segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Luanda e Malange ligadas por comboio a 13 de Janeiro ao fim de 18 anos

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NOTÍCIAS LUSÓFONAS – 27 dezembro 2010

Os Caminhos-de-Ferro de Luanda (CFL), que ligam a capital angolana a Malange, foram hoje mais uma vez postos à prova antes da primeira viagem comercial prevista para Janeiro.

Com a maior parte dos seus 424 quilómetros interrompidos há 18 anos devido à guerra, os comboios do CFL vão abrir portas para passageiros e mercadorias a 13 de Janeiro, de acordo com a empresa.

A par dos Caminhos de Ferro de Benguela (CFB) e de Moçamedes (CFM), a linha que liga Luanda a Malange via Ndalatando, capital do Kwanza Norte, é considerada fulcral para desencravar o interior do país e é uma das grandes apostas do programa de reconstrução nacional iniciado após o fim da guerra, em 2002.

Nesta viagem, a segunda que os CFL fazem completa depois de vários anos de trabalhos para recuperar a linha e as estações ao longo do percurso, como a de Catete, Zenza do Itombe, ex-Bela Alta, Canhoca ou ainda Ndalatando, pretende-se verificar a operacionalidade da infra-estrutura para que a 13 de Janeiro seja feita a primeira viajem comercial.

Todas as estações, reconstruídas ao longo do percurso por empresas chinesas ao abrigo das linhas de crédito acordadas entre Pequim e Luanda, têm dois pisos e capacidade para albergar entre 200 a 500 pessoas.

Para além dos milhares de pessoas que os comboios vão transportar entre Luanda e Malange, as mercadorias são apontadas como tendo neste meio de transporte um novo impulso ao permitir que muitos produtos, nomeadamente agrícolas e agro-pecuários, cheguem do interior a Luanda mais rápido, ultrapassando os problemas que ainda subsistem no que toca ao armazenamento e conservação.

Também na área dos combustíveis a recuperação desta linha trouxe melhorias depois de a Sonangol ter criado três centros de armazenamento ao longo do percurso, sendo que também a distribuição de gasóleo e gasolina para o interior do país é um problema que persiste.

O CFL já tem mais de 100 anos, foi inaugurado em 1909 com uma extensão de 479 quilómetros, com alguns ramais que hoje já não existem nem foram recuperados nesta intervenção.

Um dos grandes problemas da administração dos CFL é a substituição do pessoal depois de a maior parte dos funcionários ter morrido ou abandonado o serviço com o desenrolar da guerra, bem como a substituição de todo o material, à exceção daquele em uso no troço entre Luanda e Viana, cerca de 20 quilómetros, que nunca deixou de estar operacional e foi modernizado nos últimos anos.

Um dos episódios que mais marcou esta linha durante o longo conflito armado em Angola, contribuindo decisivamente para a sua inutilização, foi o ataque em Zenza do Itombe, Kwanza Norte, atribuído aos guerrilheiros da UNITA, em 2001, onde morreram mais de 250 pessoas e centenas ficaram feridas.

Apesar de a UNITA afirmar que o comboio era um alvo militar por transportar armamento, sempre negado pelo Governo, neste ataque a generalidade das vítimas eram passageiros civis.

Para o sector dos caminhos-de-ferro em Angola, os próximos dois anos vão ser decisivos com a abertura em 2011 dos CFM e em 2012 da linha de Benguela, a única com ligação internacional e a mais longa e importante do país, ao ligar o porto do Lobito à República Democrática do Congo e para a qual está previsto um ramal à Zâmbia.

O Governo angolano já admitiu abrir a gestão dos caminhos-de-ferro, nas três linhas, a privados.
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