BAPTISTA BASTOS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião
Barões do PS contra Sócrates por suspender regionalização." A grave notícia, publicada no DN de anteontem, deixou muitos corações perplexos. Entre os quais, o meu, pobre, e constantemente sobressaltado. Não sei quem são, não os conheço nem estou arquejante de curiosidade para conhecer esses pouco assinalados barões. A perplexidade advém da mera circunstância de as sucessivas direcções do PS terem suspendido tanta coisa, que mais esta suspensão não deveria suscitar alvoroço. Mário Soares suspendeu o próprio PS ao colocar o "socialismo na gaveta", a fim de o resguardar de tentações libidinosas. O PS, cuja origem "socialista" sempre deu que pensar, estava fragmentado à nascença, quando um destemido grupo de advogados e afins, o "fundou", numa recôndita cidade alemã. Era preciso, segundo o siso de alguns estadistas europeus, criar uma organização política, estruturada e com apoios financeiros, que se opusesse à hegemonia do PCP.
Houve alguns equívocos. Uns, fatais, como o de se baptizar o grupo de "socialista", designação extremamente franzina; outros, pitorescos, como aquele estribilho: "Partido Socialista, Partido Marxista", nascido, sabe lá hoje?, de que cabecinha privilegiada. Willy Brandt, "grande amigo de Portugal", como Portugal sabe, de Norte a Sul, ficou furioso quando soube do extraordinário estribilho. Socialista, vá que não vá; agora marxista, o destempero soava a blasfémia. Ajudara o agrupamento a formar-se, e aquela frase rimada, além de maluca e absurda, era perigosa. Rasurou-se, com arfante rapidez, a desmedida loucura. E também se deixou de saudar com o punho direito erguido, substituído pelo esquerdo. Aos poucos, mesmo este, símbolo tímido e um pouco envergonhado, cedeu o lugar a uma triste rosa pálida, metaforicamente a desfolhar-se no manso logótipo.
O PS tem sido tudo isto e o inferno também. Sempre foi um estado d'alma, uma comovida exaltação de fatigados republicanos e nostálgicos antifascistas, antes de ser o que nunca foi: um partido de Esquerda, com o desígnio de mudar o País política e socialmente. Aos poucos, degenerou na massa parda do clientelismo, das cumplicidades duvidosas, dos sinuosos acordos de poder. Exactamente porque jamais foi "socialista", o que quer que a palavra signifique hoje.
O alvoroço dos "barões" não tem razão de ser. Ou talvez tenha uma: a de ainda se desconhecer como o bolo da regionalização vai ser repartido. A pátria está de rastos; o Governo coloca-se de joelhos ante a senhora Merkel; sobe o desemprego; aumenta a fome e o desespero; a toda a hora somos humilhados com infaustas notícias sobre a dívida e as decisões do Banco Central Europeu; ninguém nos dá conta de nada; tudo é sigiloso e clandestino.
Menos a nossa infelicidade.
Barões do PS contra Sócrates por suspender regionalização." A grave notícia, publicada no DN de anteontem, deixou muitos corações perplexos. Entre os quais, o meu, pobre, e constantemente sobressaltado. Não sei quem são, não os conheço nem estou arquejante de curiosidade para conhecer esses pouco assinalados barões. A perplexidade advém da mera circunstância de as sucessivas direcções do PS terem suspendido tanta coisa, que mais esta suspensão não deveria suscitar alvoroço. Mário Soares suspendeu o próprio PS ao colocar o "socialismo na gaveta", a fim de o resguardar de tentações libidinosas. O PS, cuja origem "socialista" sempre deu que pensar, estava fragmentado à nascença, quando um destemido grupo de advogados e afins, o "fundou", numa recôndita cidade alemã. Era preciso, segundo o siso de alguns estadistas europeus, criar uma organização política, estruturada e com apoios financeiros, que se opusesse à hegemonia do PCP.
Houve alguns equívocos. Uns, fatais, como o de se baptizar o grupo de "socialista", designação extremamente franzina; outros, pitorescos, como aquele estribilho: "Partido Socialista, Partido Marxista", nascido, sabe lá hoje?, de que cabecinha privilegiada. Willy Brandt, "grande amigo de Portugal", como Portugal sabe, de Norte a Sul, ficou furioso quando soube do extraordinário estribilho. Socialista, vá que não vá; agora marxista, o destempero soava a blasfémia. Ajudara o agrupamento a formar-se, e aquela frase rimada, além de maluca e absurda, era perigosa. Rasurou-se, com arfante rapidez, a desmedida loucura. E também se deixou de saudar com o punho direito erguido, substituído pelo esquerdo. Aos poucos, mesmo este, símbolo tímido e um pouco envergonhado, cedeu o lugar a uma triste rosa pálida, metaforicamente a desfolhar-se no manso logótipo.
O PS tem sido tudo isto e o inferno também. Sempre foi um estado d'alma, uma comovida exaltação de fatigados republicanos e nostálgicos antifascistas, antes de ser o que nunca foi: um partido de Esquerda, com o desígnio de mudar o País política e socialmente. Aos poucos, degenerou na massa parda do clientelismo, das cumplicidades duvidosas, dos sinuosos acordos de poder. Exactamente porque jamais foi "socialista", o que quer que a palavra signifique hoje.
O alvoroço dos "barões" não tem razão de ser. Ou talvez tenha uma: a de ainda se desconhecer como o bolo da regionalização vai ser repartido. A pátria está de rastos; o Governo coloca-se de joelhos ante a senhora Merkel; sobe o desemprego; aumenta a fome e o desespero; a toda a hora somos humilhados com infaustas notícias sobre a dívida e as decisões do Banco Central Europeu; ninguém nos dá conta de nada; tudo é sigiloso e clandestino.
Menos a nossa infelicidade.
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