domingo, 3 de abril de 2011

PORQUE SILENCIAM O EXEMPLO DA ISLÂNDIA?

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Islândia: - o êxito de deixar cair a Banca e de não salvá-la com o dinheiro dos contribuintes!

Está na altura de falar da Islândia, da forma como este país deu a volta à bancarrota e das razões porque não interessa a "certa gente" que se fale dela. Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro país a ir à bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno país, perdido no meio do mar, deu a volta à crise. Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu tão proteccionista do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhe impôs para a ajudar.

Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento excessivo e pela falência dos seus maiores Bancos (Kaupthing e Landsbanki) que, como todos os outros, se afogaram num oceano de crédito mal parado. Exactamente os mesmo motivos por que tombaram a Grécia, a Irlanda e Portugal. A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes e que, durante muitos anos, viveu acima das suas possibilidades graças a estas “malabarices” bancárias e que a guindaram falaciosamente ao 13º lugar no ranking dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal detinha o 40º lugar).

País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde então governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder até levar o país à miséria. Aflito pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos conviveu, o PP tratou de recorrer ao FMI em busca de ajuda. Claro que a usura deste organismo não teve comiseração, e a tal “ajuda” ir-se-ia traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos (começariam nos 5,5% e daí para cima), que, feitas as contas por alto, se traduziam num empenhamento das famílias islandesas por 30 anos, durante os quais teriam de pagar uma média de 350 euros / mês ao FMI. Parte desta ajuda seria para “tapar” o buraco dos principais Bancos islandeses.

Perante tal situação, o país mexeu-se. Apareceram movimentos cívicos despojados dos velhos políticos corruptos com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não deveriam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos.

O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, por uma maioria de 93%, recusado assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do FMI. Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições.

Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições e, conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder (PP) perdeu em toda a linha.

Daqui saiu um Governo totalmente renovado e com um programa muito objectivo: aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia especulativa em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer, pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa finlandesa) e ter o poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era fundamental.

Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável aumento de impostos, amparado por uma reforma fiscal severa.

Os cortes na despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não “estragar” os serviços públicos, tendo-se o cuidado de separar o que o era de facto público de outros tipos de serviços que haviam sido criados ao longo dos anos, apenas para serem "amamentados" pelo Estado.

As negociações com o FMI foram duras. Mas os islandeses não cederam e conseguiram os tais empréstimos que necessitavam a um juro máximo de 3,3% a pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de ser assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas características, poderia transformar-se num exemplo mundial de como sair da crise sem estender a mão à Banca internacional. Um exemplo "perigoso" demais...

Graças a esta política de não pactuar com os interesses desmedidos do neo-liberalismo instalado na Banca e de não pactuar com o formato do actual capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu, aliada a uma política interna onde os islandeses faziam sacrifícios (mas sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios) sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010. O Governo islandês, chefiado por uma senhora de 66 anos (Johanna Sigurdardottir), prossegue a sua caminhada, tendo já conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias melhores. Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu com aquilo que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país nem a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas monstruosas.

Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em especulações.

Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado.

Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos. Não tardarão meia dúzia de anos e a Islândia retomará o seu lugar nos países mais desenvolvidos do mundo. O actual Governo Islandês não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos. Está a cumprir, de A a Z, com as promessas que fez.

(Por Francisco Gouveia, Eng.º) (Tirado Da Tailândia com Amor)

(Adaptação e imagens da autoria de A Insustentável Beleza dos Seres)

1 comentário:

Anónimo disse...

A MENSAGEM DA ISLÂNDIA.


1 )Esta é uma excelente mensagem para todos nós ao nível dos CPLP.

2 ) Seguir contudo esta decisão, parece-me menos arriscada a norte, logo num país "nórdico", um país que faz parte duma região que, apesar de tudo, tem-se mantido afastada das grandes convulsões e das grandes crises humanas.

3 ) De facto nos países do sul, quando algum consegue bater o pé a entidades como o FMI, ou Banco Mundial, ou até à Organização Mundial do Comércio, é desencadeado o músculo, quer pela actuação dos serviços de inteligência da hegemonia, quer pela força militar.

4 ) Nessa altura, os agentes locais são accionados com vista a, sempre na trilha das elites nacionais, propiciarem os golpes de feição neo liberal (constate-se o quadro das Honduras e, se quisermos ir mais longe, do Ruanda).

5 ) A mensagem da Islândia, pelas características por exemplo da economia portuguesa, será de muito mais difícil "digestão" em Portugal, todavia só os portugueses poderiam optar por ela, por que seria necessária muita vontade colectiva para impôr outro quadro nacional.

6 ) A sociedade portuguesa, que em muitos aspectos parece funcionar como ainda no tempo da Inquisição, comparativamente à sociedade da Islândia, parece-me muito mais invadida pelo egoismo e pouco expedita para as grandes decisões colectivas que há a tomar para "enfrentar o touro" da especulação.

7 ) Estou a ver Portugal mergulhar numa trilha sado-masoquista, como se fosse um Portugal penitente da Idade Média...

8 ) Um exemplo de Portugal enfeudado aos interesses de Bruxelas, de Berlim e dos especuladores, será um péssimo exemplo para os outros CPLP e, por isso, até prova em contrário, julgo que nenhum CPLP deve dar a mão a Portugal, enquanto não houverem alterações substanciais do quadro de decisões sócio-políticas.

Martinho Júnior.

Luanda.