sexta-feira, 25 de março de 2011

ADEUS SÓCRATES, CAVACO JÁ TIROU O COELHO DA CARTOLA

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ANTÓNIO VERÍSSIMO – PÁGINA LUSÓFONA

SÓ VÃO MUDAR AS MOSCAS, O CHEIRO NAUSEABUNDO É O MESMO

Estamos no fosso, na fossa. Os portugueses, Portugal, deparam-se com a maior crise económica de que há memória. Analistas consideram que nem no século 19, em crise de elevado grau, se chegou a este descalabro. Estamos na fossa mas ainda vamos mergulhar mais com o despoletar desta crise política. Sócrates devia de ter sido demitido há muito mais tempo ou, quando da formação do governo, após as últimas eleições, Cavaco Silva devia de ter procurado a formação de um governo de aliança, ou entendimento, entre o PS e o PSD, já que é tão conservador. A ele, PR ainda em primeiro mandato, cabem imensas responsabilidades por toda esta crise política do momento, fruto dos seus interesses partidários, do seu egoísmo e displicência relativamente ao interesse nacional. Igualmente a Cavaco cabem agora responsabilidades acrescidas pelo despoletar da inconveniente crise política com a demissão de Sócrates. Na tomada de posse para o segundo mandato teve um discurso incendiário que mostrou as suas intenções quanto ao seu timing, convencido que está de que o PSD vai arrancar uma maioria absoluta nas eleições que estão para breve, agora que Sócrates se demitiu do cargo de primeiro-ministro e vai haver eleições. Cavaco mostrou a sua personalidade obtusa, mesquinha, doentia e oportunista – no mínimo – marimbando-se na verdade para o interesse nacional. É isso que, sem dó nem piedade, se lhe deve apontar. Quis, e conseguiu, malbaratar o PS lentamente, para dar tempo a que o PSD se organizasse como achava que devia e assim usar a sua enorme ascendência sobre Passos Coelho, previsível primeiro-ministro após as eleições que se seguem. Razão porque só agora Cavaco tirou o Coelho da cartola. Esta é a atitude de um PR que usa métodos sinuosos na política que lhe convém e aos seus próximos e não na política que convém a todos nós, ao país. Não foi por acaso que nestas eleições presidenciais mereceu o desprezo de quatro quintos do total dos eleitores portugueses. Não é por acaso que é o presidente da república em exercício que foi menos votado nos últimos 35 anos. Não é por acaso que sentimos que não nos representa. Provavelmente ele também o sente, acomodando-se na oportunidade que a legalidade construída na Assembleia da República lhe proporciona, apesar de imoral e inadmissível. Talvez também por isso Portugal tenha um PRzinho de uma republicazinha. Melhor que ninguém ele o saberá, nunca o confessando por ser um denodado adepto dos tabus.

Provavelmente até os animais de estimação e os seus parentes pobres, os vadios, sabiam que este governo de José Sócrates, do partido dito socialista, devia ter terminado a governação obtusa no final do mandato e que apesar de ter sido o mais votado nas eleições legislativas não reunia as condições para governar sozinho, pelo péssimo passado e pela crise mundial que já existia. Quis Cavaco, PR ainda com alguma representatividade eleitoral do primeiro mandato, fazer os seus “joguinhos”, indigitando José Sócrates em PM de governo minoritário. Se Sócrates antes já governara mal, Cavaco proporcionou-lhe que mostrasse o seu pior. Eis o resultado.

E agora? Agora demitiu-o. Depois de um jogo cobarde e cínico de toca-e-foge. E agora, espera-se pelos prejuízos e inconvenientes de não ter tomado a decisão devida atempadamente e ter escolhido causar a demissão do governo no pior momento. É por demais evidente que Coelho e Cavaco estão em sintonia. Enquanto isso os portugueses, estão encostados à parede, com o estômago encostado às costas, e vão novamente a eleições legislativas para cumprir o planeamento do PR (de um quinto dos portugueses) e levar ao colo o desconhecido Pedro Passos Coelho com a auréola de salvador. Coelho, ilustre desconhecido nestas coisas de governação. Bem conhecido do PSD, quando menino da JSD, de que não saiu há tantos anos quanto isso.

