As coisas têm de mudar para que tudo fique na mesma
Paul Craig Roberts* - O Diário Info - Outros autores
O currículo de Paul Craigs Roberts, secretário adjunto do Tesouro da administração de Ronald Reagen e editor do Wall Street Journal, afasta qualquer intenção escondida à conclusão deste seu texto: “A política do governo dos EUA de maximizar os deficits orçamental e comercial e a política da Reserva Federal de monetarizar o deficit orçamental e os fraudulentos activos em papel dos grandes bancos, fazem com que o dólar caminhe para o seu desaparecimento. À medida que cresce a impressão de dólares diminui o seu valor. Talvez não esteja longe o dia em que os governantes deixem de vender os seus povos a troco de dinheiro estadunidense.”
A hipocrisia do governo dos EUA foi mais uma vez irrefutavelmente demonstrada. O governo dos EUA invadiu o Iraque e o Afeganistão, arrasou grande parte desses países, aldeias inteiras e cidades, e massacrou um elevadíssimo número de civis para «levar a democracia» ao Iraque e ao Afeganistão. Agora, depois de os egípcios terem estado dias inteiros nas ruas a exigir que «Mubarak se vá» [1], o governo dos EUA mantém-se alinhado com o seu governo títere egípcio, inclusivamente sugerindo que Mubarak depois de dirigir um Estado policial durante três décadas, é a pessoa apropriada para implementar a democracia no Egipto.
Em 30 de Janeiro, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, declarou que os EUA da «liberdade e da democracia» não procuram nem apoiam o derrube do ditador egípcio. Primeiro-ministro israelense, Netanyahu, disse aos Estados Unidos e à Europa que há que limitar as críticas a Mubarak, a fim de «preservar a estabilidade na região».
Quando Netanyahu diz «estabilidade» quer dizer a ilimitada capacidade de Israel continuar a oprimir os palestinos e a roubar o seu país. Mubarak foi ao longo de três décadas o mais bem pago agente dos EUA e de Israel, isolando a Faixa de Gaza do resto do mundo e impedindo que a ajuda flua através da fronteira egípcia: Mubarak e a sua família tornaram-se milionários graças ao contribuinte estadunidense, e o governo dos EUA, republicanos ou democratas tanto faz, não quer perder o seu vultuoso investimento em Mubarak.
Há já muito tempo que o governo dos EUA corrompeu governos árabes, pagando aos governantes instalados para representarem os interesses estadunidenses e israelenses em vez dos interesses dos povos árabes. Os árabes aguentaram a opressão financiada pelos EUA durante muitos anos, mas agora mostram sinais de rebelião.
O ditador assassino da Tunísia, aí instalado pelos EUA, foi derrotado pelas pessoas que saíram para as ruas. A rebelião alargou-se ao Egipto e também há protestos nas ruas contra os governantes apoiados pelos EUA no Iémen e na Jordânia.
Estes levantamentos poderão ter êxito e derrubar os governantes títeres, mas será o seu resultado mais do que a substituição de um governante títere dos EUA por um outro novo títere? Mubarak poderá partir, mas qualquer outro que ocupe o seu lugar, provavelmente virá preso pelo mesmo arganéu estadunidense.
O que os ditadores fazem é eliminar a alternativa na liderança. Os dirigentes potenciais são assassinados, exilados ou presos. Além disso, tudo o que não seja uma revolução genuína, como a iraniana, deixa no seu lugar uma burocracia acostumada a que as coisas continuem na mesma. O Egipto e os militares deste país acostumaram-se ao apoio dos EUA e querem que o dinheiro continue a fluir. O fluxo desse dinheiro é o que assegura a compra do governo do turno que se segue.
Como o dólar estadunidense é a moeda de reserva do mundo, o governo estadunidense tem o domínio financeiro e a capacidade de isolar economicamente os outros países, como acontece com o Irão. Para se libertar do controlo dos EUA teria que suceder uma de duas coisas: a revolução teria que se estender pelo mundo árabe e daí resultar uma unidade económica que fomentasse o desenvolvimento autóctone, ou o dólar dos EUA fracassar como moeda de reserva mundial.
A falta de unidade árabe foi desde sempre o meio pelo qual os países ocidentais dominaram o Médio Oriente. Sem essa desunião, Israel e os EUA não poderiam abusar dos palestinos da forma como o fazem, e sem essa desunião os EUA não poderiam ter invadido o Iraque. É pouco provável que, de repente, os árabes se unam.
O colapso do dólar é mais provável. A política do governo dos EUA de maximizar os deficits orçamental e comercial e a política da Reserva Federal de monetarizar o deficit orçamental e os fraudulentos activos em papel dos grandes bancos, fazem com que o dólar caminhe para o seu desaparecimento.
À medida que cresce a impressão de dólares diminui o seu valor. Talvez não esteja longe o dia em que os governantes deixem de vender os seus povos a troco de dinheiro estadunidense.
