segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

GBAGBO CONTRA-ATACA COM AMEAÇA DE GUERRA CIVIL

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ABEL COELHO DE MORAIS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Laurent Gbagbo garantiu ontem que a Costa do Marfim será confrontada com uma nova guerra civil e os interesses de cidadãos estrangeiros no país serão atacados, se se verificar uma intervenção militar internacional.

As declarações do líder marfinense, derrotado na segunda volta das presidenciais de 28 de Novembro, foram feitas no mesmo dia em que as autoridades do aeroporto de Basel-Mulhouse-Friburgo retiveram o avião privado de Gbagbo, "a pedido das autoridades legítimas" da Costa do Marfim, referiu um porta-voz da diplomacia francesa.

O aparelho encontrava-se ali para operações de manutenção. As autoridades legítimas de Abidjan, referidas pelo diplomata francês, são os partidários do vencedor da segunda volta das eleições, Alassane Ouattara, que se encontram instaladas num hotel da capital marfinense. Este encontra-se sob protecção de 800 efectivos do contingente da ONU no país. Por sua vez, os partidários de Gbagbo cercam o hotel e tentam impedir os movimentos da força da ONU, tendo-se registado já alguns incidentes.

As ameaças de Gbagbo foram explicitadas pelo seu porta-voz, Ahoua Don Mello, que indicou estarem em causa não só os cidadãos ocidentais como os naturais de países vizinhos, que trabalham na Costa do Marfim.

Na previsão de um agravamento do conflito, 14 mil pessoas já deixaram o país. A ONU estima que nos próximos dias outros tantos seguirão o mesmo caminho.

Provenientes da Libéria, Guiné, Mali, Burkina Faso e Gana, estima--se que sejam cerca de cinco milhões os naturais destes países activos na economia marfinense. Estes cinco Estados, mais Serra Leoa, Senegal, Nigéria, Niger, Togo, Guiné-Bissau, Gâmbia, Cabo Verde e Benim, além da Costa do Marfim, constituem a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) que amanhã envia um delegação de alto nível para contactos com Gbagbo e Ouattara (ver texto nesta pág.).

A CEDEAO reconheceu a vitória a Ouattara, assim como a ONU e a maioria da comunidade internacional. Numa reunião realizada sexta-feira em Abuja, Nigéria, a maioria dos membros daquela organização pronunciou-se a favor de uma intervenção armada para afastar Gbagbo, se este não abdicar do poder voluntariamente.

Formada pelos Presidentes de Cabo Verde, da Serra Leoa e do Benim, a delegação da CEDEAO é considerada a última oportunidade para Gbagbo rever a sua posição. Declarações do ministro do Interior do Governo do presidente derrotado dão a entender que a presença destes dirigentes não produzirá o resultado desejado.

"Vamos escutar a sua mensagem, sendo claro que para nós o respeito da nossa Constituição não é negociável", disse Emile Guiriéoulou. No mesmo sentido se pronunciara antes o porta-voz de Gbagbo, Don Mello, acusando de "delinquência política" os Estados que advogaram o recurso à força na reunião de Abuja.

O Governo angolano desmentiu, entretanto, a presença de nacionais deste país ao lado das forças de Gbagbo, que fora denunciada pelo responsável da missão da ONU, Alain Le Roy. Este, citando diplomatas em Abidjan, disse ter sido detectada a presença de mercenários liberianos e angolanos. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Luanda, Jorge Chicoty garantiu que o seu país "não tem qualquer interferência" na Costa do Marfim.
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