quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ÁFRICA E A EXPANSÃO DAS "REVOLUÇÕES COLORIDAS"

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MARTINHO JÚNIOR

Cumpridas que foram as fases decisivas das “missões Open Society” na Europa do Leste saída da derrocada do Socialismo, no Cáucaso com a “pérola” da Geórgia e na Ásia Central, com o Quirguistão, a “agenda comum” de James Baker e George Soros contribuiu para as correcções que foram feitas pela própria administração de George Bush filho, a tempo de alterar profundamente os conceitos e a configuração estrutural da Administração Democrata de Barack Hussein Obama e com isso levar as “revoluções coloridas” a outras paragens, com África na primeira linha das “novas estratégias de tensão”. (1)

As despesas militares são insuportáveis se levadas ao limite, pelo que uma estratégia de proliferação de tensões com vista a perpetuar a lógica capitalista se tornou imprescindível, até pelos muito mais baixos custos que implicam para os mecanismos do “poder global” e por que as agendas com o rótulo da paz (que contribuem para esconder as “estratégias de tensão”) são sempre consideravelmente mais atractivas e engenhosas do que as que comportam o poderoso músculo militar Norte Americano e de seus aliados (OTAN, ANZUS, etc.). (2)

No momento em que os “ditadores” identificados por esse sistema de ideias e de práticas como “residuais” foram paulatinamente sendo desalojados do poder dos respectivos Estados na Europa do Leste, no Cáucaso e na Ásia Central, sobram agora “ditadores” noutras paragens e África é por essa razão um campo fértil de manobra, até por que as suas “novas elites” foram projectadas de feição, conforme fiz radiografia em “Jogos Africanos de George Soros” no que diz respeito a Angola. (3)

A proliferação de pseudo-revoluções estimula a “sublimação” do sistema de gestação das “democracias representativas”, um mito de democracia que o núcleo duro da aristocracia financeira mundial quer fazer preservar, para melhor se abrirem as sociedades ao capital que impulsiona a globalização à custa dos povos.

As geo estratégias funcionais tendo como interesse profundo o petróleo, o gás e as rotas de transporte em terra (oleadutos e gasodutos) e no mar (petroleiros), geo estratégias que são a raiz e a força motriz do que se articula na superestrutura dos conceitos filosóficos-ideológicos, até aos impactos recriados nas ordens social, sociológica e psicológica, continuam a ser determinantes para as opções da aristocracia financeira mundial, no quadro dos seus interesses energéticos, minerais, financeiros e sistemas de relacionamento no quadro do modelo de globalização que se expande no século XXI.

Isso é tanto mais crítico quanto o pico petrolífero para muitos foi alcançado e a partir de agora ocorrerá o declive na produção global e o fim do tipo de sociedade que vem sendo construída desde o fim da Iª Guerra Mundial. (4)

As Administrações Republicana de George Bush (última fase de actuação) e agora do Democrata Barack Hussein Obama, refinaram os parâmetros dum “novo conceito” assim como dum “novo modelo de actuação” com base nas “oportunas” críticas do tandem James Baker – George Soros em 2003 (por mim evidenciadas no nº 376 do Actual há quase oito anos).

James Baker aliás mantém toda a fluência do seu argumento, que está perfeitamente adequado à Administração Democrata de Barack Hussein Obama:

A obstinação de Hosni Mubarak em não produzir reformas no seu regime, é insuportável à manutenção do encadeado dos interesses da poderosa oligarquia Norte Americana no Egipto, no Norte de África e no Médio Oriente, pelo que a produção, no quadro duma “democracia representativa” dum projecto sustentável de opções alternativas mas controláveis pelo império passou a ter prioridade. (5)

O discurso do Presidente Barack Hussein Obama no Cairo a 4 de Junho de 2009, é completamente coerente com as opções que de há muito vêm sendo preconizadas por James Baker e George Soros, em plataformas distintas e com distintas capacidades de manipulação e manobra: (6)

“So long as our relationship is defined by our differences, we will empower those who sow hatred rather than peace, those who promote conflict rather than the cooperation that can help all of our people achieve justice and prosperity. And this cycle of suspicion and discord must end.

