sexta-feira, 4 de março de 2011

Os manifestantes que não se esqueçam, se querem sair vivos...

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… de dar prioridade às balas

ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

O padre Jorge Casimiro Congo, uma das mais emblemáticas figuras na autodeterminação do enclave angolano diz que a marcha deste sábado na colónia angolana de Cabinda será a morte do próprio MPLA. Demonstra que o regime está no fim e a defender-se a si próprio.

Em Cabinda os funcionários públicos, entre muitos outros, estão a ser igualmente coagidos a participarem na marcha que visa reconhecer José Eduardo dos Santos como o maior democrata da história da humanidade.

Luanda, melhor dizendo, o MPLA, está a aproveitar todos os motivos, reais ou não, para - perante a passividade internacional – aniquilar todos aqueles que em Cabinda (como em Angola) ousam falar (ou até pensar) em autodeterminação ou independência.

O regime angolano usa todos os meios e estratégias em que é mestre para aniquilar, física e psicologicamente, todos os que entende serem seus inimigos.

A linha de pensamento ditatorial do regime até é previsível. Quem não é a favor é contra. E se assim é, ao contrário das mais elementares regras de um Estado de Direito (coisa que Angola está longe de ser), até prova em contrário todos são culpados.

Socorrendo-se de alguns conselheiros norte-coreanos, mas não só já que cubanos e até mesmo portugueses estão a trabalhar no caso, Luanda diz ter provas de que os organizadores da manifestação do dia 7 estão a preparar acções violentas.

A estratégia até está a funcionar. Já conseguiu que a UNITA metesse o rabo entre as pernas.

A purga, limpeza, manifestação a favor, ou seja lá o que for que o regime angolano lhe chama, está em avançado estado de realização, não se sabendo inclusive se as principais figuras da contestação em Angola e Cabinda sairão vivas.

Um dia destes Angola irá anunciar que alguns dos organizadores, sejam-no ou não – isso pouco importa, morreram de causas naturais ou porque, num qualquer cruzamento de Luanda, não deram prioridade às balas dos militares e da polícia.

E, é claro, nesse contexto a culpa também será dos cabindas que, mais uma vez, só se põem de joelhos perante o verdadeiro Deus e não, como é desejo do regime, perante o deus terreno que dá pelo nome de José Eduardo dos Santso.

O Governo do MPLA terá, aliás, obtido a anuência dos países da região, nomeadamente da República Democrática do Congo, para esquecer as fronteiras e levar a operação de limpeza até onde for necssário, situação que fez desaparecer do mapa tanto cidadãos cabindas como congoleses.

Acresce que Luanda tem igualmente a garantia de Lisboa de que Portugal não vai imiscuir-se na questão de Cabinda, “até porque o próprio presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, afirma que Angola vai de Cabinda ao Cunene”.

Assim sendo, e enquanto tenta “dar a volta” (sinónimo de comprar) a organizações internacionais dos direitos humanos, casos da Amnistia Internacional e da Human Rigths Watch, vai garantindo que nenhum país se manifestará oficialmente contra as violações dos direitos humanos e contra a forma execrável como trata os delitos de opinião que, esses sim, são os únicos “crimes” cometidos.

Entrevista à Rádio Deutsche Welle

Já está no ar a entrevista que dei à Deutsche Welle - Voz da Alemanha. A temática é obviamente a manifestação agendada para o próximo dia 7 e que visa alterar o poder absoluto do presidente de Angola (há 32 anos no poder sem ter sido eleito), José Eduardo dos Santos, do presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, do chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, do dono de Angola (e não só), José Eduardo dos Santos...

Ver Rádio Deutsche Welle

Ler também: Isto é só para angolanos... negros

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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