quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A MORTE DO COMANDANTE GIKA FOI MUITO SENTIDA

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MEMÓRIA

BERNARDO CAPITA, Cabinda – JORNAL DE ANGOLA - 23 JANEIRO 2010

Dentro de duas semanas, Angola vai assinalar o 49º aniversário do início da luta armada de libertação nacional, a assinalar-se a 4 de Fevereiro. Para falar desses e de outros tempos, Jornal de Angola ouviu Mawete João Baptista, antigo companheiro de armas do Comandante Gika. O homem que é hoje governador de Cabinda conta a sua trajectória no processo de libertação nacional.

Mawete João Baptista fala das razões que o levaram a juntar-se aos seus compatriotas, que de armas na mão lutavam para libertar o país do jugo colonial. O exemplo dos combatentes de 4 de Fevereiro “foi determinante” para a sua adesão à luta de libertação nacional.

Mawete João Baptista diz que o momento que mais o marcou durante a sua trajectória como guerrilheiro foi quando viu tombar, em Cabinda, na unidade militar do Tchizo, em 1975, o seu companheiro Comandante Gika. “Esta batalha marcou-me profundamente porque perdemos um grande comandante e comissário político. Eu estava a escassos oito metros quando o Gika foi atingido”, recorda.

Depois da morte de Gika seguiu para Luanda e participou na batalha de Kifangondo. “Foi muito dura esta batalha”, disse Mawete João Baptista. “Tive um ferimento muito grave, parti a perna e em consequência disso fiquei internado no hospital um ano e fui operado sete vezes. Foi incrível e se até hoje vivo é porque Deus existe e o camarada Presidente Agostinho Neto tudo fez para salvar-me”, recorda o Comandante Mawete.

Apesar das dificuldades por que passou durante a guerrilha e a segunda guerra de libertação, Mawete João Baptista diz que se sente honrado por ter participado activamente no processo da luta de libertação nacional. “Sinto-me satisfeito ao ver Angola desenvolver-se. Com o dinheiro proveniente dos nossos recursos naturais, já temos estradas novas, hospitais, escolas, enfim, infra-estruturas que justificam os frutos da independência e o sangue derramado pelos nossos heróis”, disse Mawete João Baptista.

Guerrilha no Maiombe

A presença dos guerrilheiros do MPLA em pleno Maiombe, segundo Mawete João Baptista, foi determinante para disseminar o processo de luta de libertação nacional em toda a Angola e para o assalto final ao regime colonial fascista, que culminou com a independência de Angola em 11 de Novembro de 1975.

De acordo com o governador Mawete João Baptista, o Maiombe (II Região Político Militar do MPLA) foi um “laboratório” de quadros, não sendo por acaso que muitos desses combatentes eram enviados para outras zonas do país onde comandavam a luta armada, enquanto outros ficavam para desenvolver acções militares nesta parcela do território nacional.

“Vivemos durante muito tempo nas matas do Maiombe e não foi fácil, em consequência da densa floresta e pelo facto do exército colonial português ter utilizado a táctica de aliciar a população local no intuito desta denunciar as posições dos guerrilheiros do MPLA”.

Contribuição do povo

Para o sucesso da guerrilha desencadeada em Cabinda pelo MPLA contra o exército colonial português, visando a independência de Angola, foi determinante o apoio da população local, algo notório em todas frentes de combate.

Mawete João Baptista reconhece o valioso contributo prestado “pelas populações de Cabinda na clandestinidade”, consubstanciado na mobilização e consciencialização da população sobre os objectivos da luta de libertação nacional e da presença dos combatentes das FAPLA no Maiombe.

“A maioria da população apoiou-nos oferecendo-se como guias, em alimentação, em conselhos e em informações sobre a posição do inimigo”, sublinhou Mawete João Batista, acrescentando que sem esse apoio era extremamente difícil desencadear a luta armada em Cabinda.

Uma das pessoas que muito ajudou o MPLA durante a guerrilha na região de Belize (Maiombe) e que mereceu recentemente uma visita do governador Mawete João Baptista é o mais velho Toco, pai do vice-governador de Cabinda, Feliciano Toco.

O reencontro com o mais velho Toco foi, segundo Mawete João Baptista, um momento sublime, porque permitiu recordar as peripécias por que passou durante a guerrilha no Maiombe, para matar saudades e agradecer por tudo quanto esse mais velho fez em prol da luta de libertação nacional.

Guerra-fria

A luta diplomática desenvolvida pelo governador de Cabinda Mawete João Baptista nos países por onde passou como embaixador, Portugal, Espanha e República Democrática do Congo, ajudou a consolidar a independência nacional, porque muitos países usavam os seus lobbies externos para desacreditar o Governo angolano, disse Mawete João Baptista.

Segundo o governador de Cabinda, foi preciso muito trabalho para desfazer as pretensões dos inimigos externos de Angola, que utilizavam todas as tácticas possíveis para criar e apoiar conflitos armados no território nacional e colocar Angola no âmbito da luta Norte-Sul.

“Nós resistimos bem graças à nossa determinação e inteligência, apesar de muitos angolanos terem morrido, destruições de grandes infra-estruturas industriais, escolas, hospitais, pontes, estradas minadas, aeroportos bombardeados, enfim muitos obstáculos”, sublinhou Mawete João Baptista, para quem todos esses danos causados ao país foram protagonizados por aqueles que tentavam conquistar o mundo por via da guerra-fria.

“Não foi fácil desviar as atenções e o programa concebido contra Angola naquela altura, desde a Casa Branca, o Savimbi que ia buscar as armas à África do Sul”, frisou o nosso entrevistado.

Para Mawete João Baptista, tratou-se de uma fase decisiva em que Angola teve que se impor na arena das Nações Unidas e a nível interno para o Governo angolano resolver os seus próprios problemas. “Fruto dessa postura das autoridades angolanas, hoje o mundo já respeita o nosso país e inclusive muitos desses lobbies do tempo da guerra-fria já têm investimentos cá”.

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