CORREIO DO BRASIL, com DW - de Berlim
As manchetes da imprensa mundial têm sido claras: “Al Qaeda tateia no escuro”; “Revoltas populares árabes decepcionam Al Qaeda”; “Al Qaeda está vendo a história passar”. Todos os jornais concordam em um ponto: a organização radical islâmica não teve qualquer papel significativo nas revoluções no mundo árabe. Até agora ela foi a grande ausente, e tem que se conformar com o fato de que sua propaganda, repetida há décadas, não impressiona mais ninguém.
– É uma lacuna que sempre houve. Só por causa dos ataques parcialmente bem sucedidos em países árabes ou no Ocidente, acreditávamos que a Al-Qaeda era mais forte do que realmente é – afirma o especialista em islamismo Albrecht Metzger.
Al Qaeda é minoria no mundo árabe
Segundo Metzger, isso é uma prova de que a organização é minoria no mundo árabe, e de que sua ideologia da chamada “guerra santa” não conseguiu convencer as massas. Assim, enquanto a Al Qaeda propagava a violência como o único meio de se livrar dos ditadores, o povo demonstrou no Egito e na Tunísia que há outra maneira, pacífica e civilizada.
A rede terrorista deve sair como perdedora das crises do mundo árabe. Esta é a opinião de Mohammad Abu Rumman, pesquisador e especialista em Oriente Médio do Centro de Estudos Estratégicos em Amã, capital da Jordânia. Ele está convencido de que a Al Qaeda nunca foi considerada um porta-voz da juventude árabe.
– A Al Qaeda sempre ofereceu suas próprias respostas a uma crise política geral dos regimes árabes. Uma crise que se manifestava na falta de perspectiva para uma mudança pacífica e democrática, ou para uma aliança entre os regimes árabes e do Ocidente. Uma aliança que priorizava os próprios interesses, em detrimento de uma abertura democrática – afirma.
Anseio por democracia
As aspirações democráticas dos países árabes e as demandas por justiça social, igualdade e pluralismo são o oposto dos princípios da Al Qaeda. Isto faz com que a rede terrorista perca terreno ideologicamente, avalia Abu Rumman.
Também é curioso o fato de Osama bin Laden, sempre muito afeito a comentários na forma de mensagens de vídeo, não ter até agora se manifestado. Parece que ele ainda não encontrou as palavras certas diante dessas enormes transformações, escreveu recentemente para a revista alemã Der Spiegel Yassin Musharbash, especializado na Al Qaeda. Segundo ele, não foi a organização que mostrou ser de vanguarda, mas sim a juventude do mundo árabe, mundana e afinada com a internet.
Mas, apesar de sua incapacidade de lidar com as modernas redes sociais, como Facebook e Twitter, a Al Qaeda não ficou completamente em silêncio após os acontecimentos no Egito. Em um vídeo inserido na plataforma YouTube, Ayman Al-Zawahiri tentava reinterpretar as revoltas dos egípcios e tunisianos à própria maneira.
O segundo homem da Al Qaeda as classifica como revoltas islâmicas contra os déspotas não islâmicos. Ele rejeita a democracia, como uma forma secular de governo em que tudo depende dos caprichos da maioria. Para Zawahiri, ela é anti-islâmica: uma interpretação que difere muito das exigências dos manifestantes na Líbia e no Egito.
Grupos radicais ficam supérfluos
No geral, a maioria dos especialistas em Oriente Médio e Al Qaeda concordam num ponto: a irrelevância da ideologia da Al Qaeda pode significar sua ruína. A verdadeira democratização e o surgimento de Estados constitucionais tornam tais agrupamentos desnecessários. Mas isso não se aplica necessariamente a todo o mundo árabe, adverte Muhammad Abu Rumman.
– Não se pode igualar a influência da Al Qaeda em todos os Estados. Na Líbia, por exemplo, que é influenciada fortemente por uma cultura tribal, ou no Iêmen, onde as diferenças sociais são muito grandes, a situação é diferente da Tunísia ou do Egito – avalia.
Caso os governantes da Líbia e do Iême não permitam uma mudança pacífica e democrática em seus países, precipitando-os no caos e na guerra civil, a Al Qaeda pode sair lucrando. Para o perito em islamismo Metzger, o papel de agrupamentos islâmicos em países onde não existem estruturas democráticas não pode ser subestimado.
– O Paquistão, por exemplo, que está um pouco longe da atenção mundial. Este é um país muito importante para o jihadismo (doutrina da ‘guerra santa’). Porque lá os radicais talebãs estão tomando o poder, ou determinando, em princípio, as estruturas sociais e políticas. Acredito que este sim, será um campo de batalha importante para a Al Qaeda. O mundo árabe, no momento, creio que não – concluiu.