Pedro Passos Coelho, da política suja que é praticada em Portugal, deverá conhecer tudo e o que desconhece, por ter andado eclipsado por uns quantos anos, facilmente adquirirá em formação acelerada, ou até tudo lhe é inato. A um porco não é preciso ensinar a grunhir, nem a um cão a ladrar ou a um bode a marrar…

Tirando as eventuais acções de cambalacho de Sócrates, nunca provadas, Passos Coelho parece ter tido sempre um comportamento quase exemplar a vários níveis. Porém, não devemos colocar as mãos no lume por ele. Cavaco também sempre nos inspirou confiança mas vimos o que aconteceu com a casa da Coelha, em Albufeira, sendo referido como provas que o Fisco saiu ludibriado relativamente ao pagamento da sisa – porque pagou sobre uma casa em projecto que não corresponde à casa que adquiriu e onde habita. Pois é, naquele que julgamos ser o melhor pano cai a nódoa. E quem faz um cesto… Sobre Passos Coelho vamos esperar para ver, partindo do princípio que vamos descansar das tricas e laricas referentes a Sócrates. Nada mais desconfortável que saber que somos reféns de políticos apontados em práticas de maiores ou menores barbaridades, como o Caso Freeport, o diploma passado a um domingo e sabemos lá que mais, sobre Sócrates. Agora descansemos disso, ao menos por uns tempos. Se é para continuar... o tempo o dirá.

Passos Coelho poderá parecer e até ser honesto em determinadas vertentes mas sabemos como são os políticos e como esgrimem as palavras. Como dão o dito por não dito “porque o que queriam dizer não era exactamente como interpretámos”. Desonestidades comuns naquela terrível espécie. E já temos uma sobre Coelho. Sobre o aumento de impostos em que dizia há pouco tempo atrás não concordar mas que agora, perspectivando vir a ser primeiro-ministro, foi invadido por amnésia e já admite que aumentará o IVA. Ora se o IVA não é um imposto o que será? E vai “emagrecer” o Estado? Quer dizer aquilo que é evidente: vai fazer despedimentos e passar serviços públicos para as mãos de privados - uma pretensão antiga - sabendo-se que quase sempre que fazem isso os prejuízos dos cidadãos mais carenciados saem muitíssimo prejudicados. O que não disse foi que vai implementar e aumentar impostos aos banqueiros (porque não vai) e ademais mega empresários com que se reuniu mal se sentou na cadeira da Lapa, na cadeira de maioral do PSD. Reuniu com esses mas nunca com trabalhadores, com os sindicatos, por exemplo. Nunca com os que produzem riqueza para o país ou que já produziram, os reformados – não os reformados de três e mais reformas, seus pares e mentores, com quem convive e bem conhece desde rapazola. Logo naquele momento, nos primeiros dias, demonstrou as suas preferências no diálogo e convivência. Um mimo de democrata que ambiciona ser um napoleónico “filho querido da vitória” de Cavaco. E será. E será… se conseguir maioria absoluta nas eleições a realizar em breve.

Que português algum se iluda sobre os sacrifícios que a partir de muito em breve nos vão ser exigidos. Refira-se que os portugueses aqui mencionados são os que pagam sempre as crises, não aqueles que nunca o fazem; aqueles que são os amestradores de muitíssimos políticos, a que também dão a definição de mega-empresários, banqueiros e eteceteras…

Vêm aí dias muito difíceis. Dias? Não. Anos. A sofreguidão dos da alta-finança é insaciável. Vivemos numa ditadura dos mercados. Passos, como Cavaco, como outros do PSD, são muito mais emparelhados com esses do que aquilo que possamos imaginar. Até por isso a nossa vida não vai ser nada fácil, antes pelo contrário. Não esqueçamos também que por detrás de Passos Coelho está um barão do PSD de muitíssimo peso: Ângelo Correia. Uma eminência parda que é eivado de conservadorismo, “mexe” na política e na alta-finança como boleiro nas massas. Amigo do peito de reis árabes e de muitas outras figuras internacionais de alto-relevo. Tudo da “Alta”. Tudo daqueles que já perderam a capacidade de olhar para baixo, para os explorados-governados de mais baixo estrato social devido a responsabilidades dos que até agora têm vindo a depauperar este país com reformas aos oito anos de deputados na AR – depois passou para 12 anos (três mandatos) quando o regime geral é de vinte anos. Quantas reformas aufere Ângelo Correia? Passos Coelho, enquanto deputado, que serviu em fase em que se podia reformar aos oito anos de exercício de deputado (dois mandatos) não o fez. Também, seria escandaloso, era então um quase-ainda-menino. Não aufere reforma alguma, como já disse. Decente. Positivo. Não podemos dizer o mesmo de muitos outros, nem Cavaco Silva. Com 67 anos aufere duas ou três reformas (a saber). É daquela espécie humana que quando ainda está na barriga da mãe já trabalha e desconta para a reforma. Negativo. E vá-se lá entender o “milagre”. Pior ainda, porque há imensos políticos e afins naquelas circunstâncias. Também por isso o sistema vem falindo. Para quando acabar com estas imoralidades? No tempo de Passos e de Cavaco não será, com toda a certeza.

Não foi aqui abordada a clientela do PSD porque é igual à do PS. Praticamente tudo como antes. Antes eram boys e girls. Agora passam a ser bois e vacas. Sem ofensa e sem diferença.
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