terça-feira, 31 de agosto de 2010

Macau deve preservar grafia do português - diz especialista


Língua: Macau deve preservar grafia do português pré-acordo ortográfico – Especialista

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Fall River, Estados Unidos, 31 ago (Lusa) – Macau deve preservar a grafia do português anterior ao novo acordo ortográfico, por falta de interesse das autoridades chinesas em introduzir as novas regras, prevê o especialista Joseph Levi, da universidade norte-americana de George Washington.

Ex-professor da Universidade de Macau e diretor do centro de línguas da Universidade de Hong Kong, Levi acredita que a administração chinesa vai preferir o “status quo” a fazer “mudanças bruscas” no ensino do português, língua oficial da região administrativa, a par do chinês.

“Não faz sentido mudar, segundo o governo central, porque há manuais já prontos, professores formados que vieram de Portugal. Não há este interesse em usar o acordo”, disse à Lusa o professor de filologia portuguesa, que regressou este ano da Ásia.

Macau é oficialmente uma zona bilingue até 2049, com opção de continuar mais 50 anos.

Para Levi, formado na Universidade de Lisboa, a preservação da grafia anterior ao acordo é um fator de enriquecimento do português.

“É bonita esta diversidade, mostra a riqueza da nossa língua e culturas. Concordo com o que se está a passar em Macau. Se faz parte da cultura e da identidade, bem-haja”, disse em entrevista à Lusa, à margem da Conferência sobre o Ensino do Português e Culturas Lusófonas, que decorreu sexta feira em Fall River, nordeste dos Estados Unidos.

“Pessoalmente, prefiro a maneira antiga, mas percebo que temos de ir para a frente, tudo bem. Agora não estou de acordo, e algumas das palavras que foram modificadas… foi uma violência porque as letras estavam ali por uma razão, para abrir ou fechar uma vogal, por exemplo”, adiantou.

Numa recente passagem por Macau, a presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, reuniu-se com a secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, para discutir a introdução do novo Acordo Ortográfico.

Após o encontro disse à Lusa estar convicta de que Macau irá aderir, mas sublinhou não haver, para já, nenhuma informação concreta sobre uma decisão das autoridades da região em relação ao acordo.

O Instituto Português do Oriente (IPOR) já iniciou em Macau a formação para a introdução do novo Acordo Ortográfico no ensino do português na região a partir de 2011, quando os manuais escolares adotarem as novas regras.

Os manuais para o ensino do português no estrangeiro adotarão as novas regras ortográficas a partir de 2011, garantiu a responsável, salientando que, para já, existem conversores ortográficos que podem servir de base à formação em Macau e que foram disponibilizados às instituições locais, a par da formação online do Instituto Camões.

A China é atualmente um dos países onde é maior a procura do ensino do português, segundo dá conta Joseph Levi.

“Muitos estudantes querem aprender o português, por razões políticas e económicas, e para nós é sempre um motivo de alegria, enquanto professores de culturas lusófonas, ver este interesse”, afirma.

“Angola é uma prioridade para Estados Unidos e China, o Brasil vai sempre ser um gigante, mas se pensarmos não só no número de habitantes, mas de países e opções, temos é um leque vastíssimo [na lusofonia]”, adianta Levi.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

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