I've come here to Cairo to seek a new beginning between the United States and Muslims around the world, one based on mutual interest and mutual respect, and one based upon the truth that America and Islam are not exclusive and need not be in competition. Instead, they overlap, and share common principles -- principles of justice and progress; tolerance and the dignity of all human beings”…

O eminente analista Michel Chossudovsky no Global Research evidenciou em relação ao Egipto o comportamento da Administração Democrata de Barack Hussein Obama, com todo o arsenal de “vasos comunicantes” disponíveis: (7)

O National Endowment for Democracy (NED), o Freedom House (FH), o International Center for non-Violent Conflict e o “sempre renovado” Council on Foreign Relations (CFR), são algumas das plataformas ideais de manipulação dialéctica, pela via das quais em “terrenos” como a Tunísia, o Egipto e o que mais adiante se verá, se apeiem fantoches fieis ao ocidente em nome da “democracia representativa” e para que com isso seja possível a manutenção dum capitalismo prudente que por um lado não ponha em causa as monarquias Árabes, principalmente as da península Arábica, um pouco à custa do continente que cujas elites se apresentam extremamente vulneráveis a esse tipo de conjunturas: África.

Foi a Administração Republicana de George Bush que criou a “experiência” do AFRICOM, com a aplicação dos conceitos formulados a partir das experiências comuns e das críticas de James Baker e George Soros e ao mesmo tempo propiciou ao seu sucessor na Casa Branca o actual quadro de desenvolvimentos em África, Tunísia e Egipto incluídos.

No Iémen, no sul da península Arábica, um quadro similar expande-se num território privilegiado no que diz respeito à sua posição geográfica estratégica em relação à rota dos petroleiros que circulam pelo Suez, ou dos grandes petroleiros que dão a volta pelo Cabo da Boa Esperança. (8)

No caso do Egipto, uma das organizações envolvidas na manobra com impacto “no terreno” é aquela que é composta pelos activistas do “Movimento Kifaya”, um movimento que, à imagem e semelhança do “Pora” na Ucrânia, o “Kmara” na Geórgia e o “Basta” do recém formado Bloco Democrático em Angola integra a revolta favorável à saída de Hosni Mubarak do poder, modelando a contento o que se lhe seguirá.

A incorporação no AFRICOM de componentes “civis”, articulando-se suas acções com as do Departamento de Estado e de outras agências governamentais dos Estados Unidos, possibilita capacidades de intervenção adicionais apropriadas, reforçando as estruturas tradicionais de ingerência dos Estados Unidos e de seus aliados da OTAN em África. (9)

As “estratégias de tensões” com vista à proliferação de ameaças por parte da OTAN por seu turno é o sinal do entrosamento da Europa à iniciativa do império para com África. (10)

O Uganda e o Ruanda desempenham nos Grandes Lagos, que é preciso não esquecer é onde se situam as nascentes do Nilo, o nó do impacto dos contenciosos de feição imperialista no continente africano, com irradiações visíveis sobretudo para leste (Somália – Iémen), para norte (Sudão) e para oeste (RDC-Angola).

Em Angola a situação de Cabinda continua e continuará a ser um engodo para as múltiplas e subtilmente encadeadas “estratégias de tensões”, que se desenrolam com intensidade e publicidade variável, desviando a atenção dos africanos das prioridades que deveriam encontrar no âmbito da luta contra o subdesenvolvimento, a miséria, a fome e a doença e amarrando África aos contenciosos artificiais estimulados pela Conferência de Berlim em finais do século XIX e a tratados ou convenções internacionais caucionados pelo colonialismo.

Para África, do ocidente dominado pelo império anglo-saxão nada de novo se espera: as manipulações e as ingerências obstruem os esforços para o aprofundamento da democracia, impedindo pela via da “representatividade” a participação cidadã, ao mesmo tempo que tornam anémicos os esforços no quadro dum desenvolvimento sustentável garante de equilíbrio, de justiça e de urgente paz social.

Resquícios de colonialismo visíveis por exemplo no caso dos “defensores” da “independência Kosovar” de Cabinda, são repescados do passado, em reforço da tese neo colonial e do modelo de globalização em curso.

