quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Progressivo processo de enquartelamento do Estado espanhol

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LAURA BOGALHO – DIÁRIO LIBERDADE, em opinião Outras vozes

Estes dias nos que o tema parece ser se fuma ou não fuma, se é proibido ou se não o é, se aqui ou acolá, há um mal-estar que trascende o puro acontecer.

Trata-se de promulgar a partir da administração que a cidadania exerça, usurpe, o papel de inspectora, denunciante e juíza. A Fácua, longe de cumprir um papel de defesa dos direitos das consumidoras/és e usuárias/os, erige-se como prócer deste proceder facilitando a denúncia anónima.

Parece que estou a ver Faherenheit 451 de Ray Bradbury, na qual os livros eram proibidos e que os tinha e/ou lia era denunciado num marco de correio de modo anónimo... Longe da diferença do tabaco e do livro, pois é evidente, sim encontro o paralelismo entre o fomento da administração de heterodenominar a cidadania como a valedora do legislado.

Neste momento em que as pessoas que analisam a situação que estamos a viver de modo consciente e crítico olhamos como o parecido da actualidade nos traz à frente o filme de Blade Runner dirigida por Ridley Scott. Nesta os blade runners dedicam-se a perseguir até a morte as/os replicantes, que são empregadas/os em trabalhos perigosos e como escravas/os. Tenho bem às claras que o legislador em matéria de imigração deve ser um grande entusiasta de corte neofascistoide deste filme.

O acontecido de militarizar o espaço aéreo do Estado espanhol é o ensaio de futuras acções da administração do Estado e é, certamente, um aviso a navegantes. Algumas e alguns de nós já estamos alerta, pois sabemos que temos os blade runner dia sim, e talvez dia também. Que estão desejosos de nos poderem aplicar as restrições que se aplicam aos livros perniciosos e inflamáveis de Fahrenheit 451. Que são as restrições dos direitos e liberdades das pessoas estrangeiras.

Mas voltando ao tabaco, as adminitrações do Estado e a galega claudicam do seu papel actuante em matéria de saúde pública, seria pensável que qualquer de nós estivéssemos dirigindo o trânsito, que qualquer de nós estivéssemos dando as autorizações e licenças de edificabilidade, seria pensável que qualquer de nós estivéssemos controlando o nível de acoolemia nas estradas e denunciando anonimamente?

Sei que é una cortina de fumo em primeira instância, com todas as agressões que as trabalhadoras e os trabalhadores estamos a receber, reforma após reforma vão-nos caindo as conquistas laborais de mínimo trinta anos atrás. Amador e Daniel!, berramos no 10 de Março, Dia da Classe Operária Galega, a luta contínua.

Mas atrás desse fumo há lume, está o lume que aguarda por todas as dissidências e modos e modelos de viver as nossas vidas a partir da nossa soberania. Não se trata só de sermos mais, trata-se de, sendo mais, sermos conscientes do desenho constrictor das nossas vidas individuais e colectivas, como pessoas, grupo e Nação. E, uma vez mais, assisto com raiva evidente a este progressivo aquartelamento do Estado espanhol, e desejo com tanta ânsia sair e berrar: por nós, por nós, não passarão!!
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