MARIA DE LURDES VALE – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião – 17 outubro 2010
O momento político em Portugal faz lembrar aquela velha história do velho, o rapaz e o burro em que por causa de opiniões alheias o rapaz monta o burro e desce do burro, o velho monta o burro e desce do burro, os dois montam o burro e descem do burro e, no final, decidem fazer o caminho tal como o tinham começado.
Há muitas cabeças e muitas sentenças sobre o Orçamento do Estado e também sobre a atitude a ter pelo principal partido da oposição, atendendo ao rol de figuras gradas do País que giraram ao longo da semana pelos gabinetes das Finanças e de São Caetano e que levantaram a voz em nome do interesse da Nação. Está tudo aterrorizado pelo papão dos mercados internacionais e isso faz-nos acreditar que o comportamento que se espera da maioria no Parlamento só pode ser um. O Orçamento é mau, duro, castrador do crescimento económico, mas tem de ser aprovado custe o que custar. Teme--se o pior. O PSD, ao contrário do que acontece na fábula e por falta de quem por ele dê o flanco, ainda acabará por levar o burro e o rapaz às costas e acarretar assim com as consequências que esse peso provoca na curva dos indicadores económicos... e das sondagens.
O problema é que o Orçamento, incompleto e entregue tarde e a más horas (o que é um mau sintoma!), não é credível. Dá ideia de que as contas foram feitas a correr depois de Sócrates e o ministro das Finanças terem despertado há duas semanas para a real situação do País.
A conversa entre os dois pode ter sido mais ou menos assim: aumenta lá a Coca-Cola, o leite com chocolate, e vê se dá para subir a bilha de gás e também o preço dos extintores. Não te esqueças de pôr na lista uns vinte institutos, mais umas direcções-gerais e ainda um ou outro livro com capa de pele. Também se pode aumentar a couve e o leite com complementos, que isto do cálcio e da soja é uma invenção da indústria alimentar! Corta nas deduções, nos abonos e, quanto ao resto, também temos direito ao nosso tabu.
Os portugueses que acreditavam que a vida corria menos bem, mas que ainda dava para fazer uns gastos, ouviram estas notícias e a sensação que tiveram não foi propriamente a do acordar da bela adormecida. Os que vivem com menos, então nem se fala, e os que tiveram de começar a pagar portagens no Norte ainda é o que se vai ver.
Conclusão: tivemos esta semana um exemplo de luta pela sobrevivência que chamou a atenção do mundo. Em tempo de crise e de pessimismo, precisávamos de ver aqueles 33 mineiros, sãos e salvos, para nos convencermos de que a desistência e a resignação não são boas conselheiras. Há lições que vêm na hora certa.
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