Em Angola isso acontece 50 anos depois do início da luta armada e obstruindo a energia com sentido de vida que advém do movimento de libertação! (11)

Martinho Júnior - 4 de Fevereiro de 2011

Notas:
- (1) – Revoluções coloridas – Wikipedia –
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%B5es_coloridas ; Os segredos internacionais por detrás da “revolução do ódio” no Brasil – Mauro Carrara – Redecastorphoto – http://redecastorphoto.blogspot.com/2010/10/os-segredos-internacionais-por-tras-da.html ; A não violência: o mito e as realidades – Rede Voltaire – http://www.voltairenet.org/article164377.html ; L’Albert Einstein Institution: la non violence version CIA – Thierry Meyssan – http://www.voltairenet.org/article15870.html ; Impérialistes de droit et impérialistes de gauche – Thierry Meyssan – http://www.voltairenet.org/article157902.html ; A estratégia da tensão – o terrorismo não reivindicado da OTAN – Sílvia Cattori – PCB – http://www.pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2273:a-estrategia-de-tensao-o-terrorismo-nao-reinvidicado-da-otan&catid=43:imperialismo ; Quando o parlamento europeu condenou a NATO por terrorismo – A Comuna – Carlos Vieira – http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/2836-quando-o-parlamento-europeu-condenou-a-nato-por-terrorismo
- (2) – Deter a máquina de guerra imperialista e alcançar a paz – Augusto Buonicori –
http://www.espacoacademico.com.br/021/21cbuonicore.htm ; O triângulo imperial norte americano e os gastos militares – John Bellamy Foster, Hannah Holleman e Robert W. M – Fundação Maurício Grabois – http://fmauriciograbois.org.br/portal/revista.int.php?id_sessao=9&id_publicacao=123&id_indice=456 ; China torna-se segundo país que mais gasta em armas – Estadão – http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,china-torna-se-segundo-pais-que-mais-gasta-em-armas,384173,0.htm
- (3) – Jogos africanos de George Soros – Martinho Júnior – Página Um Blogspot –
http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/blog-post_26.html
- (4) – Pico do petróleo – Wikipedia –
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pico_do_Petr%C3%B3leo ; O despertar oficial para o pico petrolífero – Chris Nelder – Resistir Info – http://resistir.info/peak_oil/nelder_02abr10.html ; Pico petrolífero, o pano de fundo da crise egípcia – http://diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=11676:pico-petrolifero-o-pano-de-fundo-da-crise-egipcia&catid=247:batalha-de-ideias&Itemid=156
- (5) – Egypt: a “textbook”Foreign Policy Dilema- James Baker – CFR –
http://www.cfr.org/africa/egypt-textbook-foreign-policy-dilemma/p23984
- (6) – Obama’s speech in Cairo, June 2009 – CFR –
http://www.cfr.org/world/obamas-speech-cairo-egypt-june-2009/p19564
- (7) – O movimento de protesto no Egipto: ditadores não ditam, obedecem ordens – Michel Chossudovsky – Resistir Info – http://resistir.info/chossudovsky/egipto_29jan11.html
- (8) – New protests erupt in Yemen – Aljazeera –
http://english.aljazeera.net/news/middleeast/2011/01/2011129112626339573.html ; Anti-government rallies hit Yemen – Aljazeera – http://english.aljazeera.net/news/middleeast/2011/01/2011127100660857.html ; Protests in Yemen – BBC – http://www.bbc.co.uk/blogs/worldhaveyoursay/2011/01/protests_in_yemen.html
- (9) – AFRICOM’s Ward testifies before Senate Armed service Committee –
http://www.hoa.africom.mil/getArticle.asp?art=4148 ; U.S. Can Offer 'Continental' Approach to African Security, Pentagon Official Says – http://www.africom.mil/getArticle.asp?art=1542&lang=0 ; NATO: AFRICOM's partner in penetrating Africa – Rick Rozoff – Third World Traveler – http://www.thirdworldtraveler.com/NATO/NATO_AFRICOM_Africa.html ; USAFRICOMMMAND Fact Sheet – http://www.africom.mil/fetchBinary.asp?pdfID=20101109171627
- (10) – A estratégia de tensão: o terrorismo não reivindicado da NATO – Sílvia Cattori – O Diário Info –
http://www.odiario.info/?p=1924 ; Quando o Parlamento Europeu condenou a NATO por terrorismo – A Comuna – http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/2836-quando-o-parlamento-europeu-condenou-a-nato-por-terrorismo ; O triângulo imperial norte americano e os gastos militares – John Bellamy Forster, Hannah Holleman e Robert W. M. – http://fmauriciograbois.org.br/portal/revista.int.php?id_sessao=9&id_publicacao=123&id_indice=456
- (11) – Reafirmado compromisso com fortalecimento da democracia – ANGOP –
http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2011/1/5/Executivo-reafirma-compromisso-com-fortalecimento-democracia,62019470-546d-4506-9598-b3c82d12898c.html
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