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As manchetes da imprensa mundial têm sido claras: “Al Qaeda tateia no escuro”; “Revoltas populares árabes decepcionam Al Qaeda”; “Al Qaeda está vendo a história passar”. Todos os jornais concordam em um ponto: a organização radical islâmica não teve qualquer papel significativo nas revoluções no mundo árabe. Até agora ela foi a grande ausente, e tem que se conformar com o fato de que sua propaganda, repetida há décadas, não impressiona mais ninguém.
– É uma lacuna que sempre houve. Só por causa dos ataques parcialmente bem sucedidos em países árabes ou no Ocidente, acreditávamos que a Al-Qaeda era mais forte do que realmente é – afirma o especialista em islamismo Albrecht Metzger.
Al Qaeda é minoria no mundo árabe
Segundo Metzger, isso é uma prova de que a organização é minoria no mundo árabe, e de que sua ideologia da chamada “guerra santa” não conseguiu convencer as massas. Assim, enquanto a Al Qaeda propagava a violência como o único meio de se livrar dos ditadores, o povo demonstrou no Egito e na Tunísia que há outra maneira, pacífica e civilizada.
A rede terrorista deve sair como perdedora das crises do mundo árabe. Esta é a opinião de Mohammad Abu Rumman, pesquisador e especialista em Oriente Médio do Centro de Estudos Estratégicos em Amã, capital da Jordânia. Ele está convencido de que a Al Qaeda nunca foi considerada um porta-voz da juventude árabe.
– A Al Qaeda sempre ofereceu suas próprias respostas a uma crise política geral dos regimes árabes. Uma crise que se manifestava na falta de perspectiva para uma mudança pacífica e democrática, ou para uma aliança entre os regimes árabes e do Ocidente. Uma aliança que priorizava os próprios interesses, em detrimento de uma abertura democrática – afirma.
Anseio por democracia
As aspirações democráticas dos países árabes e as demandas por justiça social, igualdade e pluralismo são o oposto dos princípios da Al Qaeda. Isto faz com que a rede terrorista perca terreno ideologicamente, avalia Abu Rumman.
Também é curioso o fato de Osama bin Laden, sempre muito afeito a comentários na forma de mensagens de vídeo, não ter até agora se manifestado. Parece que ele ainda não encontrou as palavras certas diante dessas enormes transformações, escreveu recentemente para a revista alemã Der Spiegel Yassin Musharbash, especializado na Al Qaeda. Segundo ele, não foi a organização que mostrou ser de vanguarda, mas sim a juventude do mundo árabe, mundana e afinada com a internet.
Mas, apesar de sua incapacidade de lidar com as modernas redes sociais, como Facebook e Twitter, a Al Qaeda não ficou completamente em silêncio após os acontecimentos no Egito. Em um vídeo inserido na plataforma YouTube, Ayman Al-Zawahiri tentava reinterpretar as revoltas dos egípcios e tunisianos à própria maneira.
O segundo homem da Al Qaeda as classifica como revoltas islâmicas contra os déspotas não islâmicos. Ele rejeita a democracia, como uma forma secular de governo em que tudo depende dos caprichos da maioria. Para Zawahiri, ela é anti-islâmica: uma interpretação que difere muito das exigências dos manifestantes na Líbia e no Egito.
Grupos radicais ficam supérfluos
No geral, a maioria dos especialistas em Oriente Médio e Al Qaeda concordam num ponto: a irrelevância da ideologia da Al Qaeda pode significar sua ruína. A verdadeira democratização e o surgimento de Estados constitucionais tornam tais agrupamentos desnecessários. Mas isso não se aplica necessariamente a todo o mundo árabe, adverte Muhammad Abu Rumman.
– Não se pode igualar a influência da Al Qaeda em todos os Estados. Na Líbia, por exemplo, que é influenciada fortemente por uma cultura tribal, ou no Iêmen, onde as diferenças sociais são muito grandes, a situação é diferente da Tunísia ou do Egito – avalia.
Caso os governantes da Líbia e do Iême não permitam uma mudança pacífica e democrática em seus países, precipitando-os no caos e na guerra civil, a Al Qaeda pode sair lucrando. Para o perito em islamismo Metzger, o papel de agrupamentos islâmicos em países onde não existem estruturas democráticas não pode ser subestimado.
– O Paquistão, por exemplo, que está um pouco longe da atenção mundial. Este é um país muito importante para o jihadismo (doutrina da ‘guerra santa’). Porque lá os radicais talebãs estão tomando o poder, ou determinando, em princípio, as estruturas sociais e políticas. Acredito que este sim, será um campo de batalha importante para a Al Qaeda. O mundo árabe, no momento, creio que não – concluiu.
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