segunda-feira, 11 de abril de 2011

O DIA EM QUE O RIO CHOROU

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ESPAÇO LIVRE – DIRETO DA REDAÇÃO

A Cidade Maravilhosa, eleita a mais feliz do mundo por uma pesquisa internacional, queda-se em silêncio neste fim de semana. Estamos chocados e arrasados. O matador da escola de Realengo nos abalou. Vamos nos reerguer logo, mas estamos tristes. Enquanto isso, precisamos parar, ver onde estamos errando e rever nossos valores.

Numa cidade onde quase tudo é permitido, desde que não se invada o espaço alheio, pais passaram a enxovalhar professores que disciplinavam os alunos. Esses, inspirados nos exemplos de casa, levantam a mão e a voz para os mestres. Sem respeito mútuo, a Secretaria de Educação municipal, na época de César Maia, implantou a aprovação automática, soltando de vez o freio de alunos mal comportados. Escola virou creche e refeitório. Professor era decorativo. Nos jogos de futebol, torcedores rivais viraram hordas selvagens repletas de perigosos marginais.

Sobre o matador de Realengo, o revólver 38 dele fora roubado do pai adotivo há 18 anos. Portanto, o matador na época tinha apenas 6 anos. Pode indicar que alguém de bom senso da família escondeu essa arma, mas um dia ela chega às mãos do hoje assassino descontrolado. Que coisa! O jovem deixa uma carta incongruente remetendo a... Jesus. Sempre barbaridades cometidas em nome Dele!

Embora freqüentador da Assembléia de Deus, uma igreja séria e respeitável, o fato é que inúmeros evangélicos de religiões pentecostais freqüentam as páginas policiais. Pastores vigaristas, pedófilos, estupradores, evangélicos invadindo centros espíritas e depredando o que não lhes pertence, tudo sem repreensão pública por parte de seus superiores. Exatamente como os pais e os filhos nas escolas. Está tudo no noticiário. Os fundamentalistas evangélicos se colocaram como moeda de voto na eleição. Os protestantes de raízes européias se dão ao respeito e nem passam perto dos fariseus alucinados que pululam nos EUA e no Brasil.

O futebol apodreceu e as torcidas se matam. Pais incentivam filhos a odiar torcedores rivais. Conheci um que me afirmou botar o filho fora de casa se ele, ao crescer, não aceitasse o mesmo time que o dele! Radicais de toda ordem tornaram-se pessoas de difícil convivência. Crentes criticam os não-crentes, mas agora têm até funk, com a letra falando de Jesus, claro. Leio hoje na internet que uma moça, linda e gostosa, de shortinho, se apresenta num pole dance numa igreja no Texas e encanta as devotas. Ela afirma que a dança sensual é para Jesus! Sei...

O Rio hoje chora, mas deve aproveitar para repensar seus valores e retomar espaços cedidos pela tolerância que nos caracteriza. Professor na escola tem que ser como comandante no navio: é quem manda e ponto final. Pais e filhos que não aceitam autoridade não precisam de escola. Quem não respeita os diferentes não precisa de sociedade. Óbvio que a religião não é responsável pela loucura de gente como o matador de Realengo, mas o fanatismo sem freio também precisa ser repensado.

Talvez sirva de alerta a que todos baixem a bola, que voltemos a respeitar os mais velhos, os mais novos, os que nos orientam, os diferentes em geral, a respeitar a cidade, muito suja, a respeitar o direito dos vizinhos, dos outros torcedores, polícia se dê ao respeito como polícia e cada um que se dê o respeito. O Rio precisa e vai voltar a ser alegre, mas a hora é de repensar.

Óbvio que não se trata de censuras e perseguições, nada disso, apenas a volta do respeito aos professores, a restrição a entrada em escolas, antes só permitida pelos inspetores, cargos extintos no Rio, e o respeito ao silêncio e ao ouvido dos demais por parte dos evangélicos que pensam que podem levar a palavra de Deus a todo mundo, custe o que custar.

**Contribuição do leitor Paulo França. Email : jornalocorreio2010@gmail.com

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