana vive em habitações clandestinas e só 42% tem acesso a água potável. A corrupção domina

O MPLA proclamava há 35 anos em Luanda a independência de Angola, tendo como pano de fundo um clima de guerra civil que não cessará de se agravar até 1992, para, após breve interregno, ser retomada até 2002, quando é morto o principal líder da oposição, Jonas Savimbi, e o seu movimento está militarmente derrotado.

Se o regime fundado em 1975 por Agostinho Neto estava dependente de apoios externos para a sobrevivência, na lógica dos conflitos indirectos da Guerra Fria, Angola surge hoje como um possível motor da economia na África subequatorial e um actor regional de crescente importância.

Este é um aspecto que ficou claro com a visita do Presidente sul-africano Jacob Zuma, em Agosto de 2009. Destinada a assinalar o início de uma nova época nas relações bilaterais, da cimeira entre Zuma e o seu homólogo angolano, Eduardo dos Santos, resultaram acordos como aquele em que Luanda se compromete a fornecer petróleo à África do Sul em troca de apoio deste país para a reconstrução das suas infra-estruturas, além do reforço da cooperação política e diplomática, tornadas mais fáceis, segundo analistas regionais, pela relação pessoal entre Eduardo dos Santos e Zuma.

Um relacionamento que querem estender ao Brasil, membro da CPLP como Angola, e um dos principais parceiros económicos da África do Sul.

No plano das relações bilaterais, a relação luso-angolana tem sido considerada como essencial pelas duas capitais, atravessando actualmente o seu "melhor momento", como tem sido referido pelos respectivos representantes diplomáticos. A forte presença portuguesa em vários sectores da economia angolana e a afirmação dos capitais deste país em instituições nacionais, da banca à energia, reflectem aquela realidade.

Angola, como país devastado por uma guerra civil de quase 30 anos que fez cerca de 500 mil mortos, necessita de apoios para a sua reconstrução. O FMI disponibilizou uma linha de crédito, em 2009, na ordem dos mil milhões de euros para a concretização de projectos económicos e sociais.

Uma prioridade que passa, necessariamente, pela reconstrução das cidades e reabilitação da habitação clandestina nas periferias. Um projecto anunciado terça-feira por Eduardo dos Santos, cuja primeira fase será a substituição dos bairros clandestinos de Cazenga e de Sambizanga na capital angolana por habitação social.

Quase 90% da população urbana em Angola vive em construções clandestinas e apenas 42% tem acesso a água potável, segundo um relatório da UNICEF em Junho. Este é um dos sinais da tremenda desigualdade na distribuição de riqueza entre os 18,5 milhões de angolanos.

Em paralelo com este problema, a corrupção continua endémica em Angola, tendo o mais recente relatório da Transparência Internacional considerado este país como um dos dez mais corruptos no mundo.

Realidade reconhecida por Eduardo dos Santos no seu primeiro discurso do Estado da Nação, a 15 de Outubro, perante a Assembleia Nacional, uma novidade resultante da revisão constitucional que reforça os poderes presidenciais. "O combate à fome e a luta pela redução e erradicação da pobreza (...) constituem dois dos maiores desafios que se colocam hoje ao Estado angolano", disse o Presidente. Este é o grande desafio a vencer hoje por Angola.
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