LUÍS FERNANDO* - O PAÍS
Esta foi, segundo todos os indícios, a semana em que tudo se compôs, finalmente, na relação pouco menos que incaracterística entre Angola e a África do Sul.
Pode ser que anos de um convívio sem calor e sem alma, mais por culpa dos irmãos a Sul do que propriamente como resultado de alguma falha do nosso lado, tenham dado lugar, agora, a um verdadeiro começo. O tal que já deveria ter sido há muito, mal o apartheid caiu esfrangalhado ao peso da História, justamente pelo facto de Angola, com a sua solidariedade regada com sangue e vidas, fazer parte desse empurrão libertador.
O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, fez a viagem que competia fazer, para corresponder aos sinais conciliadores emitidos em mais do que uma ocasião pelo Chefe de Estado sul africano, Jacob Zuma. Uma espécie de enterrar definitivo do tempo acinzentado que afastou por anos o clima bom de que os dois povos eram merecedores à luz do seu passado de entreajuda.
O golpe de diplomacia que faltava dar ficou dado e daqui para a frente, restará apenas constatar em que moldes e com quanta firmeza as declarações bem intencionadas dos dois líderes serão levadas à prática. Para já, os dois povos agradecem.
A visita está terminada e no ar ecoam, como rescaldo, os momentos de grande elevação política que podem ajudar a compreender os marcos do passado de relações que se quer suplantar e os do novo tempo que começa agora a ser trilhado. Um desses momentos foi a conferência de imprensa em Pretória, que teve frases e ideias seladas por José Eduardo dos Santos verdadeiramente elucidativas.
Esta foi, segundo todos os indícios, a semana em que tudo se compôs, finalmente, na relação pouco menos que incaracterística entre Angola e a África do Sul.
Pode ser que anos de um convívio sem calor e sem alma, mais por culpa dos irmãos a Sul do que propriamente como resultado de alguma falha do nosso lado, tenham dado lugar, agora, a um verdadeiro começo. O tal que já deveria ter sido há muito, mal o apartheid caiu esfrangalhado ao peso da História, justamente pelo facto de Angola, com a sua solidariedade regada com sangue e vidas, fazer parte desse empurrão libertador.
O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, fez a viagem que competia fazer, para corresponder aos sinais conciliadores emitidos em mais do que uma ocasião pelo Chefe de Estado sul africano, Jacob Zuma. Uma espécie de enterrar definitivo do tempo acinzentado que afastou por anos o clima bom de que os dois povos eram merecedores à luz do seu passado de entreajuda.
O golpe de diplomacia que faltava dar ficou dado e daqui para a frente, restará apenas constatar em que moldes e com quanta firmeza as declarações bem intencionadas dos dois líderes serão levadas à prática. Para já, os dois povos agradecem.
A visita está terminada e no ar ecoam, como rescaldo, os momentos de grande elevação política que podem ajudar a compreender os marcos do passado de relações que se quer suplantar e os do novo tempo que começa agora a ser trilhado. Um desses momentos foi a conferência de imprensa em Pretória, que teve frases e ideias seladas por José Eduardo dos Santos verdadeiramente elucidativas.
Que começou com uma declaração de grande franqueza, ao afirmar que não vê “nenhum problema para Angola em abrir-se com a África do Sul”.
O estadista angolano desfez receios, mitos e preconceitos de uma relação que a frieza herdada de outros obrigou Jacob Zuma a suplantar-se nas mostras de gratidão, mesmo sabendo-se, desde sempre, que na pessoa dele Angola e seu povo tinham um amigo. “Quando se é criança, aprendese com os mais velhos. Em África, aprende-se com os mais velhos e as crianças não têm medo dos mais velhos”. Assim falou, despido de tabus, o Presidente Eduardo dos Santos.
E foi mais longe: “Nós, colaborando com a África do Sul, vamos certamente evitar cometer erros que eles já cometeram no passado”.
“A África do Sul tem mais experiência em todos os domínios da organização do Estado, administração, economia, sector empresarial público e privado. Porquê não viver desta experiência?”, interrogou-se o Chefe de Estado angolano, ajudando a aplacar temores e reticências que sempre se colocaram do lado de cá, a diferentes níveis, o que também nunca contribuiu para o desejado clima de maior envolvimento nas relações com o gigante do Sul.
Os recados e as respostas foram para todos mas estiveram também em boa medida virados para dentro, pois desconfortos à parte pela ausência de gestos firmes de gratidão por parte dos poderes públicos da África do Sul, no interior de Angola não foram poucos, também, os anticorpos que se cristalizaram no sentido de uma relação não calorosa com Pretória.
Digamos que eles pelo seu descuido político-diplomático recorrente iniciaram a bronca mas não é menos certo que o caminho ficou aberto para que os rancorosos anichados deste lado agravassem o estado de semi crispação. O Presidente Dos Santos tinha de todos estes sentimentos uma leitura ajustada, pelo que a sua abertura nas palavras que deixou ditas em Pretória valeram para serenar muitas águas, não apenas as vizinhas do Cabo da Boa Esperança como também as do rio Kwanza.
“Angola vai, naturalmente, buscar fora do território valências que não tenha dentro. Se pode vir à África do Sul, por que não?”.
Como que para fechar, em definitivo, o clima de suspeições e reticências que nos impedia de avançar no aprofundamento dos vínculos que nos levaram a destruir, juntos, a besta racista.
*Director do jornal O País, passou pela direcção do Jornal de Angola e é autor de vários romances.
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