segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Moçambicanos aceleram e querem cumprir os «Objectivos do Milénio»

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MANUEL MATOLA – NOTÍCIAS LUSÓFONAS (*)

Moçambique é um dos países mais afectados pelo HIV/SIDA na África Subsaariana, com uma seroprevalência estimada em 11,5%

Ainda faltam cinco anos para o mundo cumprir os oito Objectivos de Desenvolvimento de Milénio. 2015 é o prazo final para o alcance dessas metas. Moçambique, apesar de sérios e graves problemas, poderá alcançar – pelo menos em parte - a sexta meta: Combater o HIV/Sida, a malária e outras doenças.

Aos 30 anos, Issufo foi preso, acusado de assassínio da primeira mulher, com quem teve uma filha. O conflito familiar causou-lhe, no ano 2000, uma detenção injusta durante 14 meses na cadeia de máxima segurança de Maputo. Foi lá que ficou a saber que era portador de HIV, o vírus que causa a Sida.

A doença é uma das maiores ameaças ao desenvolvimento de Moçambique, mas o país tem registado progressos rumo ao cumprimento da 6ª Meta de Desenvolvimento do Milénio.

Experiência de vida

Esse objectivo pede aos governos para deterem e reveterem a propagação do Sida, da malária e outras doenças, incluindo a tuberculose até 2015.

Hoje, Issufo aceita partilhar a sua experiência de vida ao falar sobre o trabalho de sucesso que desenvolve no projecto Dream da comunidade religiosa italiana, Santo Egídio.

"Fiquei na cadeia durante 14 meses. Também fiquei doente lá. Como a comunidade Santo Egídio fazia trabalhos lá dentro, (os membros) aconselharam-me a fazer o teste. Feito o teste deu positivo", disse.

Também foi a instituição religiosa de combate à Sida no país quem o ajudou a sair da cadeia, depois que procurou saber as reais causas da detenção. Afinal Issufo era inocente.

"Viram que na realidade a morte dela (a mulher) não estava ligada ao que a família pensava. Fiz outras análises para ver se podia começar com a toma de antiretrovirais. Em 2003, iniciei o tratamento no centro Dream da Machava. Praticamente, estou a fazer tratamento há sete anos. A minha saúde melhorou bastante. Nunca tive uma doença oportunista e, de lá para cá, sou um bom aderente. Muita coisa melhorou", afirmou.

Dois filhos

Com 34 anos, Issufo é agora pai de dois filhos: um que acaba de completar quatro anos e o mais velho com 15. O grupo populacional moçambicano mais atingido pela Sida tem idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos, mas ambos os filhos não estão infectados com vírus HIV.

Moçambique é um dos países mais afectados pelo HIV/SIDA na África Subsaariana, com uma seroprevalência estimada em 11,5%, segundo a agência da ONU para o Sida, Onusida.

De acordo com o coordenador do Programa Conjunto das Naçoes Unidas sobre HIV/Sida, ONU Sida, Mauricio Cysne, morrem cerca 60 mil pessoas todos os anos neste país africano, vítimas de sida.

Portador do HIV

"Aqui nós temos os grandes, infelizes recordes, como a Suazilândia, o Botswana, a própria África do Sul e, também, Moçambique. Moçambique situa-se entre os 10 países mais afectados, com mais 1,3 milhões de moçambicanos e moçambicanas afetados pelo vírus. E, sem dúvida, é um grande drama nacional, é um grande obstáculo ao desenvolvimento do país", disse.

Dados governamentais indicam que a taxa de mortalidade por malária no país é de 47% e que até 2015 a meta a atingir será de 35%.

Na tuberculose, para atingir as metas, Moçambique teria de reduzir de 298 para 149 o número de casos por cada 100.000 habitantes, e reduzir de 36 para 18 mortes pelo mesmo número de habitantes.

Tratamento

O acesso aos antiretrovirais ainda abrange um número menor dos necessitados, apesar dos avanços registados nos últimos anos. Mas Issufo é excepção.

"Tenho tido medicamento desde os primeiros dias até hoje. Apesar de ter esta vida positiva, tento transmitir isso aos outros. Eu estou bem. Tenho um bom tratamento, a partir do laboratório, da consulta médica à farmácia. Mas os outros nao têm o que eu tenho. Por isso, não paro de passar esta mensagem a quem de direito para ver se podem mudar. Se eu tenho bom tratamento, é possível que os outros tenham também".

Antiretrovirais

Leonardo Chavane, porta-voz do Ministério da Saúde de Moçambique, não tem dúvidas que progressos assinaláveis foram feitos nesta área, especialmente no combate à Sida.

"Neste momento, estamos a cobrir cerca de 200 mil pessoas em tratamento com antiretrovirais e isto para nós é sinal de avanço. Em 2004, tínhamos cerca de 6 mil doentes e, em seis anos, multiplicamos este número mais do que dez vezes. Estamos em todo o país, todas as províncias, em todos os (128) distritos", afirmou.

Em Setembro do ano passado, as autoridades sanitárias do país introduziram a cesta básica contendo alimentos nutritivos para garantir a sustentabilidade das pessoas que vivem com o vírus HIV.

Deficiência

"Neste programa ja foram atingidas mais de mil pessoas. A ideia não é o governo passar a dar alimentos de forma indiscriminada, mas apoiar àquelas pessoas com maior deficiência de acesso para que possam ser apoiadas e sair desta fase. Por isso, o período de acesso de alimentos é de seis meses, findo os quais a pessoa deverá, por si só, continuar a produzir e ter acesso a alimentos", referiu.

O sistema nacional de Moçambique tem cerca de 1300 unidades sanitárias. Em quase 90% destes estabelecimentos hospitalares, as mulheres podem ser testadas na consulta pré-natal e terem acesso aos medicamentos para evitar a transmissão do HIV de mãe para filho.

Beneficiários

"Para nós isso é um ganho muito grande. O principal desafio é o problema de recursos, porque quanto mais sobe o número de beneficiários, a necessidade de dinheiro aumenta e o país não tem até ao momento disponível recurso suficiente para garantir o tratamento a longo prazo. Este vai ser um desafio nos próximos tempos e o país terá que trabalhar, naturalmente, com vista a mobilizar mais recursos para esta área".

A cinco anos do prazo final de cumprimento das Metas do Milénio, as Nações Unidas assinalam que a 6ª Meta do Milénio poderá ser atingida parcialmente a nível global. Para Mauricio Cysne, Moçambique não conseguirá atingir essa meta.

"Moçambique, muito provavelmente não irá atingir a meta dos Objectivos do Milénio com relação ao HIV/Sida, enquanto está em boa linha para se atingir vários outros dos objectivos. A situação do HIV/Sida ainda é muito preocupante e com certeza não chegará à meta de dissipar e reverter a epidemia até 2015", concluiu.

(*) Rádio ONU em Maputo
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