quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Na colónia de Cabinda, militares mostram a razão da força...

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... e esquecem a força da razão!
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ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

A rapaziada do regime angolano anda nervosa. Com o pretexto de analisar a imigração ilegal e o terrorismo, deslocou para a sua colónia da Cabinda os oficiais do exército. É mais uma tentativa de mostrar que a razão da força (do MPLA) vale mais do que a força da razão (do Povo).

O encontro dos militares angolanos decorre na sala de conferências do quartel general da Região Militar Cabinda e conta com a participação dos comandantes de todas as regiões militares do país, dos chefes das direcções e órgãos e serviços do Exército Nacional... de Angola.

Pelo sim e pelo não, o chefe do Estado-Maior do Exército, general Lúcio Amaral, lembrou, no discurso de abertura (segundo escreve o órgão oficial do regime, o Jornal de Angola), que a imigração ilegal e o terrorismo são grandes preocupações dos Estados africanos.

A questão da imigração ilegal é de facto relevante, sobretudo considerando a extensão fronteiriça de Angola, mas o cerne desta reunião tem apenas um ponto fulcral: FLEC.

Como não poderia deixar de ser, o Chefe do Estado-Maior do Exército reafirmou a necessidade de se estruturar bem o Sistema Nacional de Segurança, prestando vassalagem pública ao Presidente da República (não eleito e há 31 anos no poder) e Comandante em Chefe das FAA, José Eduardo dos Santos.

O Chefe do Estado-Maior do Exército, como não podia deixar de ser, enalteceu também o papel da Região Militar angolana em Cabinda que, segundo as suas palavras, se tem destacado no combate aos grupos armados da FLEC e pelos esforços empreendidos na pacificação do que diz ser uma parcela do território nacional.

Recordo-me, aliás, de ter em tempos ouvido o homólogo indonésio do general Lúcio Amaral dizer algo semelhante, só que falando da FRETILIN e não da FLEC, de Timor-Leste e não de Cabinda.

Assim, segundo o regime angolano, a FLEC é uma organização terrorista tal como, durante muito tempo, durante a guerra colonial, foi considerado o MPLA. Não está mal. Mas isso não conta para quem é dono de Angola.

Se, como acontece no caso de Cabinda, o regime angolano só aceita dialogar com aqueles que estão de acordo, que outra solução haverá que não passe pela linguagem das armas?

Recorde-se, entretanto, que nos Acordos de Alvor, Portugal afastou a FLEC de qualquer discussão do caso de Cabinda, dando como adquirido que o protectorado português era parte de Angola.

Nessa altura, entre outros, estavam de joelhos perante o MPLA algumas figuras políticas portuguesas importantes, caso de Almaida Santos e Mário Soares.

Angola esquece-se que por muita que seja a presença militar, por muitos que sejam os presos, por muitos que sejam os mortos, por muita que seja a violência, por muitos que sejam os poços de petróleo, os cabindas só serão derrotados se deixarem de lutar.

Ora, não creio que alguma vez os cabindas deixem de lutar. Desde logo porque – como disse o padre Casimiro Congo - só aceitam estar de joelhos perante Deus. Perante os homens, mesmo que armados até aos dentes, estarão sempre de pé.

E se os cabindas estarão sempre de pé, os responsáveis portugueses pelo que se passou e passa em Cabinda continuam de cócoras perante o regime colonial de Angola. Aliás, essa posição até deve ser cómoda, sobretudo porque os governantes portugueses têm coluna vertebral amovível.

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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