LEILA CORDEIRO * - DIRETO DA REDAÇÃO
O que teria acontecido com o Rio de Janeiro? Perguntam-se todos os dias os cariocas que precisam ir e vir na cidade que vive debaixo de um verdadeiro fogo cruzado entre polícia e bandido. Hoje já não se fala mais em violência e sim em guerra, uma guerra que começou silenciosa sem que ninguém se desse conta e hoje está fora de controle.
Antigamente, e não me pergunte quanto tempo faz isso, assaltos pipocavam nos sinais de trânsito, toca-fitas eram roubados nos estacionamentos, era preciso ter cuidado ao andar nas ruas para não ter a bolsa furtada por algum ladrão de canivete que saía correndo depois do roubo.
Tudo isso parecia muito perigoso para quem estava acostumado a passear livremente pela orla da praia, sentar num barzinho da moda para um chopinho, pegar um cineminha no bairro, ir a um show ou uma peça de teatro sem ter que passar pela frustração de ter os pneus do carro roubados.
Apesar de tudo, comparado com os dias de hoje, eram tempos românticos. Era um tempo em que até a violência era mais ingênua, se é que podemos usar essa expressão. Os criminosos eram menos poderosos e a polícia...bem, a polícia podia receber uma cerveja por uma pequena infração cometida, mas não fazia trato com bandidos nem se misturava com eles. Comprar uma arma era bem mais difícil e os pontos de droga só vendiam maconha.
Mas a ampulheta do tempo correu depressa e a criminalidade tomou cores berrantes em cada esquina da cidade maravilhosa. Saía um governo, entrava outro, e a situação piorava sem que os governantes tenham se dado conta, apesar dos indícios cada vez mais fortes e evidentes, de que a criminalidade tornara-se incontrolável.
Os ladrões de canivete de outrora, hoje fazem parte de poderosas quadrilhas que contam com armas modernas e de alto poder de fogo. De dentro ou fora dos presídios, os chefões do tráfico dão as ordens e respondem ao reforço do policiamento com assaltos cada vez mais ousados. Deixaram para trás os morros da cidade e desceram até o asfalto, sem medo de enfrentar e até caçar policiais. Essa é a verdade, a própria polícia parece acuada.
No meio desse fogo cruzado, está a população que, sentindo na pele o crescimento da violência, tornou-se prisioneira dela. Assustados, os cariocas foram às ruas várias vezes para pedir mais ação da polícia, mais justiça, menos violência, enfim aquele discurso gasto pelos anos que já não surtem o efeito esperado.
Há nove meses o governo resolveu agir. Criou as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que já ocupou 13 comunidades em favelas do Rio e transferiu presos envolvidos com o tráfico de drogas para presídios federais.Os cariocas aprovaram a medida achando que a teoria do trabalho social iria dar certo.
Mas pelo visto os grupos criminosos expulsos dos morros, desceram literalmente a ladeira em represália e passaram a espalhar o pânico nos bairros da cidade. Arrastões, carros incendiados, ataque às guaritas da PM e até explosão de granadas nas ruas. .
Diante do caos que se instalou na cidade, nestes dias, o secretário de Segurança do Rio , José Mariano Beltrame, que tem sido elogiado por sua firmeza no combate ao crime, declara que a ação adotada pelo Estado, de tomar o território dos bandidos e confiscar suas armas, dará resultados a médio e longo prazos. Mas num momento de desabafo, ele mostra sua incerteza em relação ao futuro:
"Não há garantia. Quem garante isso? Quem garante isso é de certa forma um blefe. Como você vai garantir que não vai acontecer incidentes em uma cidade com 12 milhões de pessoas e onde historicamente o tráfico se instalou?"
Minha dúvida é a de milhões de pessoas que estão assistindo preocupadas à debacle da cidade:
-Será que na época dos dois maiores eventos esportivos do mundo, programados para os próximos anos, estarão os criminosos desarmados ou não há garantia de que esteja a cidade livre de incidentes?
* Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e CBS Telenotícias Brasil como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros de poesias publicados: "Pedaços de mim" e "De mala e vida na mão", ambos pela Editora Record. É repórter free-lancer e sócia de uma produtora de vídeos institucionais, junto com Eliakim Araujo, em Pembroke Pines, na Flórida.
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