sexta-feira, 29 de outubro de 2010

“É IMPERDOÁVEL A FOME QUE AINDA AFLIGE OS ANGOLANOS”

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ORLANDO CASTRONOTÍCIAS LUSÓFONAS

O alerta é dos bispos católicos a propósito de mais um aniversário da (in)dependência. Desde 1975 quem manda é o MPLA e o presidente não eleito está no cargo há 31 anos

Os bispos católicos de Angola resolveram mais uma vez, embora nem sempre o tenham feito de forma clara e assumida, lamentaram a existência de insegurança e fome no país, numa nota pastoral emitida em Luanda para assinalar o 35º aniversário da independência, a 11 de Novembro, data desde a qual o MPLA se mantém no poder, tendo ainda como presidente da República, não eleito, José Eduardo dos Santos, há 31 anos no cargo.

Segundo a agência Ecclesia, os bispos, reunidos em assembleia plenária da Conferencia Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que decorreu de 20 a 27 deste mês, lamentaram a “insegurança que ameaça a vida humana”, dando como exemplo a fome, a violência e os acidentes rodoviários.

“Num país como Angola, riquíssimo em recursos alimentares, é imperdoável a fome que ainda aflige irmãos nossos nalgumas regiões. É urgente tomar as necessárias medidas para modificar tão dolorosa situação”, pode ler-se no documento.

Registe-se que no país que actualmente preside à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e que mereceu rasgados elogios da anterior presidência portuguesa, cerca de 70 por cento da população vive abaixo dos limites da pobreza.

Na nota, os bispos congratulam-se com o facto de as "muitas feridas" abertas no "coração dos angolanos" durante a guerra terem vindo a cicatrizar e faz votos de que o aniversário da independência "seja um jubiloso ponto de chegada e um auspicioso ponto de partida para mais e melhor na nossa vida nacional”.

Os bispos decidiram ainda que o “Dia da Reconciliação Nacional” passa a ser celebrado no dia 4 de Abril, precedido “por uma jornada de reflexão”.

A assembleia plenária da Conferencia Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) aprovou ainda uma Mensagem Pastoral referente ao primeiro ano do triénio pastoral 2011-2013, com o tema “Família e Matrimónio”.

Os bispos católicos esqueceram-se também de falar, por exemplo, no perfil do cliente angolano em Portugal, um dado objectivo que mostra uma outra face de Angola, a face dos poucos que têm milhões e se esquecem dos milhões que por terem tão pouco são obrigados a tentar encontrar comida nos caixotes do lixo.

E são esses angolanos de primeira que representam 30% do mercado de luxo português. São sobretudo de homens, 40 anos, empresários do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.

Já o perfil do povo angolano, que representa 70% da população, é pé descalço, barriga vazia, vive nos bairros de lata, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com... fome.

De acordo com as várias marcas contactadas pelo jornal Expresso em Novembro do ano passado, esses angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças com o logo visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.

Por outro lado, de acordo com a vida real dos angolanos (de segunda), 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

Na joalharia de luxo, os angolanos também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que compram como pela facilidade com que os pagam. Na altura, o representante em Portugal da Chaumet, Dior e H. Stern, falou do caso de "uma senhora angolana que comprou uma pulseira por 120 mil euros, e pagou com cartão de crédito, sendo o pagamento imediatamente autorizado pelo banco".

Pois é. Em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Pois é. Entre milhões que nada têm, o importante são aqueles que vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna, compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex, ou que dão 120 mil euros por uma pulseira.

Isto para além da boa alimentação: Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.
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