quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

PORTUGUESES SALVOS DE UM PAÍS À BEIRA DA GUERRA CIVIL

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PONTO FINAL – 24 fevereiro 2011

A situação no aeroporto de Tripoli é “caótica” e “complicada”, nas ruas ouvem-se “tiros” e vê-se “destruição”, disseram portugueses que estavam na capital líbia e ontem chegaram a Lisboa no C-130 da Força Aérea Portuguesa.

Jorge Maciel, preparador físico da equipa Al-Attihad, que liderava o campeonato de futebol da primeira liga líbia entretanto interrompido, contou à Lusa que “na semana passada estava tudo tranquilo” e que, “de um momento para o outro”, a situação começou a complicar-se “primeiro em Benghazi e depois em Tripoli”.

“O primeiro sintoma de que as coisas podiam estar muito esquisitas foi quando queríamos ir à Internet e deixámos de aceder a determinadas páginas, nomeadamente ao Facebook e ao Hotmail”, o que começou a verificar-se “no fim da semana passada”, relatou Jorge Maciel.

O português, que estava na Líbia desde Dezembro, conta que “a principal preocupação” era “tranquilizar” os familiares em Portugal até porque, em Tripoli, não tinha acesso ao que se estava a passar no país. Isto porque “havia poucas notícias em inglês, era tudo em árabe” e havia “pouca capacidade de entrar em contacto” com a família, uma vez que as comunicações falharam.

Quando chegou ao campo de treinos, na segunda-feira, Jorge Maciel percebeu que “a cidade estava praticamente deserta de manhã” e viu “alguns pontos com focos de incêndio, cheirava a queimado e algumas esquadras da polícia estavam completamente destruídas”.

Como apenas os jogadores estrangeiros se apresentaram ao treino, os três portugueses actualmente no clube, incluindo dois jogadores com dupla nacionalidade (portuguesa e brasileira) e Jorge Maciel, pediram os passaportes e foram para o aeroporto.

“Fomos para o aeroporto ontem [segunda-feira] de manhã e a situação estava muito complicada. Se as autoridades internacionais puderem, pelo menos, orientar o controlo de entradas no aeroporto… O cenário ainda não é de desespero, em que as pessoas se atropelam, mas é incrível ver milhares e milhares de pessoas a chegarem de táxi com bagagens às costas e toda a gente querer entrar”, explicou.

Romana Pereira, uma das poucas mulheres que vinha no avião, estava em Tripoli de visita ao marido, a trabalhar na capital líbia há três meses. Com uma filha bebé ao colo, conta que estava num “condomínio fechado”, onde “ninguém entrava sem identificação” e com “polícia em todo o lado”. Apesar da aparente segurança, Romana Pereira e a família ouviam “tiros durante a noite”, uma situação de insegurança que não esperava: “Quando se entra naquele país, é um sossego, melhor do que Portugal, mais calmo”, afirmou.

Fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros confirmou aos jornalistas, no aeroporto de Figo Maduro, que neste voo do C-130 vieram 64 portugueses, cinco brasileiros, dois egípcios, dois sul-africanos, um arménio e uma norte-americana.

Os protestos na Líbia contra o regime do coronel Muammar Kadhafi começaram no passado dia 15, tendo sido reprimidos com violência. Os incidentes mais graves foram registados sobretudo em Tripoli, a capital, e em Benghazi, a segunda maior cidade líbia.

Retidos em Benghazi vivem situação “complexa”

O Governo português admitiu ontem que a situação dos portugueses retidos em Benghazi é complexa, mas garantiu estar a desenvolver todas as diligências para os retirar da Líbia, disse fonte do gabinete do secretário de Estado das Comunidades. “A situação é complexa. Estamos a fazer diligências no sentido de encontrar alternativa ao transporte aéreo em cooperação com países amigos da região”, disse a fonte. Questionada sobre se o grupo de 56 portugueses que ainda se encontram retidos em Benghazi poderá sair da Líbia num navio fretado pela empresa brasileira Queiroz Galvão, que emprega parte desses portugueses, a mesma fonte disse apenas que “todas as alternativas estão a ser estudadas”. Milhares de cidadãos estrangeiros que trabalham ou residem na Líbia continuam retidos em Benghazi à espera de serem evacuados por via marítima, já que o aeroporto naquela cidade costeira está inoperacional desde segunda-feira, e o porto parece ser já a única porta de saída.
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