sexta-feira, 1 de outubro de 2010

República/100 anos: Jerónimo de Sousa condena "branqueamento"...

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... dos aspetos mais negativos
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JH – LUSA

Lisboa, 01 out (Lusa) - O líder do PCP, Jerónimo de Sousa, criticou o que disse ser "um certo comemorativismo" do centenário do 05 de Outubro, considerando estar a ocorrer um "branqueamento" dos aspetos mais negativos da I República.

Em entrevista à Lusa a propósito das celebrações do centenário da implantação da República, Jerónimo de Sousa considerou que "um certo comemorativismo que está a existir leva à falta de verdade histórica, designadamente das razões da queda da I República e do afastamento das massas populares".

Para o secretário geral do PCP, a I República constituiu "um avanço significativo, nas liberdades fundamentais, na definição do Estado laico", mas o poder republicano não "correspondeu aos anseios e transformações sociais", ao ter "atitudes muito repressivas" em relação aos operários e mantendo "as estruturas económicas e sociais", o que gerou um sentimento de desilusão entre os populares.

"O agravamento da situação e a atitude repressiva por parte dos republicanos, o desenvolvimento da ação das forças reacionárias, tanto monárquicas como republicanas, acompanhada desta insatisfação e desilusão popular, conduziram inevitavelmente a que o 28 de maio [de 1926, que ditou o fim da I República] se transformasse num passeio", sustentou.

Sobre as celebrações dos 100 anos da República, Jerónimo de Sousa criticou a "dimensão excessiva em termos de eventos" e lamentou o que disse ser "uma tendência de fulanização e de procurar apenas destacar o que de bom foi a República".

"Nós consideramos que este caminho é pouco saudável e entra no comemorativismo, reescrevendo e branqueando a História", salientou o líder comunista, que defendeu que se deve "valorizar o que deve ser valorizado, mas não esquecer o que foi errado, mesmo no quadro destas celebrações dos 100 anos".

Jerónimo de Sousa referiu ainda que em 1910 "o povo aderiu à República" e considerou que às comemorações do centenário "falta a componente popular, que, não é por acaso, se verifica com as comemorações do 25 de Abril".

"Isto não se decreta, mas não é bom caminho não contar com aquilo que consideramos a força determinante de qualquer processo de transformação social, que são os trabalhadores e as massas populares", afirmou.

O secretário geral do PCP condenou ainda a iniciativa do Governo de inaugurar em simultâneo 100 escolas no dia 05 de outubro.

"Um primeiro ministro que mandou encerrar 700 escolas é o mesmo que vai usar à pala da República a inauguração de umas quantas escolas que estão anunciadas, que estão construídas e que foram repetidamente anunciadas, aproveitando para fazer propaganda", salientou.

Para o PCP, as comemorações do centenário deveriam ter "uma contribuição e participação popular", e não "um aproveitamento meramente conjuntural do atual poder político".

** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico **
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