quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

BISPOS DE MOÇAMBIQUE PÕEM TODOS OS DEDOS NA FERIDA

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VOZ DA LUSOFONIA

Os bispos católicos moçambicanos alertaram hoje para o eventual regresso “muito forte ao monopartidarismo” em Moçambique, onde o tráfico de pessoas e órgãos humanos está a tornar-se “preocupante” e a vida da população “ainda está longe do mínimo desejável”.

Em comunicado divulgado hoje, a Conferência Episcopal refere, numa avaliação da situação de Moçambique, que “o dia-a-dia faz intuir uma tendência muito forte ao monopartidarismo no país”.

Os religiosos apelam aos políticos para que invertam o cenário e reconhecem que a revisão da Constituição (a decorrer em breve) é “um momento e um exercício delicado”.

“Acreditamos, no entanto, que a maturidade e a honestidade dos políticos prevaleçam e façam desse exercício uma oportunidade para Moçambique dar um verdadeiro exemplo de democracia”, diz o comunicado.

Porém, afirmam os prelados, “se houver alguma tentação para o contrário, que a amarga experiência do monopartidarismo no passado persuada todos os políticos a desistir dos seus maus intentos”.

Na nota, a Conferência Episcopal de Moçambique refere-se ainda a casos de tráficos de seres e órgãos humanos denunciados pela Igreja Católica em 2004 e 2005.

“Outros aspectos sociais muito preocupantes são o tráfico de seres e órgãos humanos. Quando a Igreja Católica, em 2004 e 2005, denunciou os primeiros casos conhecidos, muito se fez e muito se disse para afirmar que era falso e não faltou quem gostasse de ver a Igreja Católica no banco dos réus e punida, como boateira”, afirmam os bispos.

As primeiras denúncias de tráfico de pessoas e órgãos humanos em Moçambique foram feitos por uma missionária brasileira, então residente em Nampula: Elilda dos Santos.

A freira Elilda dos Santos, que deixou Moçambique alegando ter sido alvo de “vários métodos de pressão” por parte das autoridades moçambicanas, disse que possuía provas sobre a existência de tráfico internacional, mas nunca as apresentou publicamente.

“Hoje, a imprensa quotidiana está confirmando, com casos, um fenómeno de dimensão planetária”, consideram os bispos Católicos.

A Igreja Católica em Moçambique voltou a criticar o executivo de Maputo por alegadamente desrespeitar os direitos humanos ao admitir a implementação de megaprojectos “sem impacto imediato” ou resultado “negativo” na vida da população moçambicana.

No entanto, os bispos Católicos “saúdam e encorajam” o governo moçambicano pela “expansão da rede escolar, das unidades sanitárias e da rede eléctrica”.

“Saudamos e encorajamos a sua continuação. É notória a preocupação do Estado em melhorar as vias de comunicação (…) a reabilitação de pontes. São todos passos importantes, porque significam o alívio da pobreza e meio caminho andado rumo ao desenvolvimento”, diz o comunicado.

“Mas é de reconhecer que ainda estamos longe do mínimo desejável”, conclui.

Publicada por Orlando Castro
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