sexta-feira, 4 de março de 2011

Angola - MPLA à espera de mais de um milhão para "marcha patriótica"

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ANTÓNIO RODRIGUES – i ONLINE – 04 março 2011

Marcha do MPLA é amanhã. Líder da UNITA veio a Lisboa denunciar ameaças. Participantes na manifestação do dia 7 contra o regime também falam em ameaças

A UNITA não vai participar na manifestação convocada para 7 de Março em Luanda por achar que "se trata de uma manipulação do regime" angolano. "Não vamos participar enquanto dirigentes, nem demos instruções aos nossos militantes para participar", afirmou ao i Isaías Samakuva, presidente do partido. O líder do Galo Negro vai mais longe: "Essa manifestação não existe, nem nos parece que seja coisa séria, nem acredito que se vá realizar."

Apesar de ter sido convocada anonimamente através da internet, sob o pseudónimo de Agostinho Jonas Roberto dos Santos (numa conjunção dos principais nomes da Angola pós-colonial), a verdade é que a manifestação marcada para segunda-feira já teve a adesão pública de alguns dirigentes de pequenos partidos e de organizações não governamentais que enviaram uma carta ao presidente José Eduardo dos Santos a revelar isso mesmo.

David Mendes, líder do Partido Popular, e um dos assinantes da missiva, disse ao i "que há razões bastantes" para "aderir à manifestação popular". "Independentemente de quem convocou a manifestação, o importante são os objectivos. Se não houvesse uma grande mobilização para 7 de Março, o MPLA não estaria a convocar uma contramanifestação, não estaria o Exército em alerta e a Polícia Nacional de prevenção".

O partido do qual José Eduardo dos Santos é líder convocou para amanhã uma "marcha patriótica" em todo o país para "reforçar a democracia e reforçar a paz" em Angola.

"Temos de tranquilizar a população, mostrar aos organizadores [da manifestação de 7 de Março] que querem criar confusão que o povo angolano é fiel à sua vertente democrata", referiu ao i Fragata de Morais, primeiro secretário do MPLA na província de Luanda.

Fragata de Morais, que está a contar com "mais de um milhão de pessoas" a marchar amanhã em todo o país, acrescentou que a iniciativa é do MPLA, porque "alguém tem de dar a cara", mas está aberta a todos os partidos e outras forças da sociedade como a Igreja Católica, "que vai estar presente". "Convidámos os partidos da oposição porque esta é uma marcha patriótica, não é uma marcha do MPLA ou da UNITA", acrescentou.

Ao falar em "dar a cara", Fragata de Morais pretende contrastar a sua iniciativa com a manifestação convocada anonimamente pela internet. "Sabemos pelos exemplos da história que todos os movimentos sem rosto acabaram em barderna, em confusão, em mortos", disse.

Receios que são partilhados por David Mendes e pelos outros signatários da carta - Sediangani Mbimbi, do PDP-ANA, e Manuel Fernandes, dos Partidos da Oposição Civil. "Já recebemos ameaças, já nos disseram para sair do país. São ameaças de assassínio, de uma bala perdida. Indivíduos do MPLA estão a ameaçar com o uso da força e podem introduzir agentes provocadores para justificar a intervenção da polícia", disse David Mendes.

De ameaças também fala o líder da UNITA, que veio a Lisboa propositadamente para as denunciar. "Temos recebido ameaças que vêm em forma de aviso de gente amiga que participou em certas reuniões. Há ameaças que passam por ser boatos e outras que levamos bastante a sério", afirmou Samakuva.

É por considerar que o governo angolano "não está preparado para tolerar coisas desta natureza", como o protesto de 7 de Março, que o líder da UNITA não acredita que a iniciativa se realizará. "Talvez para um europeu, uma manifestação é uma coisa normal, nós, angolanos, somos ainda um país que não tem esses conceitos", afirmou, por seu lado, Fragata de Morais.
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