Nota do Tradutor:
[1] Alusão à frase que dominou a revolta contra os governos e os políticos neoliberais argentinos em 2001: «que se vayan todos»
* Paul Craig Roberts foi secretário adjunto do Tesouro da administração de Ronald Reagen e editor do Wall Street Journal
Este texto foi publicado em www.counterpunch.org/roberts02012011.html
Tradução de José Paulo Gascão
Paul Craig Roberts* - O Diário Info - Outros autores
O currículo de Paul Craigs Roberts, secretário adjunto do Tesouro da administração de Ronald Reagen e editor do Wall Street Journal, afasta qualquer intenção escondida à conclusão deste seu texto: “A política do governo dos EUA de maximizar os deficits orçamental e comercial e a política da Reserva Federal de monetarizar o deficit orçamental e os fraudulentos activos em papel dos grandes bancos, fazem com que o dólar caminhe para o seu desaparecimento. À medida que cresce a impressão de dólares diminui o seu valor. Talvez não esteja longe o dia em que os governantes deixem de vender os seus povos a troco de dinheiro estadunidense.”
A hipocrisia do governo dos EUA foi mais uma vez irrefutavelmente demonstrada. O governo dos EUA invadiu o Iraque e o Afeganistão, arrasou grande parte desses países, aldeias inteiras e cidades, e massacrou um elevadíssimo número de civis para «levar a democracia» ao Iraque e ao Afeganistão. Agora, depois de os egípcios terem estado dias inteiros nas ruas a exigir que «Mubarak se vá» [1], o governo dos EUA mantém-se alinhado com o seu governo títere egípcio, inclusivamente sugerindo que Mubarak depois de dirigir um Estado policial durante três décadas, é a pessoa apropriada para implementar a democracia no Egipto.
Em 30 de Janeiro, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, declarou que os EUA da «liberdade e da democracia» não procuram nem apoiam o derrube do ditador egípcio. Primeiro-ministro israelense, Netanyahu, disse aos Estados Unidos e à Europa que há que limitar as críticas a Mubarak, a fim de «preservar a estabilidade na região».
Quando Netanyahu diz «estabilidade» quer dizer a ilimitada capacidade de Israel continuar a oprimir os palestinos e a roubar o seu país. Mubarak foi ao longo de três décadas o mais bem pago agente dos EUA e de Israel, isolando a Faixa de Gaza do resto do mundo e impedindo que a ajuda flua através da fronteira egípcia: Mubarak e a sua família tornaram-se milionários graças ao contribuinte estadunidense, e o governo dos EUA, republicanos ou democratas tanto faz, não quer perder o seu vultuoso investimento em Mubarak.
Há já muito tempo que o governo dos EUA corrompeu governos árabes, pagando aos governantes instalados para representarem os interesses estadunidenses e israelenses em vez dos interesses dos povos árabes. Os árabes aguentaram a opressão financiada pelos EUA durante muitos anos, mas agora mostram sinais de rebelião.
O ditador assassino da Tunísia, aí instalado pelos EUA, foi derrotado pelas pessoas que saíram para as ruas. A rebelião alargou-se ao Egipto e também há protestos nas ruas contra os governantes apoiados pelos EUA no Iémen e na Jordânia.
Estes levantamentos poderão ter êxito e derrubar os governantes títeres, mas será o seu resultado mais do que a substituição de um governante títere dos EUA por um outro novo títere? Mubarak poderá partir, mas qualquer outro que ocupe o seu lugar, provavelmente virá preso pelo mesmo arganéu estadunidense.
O que os ditadores fazem é eliminar a alternativa na liderança. Os dirigentes potenciais são assassinados, exilados ou presos. Além disso, tudo o que não seja uma revolução genuína, como a iraniana, deixa no seu lugar uma burocracia acostumada a que as coisas continuem na mesma. O Egipto e os militares deste país acostumaram-se ao apoio dos EUA e querem que o dinheiro continue a fluir. O fluxo desse dinheiro é o que assegura a compra do governo do turno que se segue.
Como o dólar estadunidense é a moeda de reserva do mundo, o governo estadunidense tem o domínio financeiro e a capacidade de isolar economicamente os outros países, como acontece com o Irão. Para se libertar do controlo dos EUA teria que suceder uma de duas coisas: a revolução teria que se estender pelo mundo árabe e daí resultar uma unidade económica que fomentasse o desenvolvimento autóctone, ou o dólar dos EUA fracassar como moeda de reserva mundial.
A falta de unidade árabe foi desde sempre o meio pelo qual os países ocidentais dominaram o Médio Oriente. Sem essa desunião, Israel e os EUA não poderiam abusar dos palestinos da forma como o fazem, e sem essa desunião os EUA não poderiam ter invadido o Iraque. É pouco provável que, de repente, os árabes se unam.
O colapso do dólar é mais provável. A política do governo dos EUA de maximizar os deficits orçamental e comercial e a política da Reserva Federal de monetarizar o deficit orçamental e os fraudulentos activos em papel dos grandes bancos, fazem com que o dólar caminhe para o seu desaparecimento.
À medida que cresce a impressão de dólares diminui o seu valor. Talvez não esteja longe o dia em que os governantes deixem de vender os seus povos a troco de dinheiro estadunidense.
Nota do Tradutor:
[1] Alusão à frase que dominou a revolta contra os governos e os políticos neoliberais argentinos em 2001: «que se vayan todos»
* Paul Craig Roberts foi secretário adjunto do Tesouro da administração de Ronald Reagen e editor do Wall Street Journal
Este texto foi publicado em www.counterpunch.org/roberts02012011.html
Tradução de José Paulo Gascão
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