quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

PORTUGAL SOB PRESSÃO

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O PAÍS (angola) – 06 janeiro 2011

O economista-chefe do Deutsche Bank advoga que Portugal recorra ao fundo europeu e ao FMI, desvalorizando o impacto dos planos de austeridade lusos.

O economista-chefe do Deutsche Bank, Thomas Mayer, em entrevista publicada na edição do passado domingo do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, disse que não se admiraria se, nos próximos tempos, Portugal fosse obrigado a solicitar a ajuda do fundo europeu. Segundo o responsável do Deutsche seria bom que o país fizesse isso rapidamente face ao montante da sua dívida. "Nalgum momento, isso será necessário", acrescentou. Registe-se que a dívida bruta portuguesa já excede os € 500 mil milhões, ou seja, três vezes o PIB do país e que os juros a pagar consomem mais de 7% do produto interno. FMI. Em 2011, Portugal vai ter que refinanciar € 27 mil milhões da sua dívida de longo prazo. A Fitch, que desceu já a notação de rating do país em um nível considera que será muito difícil que Portugal venha a conseguir o financiamento da dívida nos mercados durante o próximo ano, sem ter que recorrer ao Fundo de Estabilização Financeira, da União Europeia, o que conduziria a um programa de ajustes sob coordenação do FMI.

Assinale-se que as autoridades lusas vêm tentando que a China aceite entrar com € 5 mil milhões. Além de reforçar a posição política do país ao ajudar a evitar uma intervenção do FMI, as taxas de juro pagas por Portugal são superiores às que o país conseguiria se aplicasse em títulos de dívida americana.

Também Timor Leste também ofereceu a possibilidade de investir uma parte do fundo soberano obtido com a venda de concessões de petróleo em títulos da dívida portuguesa. Segundo o presidente timorense José Ramos Horta, o país estaria disposto a investir até € 350 milhões em papéis de Portugal. De referir ainda que o Brasil mostrou-se, de igual modo, disponível para acorrer à difícil situação portuguesa. Só não se sabe bem como.

Os sucessivos programas de austeridade adoptados pelo governo português, o último dos quais com reduções salariais na função pública, restrições nas pensões e nos subsídios de desemprego e prestações sociais, bem como aumento da carga fiscal parecem não ser suficientes para convencer os credores do país e os mercados. Para Thomas Mayer "estes países têm um problema de credibilidade", acrescentando que um programa de redução da despesa leva tempo até se perceber se funciona.

Neste quadro, afirma, "os mercados ficam cépticos"Em contrapartida, Mayer considera que Espanha, Itália e Bélgica estão em melhor posição e não necessitam para já de ajuda externa para reequilibrar o seu défice.

A desconfiança em relação à Espanha é exagerada, considera Mayer: "A situação deste país do sul da Europa é bem melhor do que as da Grécia, da Irlanda ou de Portugal". Mas se, mesmo assim, Madrid tiver de pedir ajuda ao fundo da UE, os especuladores logo se voltarão contra o próximo país, teme Mayer.

Segundo economista-chefe do Deutsche é provável que o Banco Central Europeu (BCE) tenha de intervir com a compra de obrigações e assim se torne o "bad bank" europeu, numa alusão a bancos que adquirem títulos problemáticos.

"Esta seria uma enorme carga para o Banco Central Europeu", advertiu. Mayer acredita que a crise do euro vai prosseguir em 2011, pelo menos no primeiro trimestre.

Não é a primeira vez que o porta-voz do maior banco alemão, que tem sede em Frankfurt e presença em 72 países, alude à necessidade de Portugal recorrer ao fundo europeu e ao FMI. Há um mês, em entrevista também ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, Mayer já tinha dito que os mercados consideram Portugal como o próximo alvo, depois da Irlanda, afirmando ainda que a situação portuguesa se assemelha à da Grécia.

Segundo o FMI, baseado nos testes de stress dos bancos, a dívida soberana de Portugal está sobretudo nas mãos dos bancos espanhóis, que detêm € 6,5 mil milhões em títulos, seguindo-se a Alemanha com € 6,3 mil milhões e a França com € 4,6 mil milhões.
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