sábado, 12 de fevereiro de 2011

Portugal – QUE SOCIALISMO NO PS?

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BAPTISTA BASTOS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

Segundo ouvi dizer, o PS vai promover um congresso, lá para os adiantes de Março. É uma ideia magna. Mas não deixa de cravar, nos espíritos amenos, uma estilha de dúvida e desassossego. Que vai o PS discutir? O "socialismo moderno", cujos resultados foram um roteiro calamitoso? E ainda existem socialistas, numa agremiação que liquidou a memória histórica para ceder aos caprichos do tempo e às imposições do "pragmatismo"? Que PS deseja o PS ser?, se é que deseja ser alguma coisa que não essa massa amorfa, convencional e reaccionária, perseguidora dos que não alimentam as ideias transeuntes?

Com rigor, deixou, há muito, de ser socialista, de alimentar e estimular a ideia socialista, incapaz de reagir ao desmoronamento da União Soviética, sem saber enfrentar e combater, ideológica e politicamente, as pressões de um capitalismo cada vez mais feroz e devastador.

Olhamos aquela galeria de rostos alinhados nas bancadas e estremecemos de pavor. Nem uma ideia, nem o bafo morno de um pensamento activo que permitissem uma esperança, um alívio mental. Apercebemo-nos de que é uma gente ausente de leituras, obediente à cartilha, que forma o que vai dizer nos comentadores do óbvio, compatíveis com as práticas do instante. Quando, nas contas pós-eleitorais, ficamos a saber que 70 por cento daqueles "socialistas" preferiram votar em todos menos em Manuel Alegre, a indignação torna-se numa violenta náusea.

Não creio que esta questão vá estar na ordem dos trabalhos. Nem o caso Manuel Maria Carrilho, removido do lugar de embaixador por ser recalcitrante. E muito menos, claro!, o aberrante assunto de um tal Correia de Campos, o qual admitiu escolher a "estabilidade" configurada no dr. Cavaco aos fundamentos morais propostos pelo candidato apoiado pelo PS.

O poder, não a ideologia; o mando, o ascendente, o domínio e não a causa pública, são os motores que movem o PS. Há trinta e tantos anos que tudo é assim. Vai-se para o PS como quem garante um emprego. E não é com uma vistosa reunião de três dias, em Março, que se altera um esquema criado e ancilosado. Estes jogos estão de tal modo enraizados na nossa existência que os reconhecemos como legais. Não o são. A unidade austera e digna que dera consistência a uma maneira de ser republicana foi transformada em negócios, em malabarismos de interesses. É improvável que as coisas se alterem nos próximos tempos.
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