domingo, 12 de setembro de 2010

Angola premeia o «jornalismo» feito na sua colónia de Cabinda

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NOTÍCIAS LUSÓFONAS

No próximo dia 18 terá lugar, no Centro Cultural Chiloango, a nona edição do Prémio de Jornalismo na colónia angolana de Cabinda. Segundo o chefe do departamento de rádio, televisão e imprensa da secretaria colonial da Comunicação Social, Armando Elisa, a edição deste ano tem algumas (in)ovações.

Por Orlando Castro - Jornalista

A principal (in)ovação respeita, diz com toda a galhardia típica do regime colonial aquele responsável, ao melhoramento da qualidade da multimedia no interior da sala, onde todos os trabalhos serão projectados em tela e os seus candidatos ou autores também serão apresentados.
Maravilha. Isso é que é jornalismo. Numa altura em que, cada vez mais, os jornalistas se limitam a ser correias de transmissão do regime angolano (quem assim não fizer leva – ver o caso do jornalista da Rádio Despertar, Alberto Chakusanga, - um tiro na cabeça), o importante é mesmo a embalagem, já que o produto é cada vez pior para a liberdade.

O prémio local de jornalismo foi instituído em 2002, pelo governo da colónia de Cabinda, para estimular a produção e criatividade da actividade jornalísticas na região. Por outras palavras, apenas dizer o que é a verdade oficial do regime, sendo que a teoria de dar voz a quem a não tem é punida por ser um crime contra a segurança do estado.

O prémio colonial tem como valor global 124 mil dólares, sendo 30 mil para cada vencedor das quatro categorias: Rádio, Televisão, Imprensa e Fotojornalismo e mil dólares para cada menção honrosa para estas quatros categorias.

É claro que tanto os jornalistas que trabalham em Angola como em Cabinda têm de apenas dizer o que o MPLA manda, não sabendo inclusivamente nada em relação às pessoas que são detidas, ou mortas, naquela colónia por pensarem de forma diferente dos manuais do regime.

Não saber de nada é, aliás, uma regra de ouro no jornalismo moderno, seja em Angola, Cabinda ou Portugal. No Jornalismo, se um jornalista – aprendia-se mesmo nos tempos da PIDE e na época em que Angola era ela própria uma colónia – não procura saber o que se passa, é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala, é um criminoso.

Hoje é diferente. Ser imbecil é meio caminho andado para ser premidado. Ser criminoso é mais de meio caminho para ser director.

Como dizem os arautos directivos de algum suposto jornalismo lusitano de referência, os directores dos media não são pressionados... pelos governos, até porque quem manda nos órgãos de comunicação social são os seus donos. O problema está em que os governos gostam de ser donos dos donos... dos jornais. É assim em Angola. É assim em Portugal.

E sssim sendo, a pressão é exerciada por múltiplas vias (directas, publicitárias, bancárias etc.) junto dos patrões e não dos mercenários que estes têm decorativamente nos cargos de direcção. É assim em Angola. É assim em Portugal.

Por alguma razão, quando em 2004 chegou à liderança do PS, José Sócrates jurou a pés juntos que a liberdade de imprensa era para si sagrada... Recordam-se?

Segundo a organização internacional não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que claramente nada percebe da poda, a liberdade de imprensa em Portugal diminuiu, registando uma queda do 16º para o 30º lugar na lista dos países que mais respeitam o trabalho dos jornalistas. O Brasil está na 71ª posição, Moçambique na 83ª, Guiné-Bissau na 92ª, Timor-Leste na 74ª e – é claro - Angola na brilhante 119ª posição.

Não creio, sinceramente, que o regime fascista e colonial português alguma vez tenha conseguido fazer melhor, mesmo com a PIDE/DGS e a censura a dar uma ajuda.

10.09.2010 - orlando.s.castro@gmail.com
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