domingo, 13 de março de 2011

Gaddafi, como os Mubarak, controlam setores econômicos de seus países

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MAITÊ RICO

As revoluções que estão fazendo cair como peças de dominó as ditaduras árabes têm como efeito inevitável a fiscalização das fortunas reunidas pelos autocratas e seus chegados.

Agora foi a vez de Muammar Gaddafi, cujos negócios familiares, especialmente opacos, têm sua fonte principal no petróleo. Os especialistas não dão números, mas não duvidam de que o espólio retirado dos cofres líbios pelo clã Gaddafi chegue a "bilhões de dólares", de acordo com as diferenças anuais entre as receitas do Estado e os gastos públicos. E suspeitam da existência de vultosas contas secretas em Dubai, no Sudeste Asiático e em vários países do Golfo.

Segundo os telegramas da diplomacia americana vazados pelo Wikileaks, a família do ditador cometia uma constante sangria de receitas na Companhia Nacional de Petróleo. Seus tentáculos também alcançam os setores das telecomunicações, da construção e da hotelaria. Os despachos diplomáticos dão conta de comportamentos pouco edificantes dos filhos de Gaddafi, como as disputas entre três deles pela franquia da Coca-Cola ou a exigência de Mutassim, o quarto de seus herdeiros, de 880 milhões de euros à companhia petrolífera estatal para estabelecer sua própria milícia. Mutassim, conselheiro de Segurança de seu pai, é famoso por contratar para suas festas privadas cantoras como Mariah Carey ou Beyoncé.

Cartaz com a palavra ?procurado? e foto do ditador líbio Muammar Gaddafi é exibida durante protesto em frente à Embaixada da Líbia em Kuala Lumpur, maior cidade da Malásia Reuters/Bazuki Muhammad

Além disso, o Estado líbio como tal investiu no exterior cerca de 70 bilhões de euros através da Autoridade Líbia de Investimentos. Segundo o jornal britânico "The Guardian", o portfólio desse fundo soberano criado em 2006 inclui várias empresas estratégicas italianas - desde a petrolífera ENI à indústria aeroespacial - e um shopping center em Londres. Claro que, como sempre, as fronteiras entre o "Estado" líbio e os bolsos dos Gaddafi são confusas. Dos investimentos privados da família se conhecem os hotéis de luxo e duas engarrafadoras de água na Itália.

Na realidade, o padrão de enriquecimento dos Gaddafi é o habitual nos regimes autoritários, e não só no Oriente Médio: o líder se mantém aparentemente à margem, mas permite que sua família e próximos manipulem o país como seu feudo, de forma mais ou menos ostensiva. Ou mesmo grotesca. Tal é o caso de Leila Trabelsi, mulher do derrubado presidente tunisiano Ben Ali, cabeça de uma autêntica cleptocracia que, segundo a Transparência Internacional, controlava entre 30% e 40% da economia da Tunísia, e que em sua fuga precipitada ainda teve tempo de passar pelo banco central para levar 1,5 tonelada de ouro em lingotes, segundo publicou o jornal francês "Le Monde".

No caso do egípcio Hosni Mubarak, alguns especialistas acreditam que os números estimados sobre sua fortuna (entre 40 e 70 milhões de euros) são exagerados. "Sobram um ou dois zeros", declarou recentemente à emissora France 24 o especialista Jean-Noël Ferrié. Os Mubarak participaram de negócios, receberam comissões e acumulam bens de raiz nos EUA e no Reino Unido. Mas enquanto na Tunísia o clã Trabelsi e seus amigos controlavam toda a riqueza, no Egito, explica Ferrié, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, "a corrupção salpicava toda a sociedade", seguindo um esquema clientelista. Mubarak, como fez seu antecessor Sadat, permitia que amplos setores (militares, funcionários públicos) tirassem proveito para garantir seu apoio.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/
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