JORGE HEITOR – PÚBLICO – 01 dezembro 2010
Nos 50 anos da proclamação da independência
Jean-Bedel Bokassa, o ditador da República Centro-Africana que em 1976 se proclamou imperador e na coroação gastou um terço do Orçamento anual, foi hoje formalmente reabilitado por um decreto presidencial.
Num extraordinário volte-face por parte de um país cujos cofres delapidou, aquele que chegou a ser considerado o mais feroz ditador africano da década de 1970, ao qual só se poderia comparar o ugandês Idi Amin Dada, foi agora “reabilitado em todos os seus direitos” pelo actual Presidente da República, François Bozizé, que chegou ao poder em 2003, graças a uma rebelião.
Catorze anos depois de “Sua Majestade Imperial Salah Eddine Ahmed Bokassa” ter morrido, após ter sido derrubado em 1979, Bozizé achou por bem assinar um decreto a afirmar que ele foi “um filho da nação, reconhecido por todos como um grande construtor”.
Num discurso feito aos seus compatriotas, para assinalar os 50 anos de independência da antiga colónia francesa do Ubangui-Chari, que em 1960 passou a chamar-se República Centro-Africana, François Bozizé, que chegou a ser ajudante de campo do autoproclamado monarca, afirmou a dada altura: “Ele construiu o país, mas nós destruímos o que ele construiu”.
De acordo com o ponto de vista do actual detentor do poder, o homem que se coroou à imagem e semelhança de Napoleão Bonaparte “fez muito pela humanidade, ao participar ao lado da França na guerra do Vietname, de 1950 a 1953".
Na cerimónia de hoje, Bozizé não só condecorou a viúva de Bokassa, a antiga “imperatriz Catherine”, como a sua própria mulher, Monique Bozizé, e as esposas de dois outros antigos presidentes com uma medalha de honra daquele Estado do interior de África.
Durante os 14 anos em que esteve no poder, Jean-Bedel Bokassa mandou assassinar alguns dos seus adversários e foi até acusado de canibalismo, mas em Setembro de 1993, sete anos depois de ter regressado a Bangui, voltava a dar que falar, concedendo audiências fardado de marechal. E chegava a chamar o chefe do antigo coro da corte, para que entoasse o "hino imperial", como se o tempo não tivesse passado.
Nos tempos da sua desgraça, fechado no castelo francês de Hardricourt, durante o exílio, o antigo ditador ainda apelou em vão para alguns dos políticos internacionais com quem durante algum tempo convivera, tendo ficado conhecida uma sua mensagem ao Presidente Valery Giscard d’Estaing a perguntar se já não se lembrava daquela caixa de diamantes que um dia lhe tinha oferecido.
Foi tudo em vão, os velhos amigos europeus viraram-lhe as costas, a ele, que chegou a assinar uma carta como "imperador, marechal e apóstolo, servidor de Cristo". Mas hoje um dos antigos ajudantes de campo mostrou-se absolutamente grato à sua memória, “reabilitando-o em todos os seus direitos”. Mesmo que não se saiba muito bem o que é que isso quererá dizer.
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