JORGE MAZIAS * – i ONLINE, opinião – 20 dezembro 2010
Este ano já houve sete greves gerais e, na semana passada, até uma greve de jornalistas. Contudo, nada disto muda alguma coisa. Só conta o que o FMI diz
Feliz... greve! Podia - ou devia - ser tempo dos votos de feliz Natal, mas não é. Não há dia na Grécia sem uma paragem de trabalhadores. Na semana passada realizou-se a sétima greve geral deste ano. Até os jornalistas fizeram greve por dois dias. Pela primeira vez na história, não houve diários nos quiosques durante 48 horas.
Pois, mas e depois? O que é que ganhámos? Nada. As medidas estão anunciadas e não haverá recuo. E então o que é que fazemos? Ficamos quietos e de braços cruzados aceitando tudo sem protestar? Claro que não! Há tensão no ar e estamos a caminho da miséria, que não demorará muito a chegar. Abaixo do limiar da pobreza já vivem dois em cada cinco gregos (mesmo depois das prestações sociais pagas pelo Estado) e um em cada dez gregos não tem recursos para as despesas da vida quotidiana, segundo dados do Eurostat - que são sempre fiáveis, ao contrário dos gregos.
Segundo o mesmo Eurostat, na pobreza estão aqueles que vivem em lares com receitas inferiores a 60% do rendimento nacional médio. Na União Europeia a 27, 16,5% da população (81 milhões de pessoas) viviam na pobreza. A Grécia é o quarto país nesse índice de miséria. Em primeiro está a Letónia (25,6%), seguida pela Roménia (23,4%), a Bulgária (21,4%) e logo a seguir a Grécia (20,1% ou 2,2 milhões de pessoas). Estes números aumentarão seguramente em 2011, com todos os cortes nas despesas dos Estados que se estão a levar a cabo. Segundo os estudos de opinião, quase 65% dos gregos têm medo de cair na pobreza e essa insegurança está directamente relacionada com o facto de que 50% crêem que os pobres muitas vezes chegam a essa falta de recursos por azares da vida.
Mais ainda: 68% dos gregos pensam que a evolução do mundo moderno e as injustiças que lhe estão associadas tornam inevitável a pobreza de alguns. Os 700 euros de rendimento são a barreira psicológica que separa os pobres dos ricos (ou dos remediados). 68,4% dos gregos acreditam que a diferença entre ricos e pobres vai aumentar no futuro.
Ao governo isto interessa pouco - só interessa o que diz o FMI, que é quem vai mantendo, com os seus empréstimos e os da União Europeia, o Estado a funcionar. Segundo os especialistas, o programa de redução das dívidas do Estado está a desenvolver-se sem problemas e há sinais de melhoria da competitividade. Mas são necessárias mais reformas para estimular o crescimento potencial e aponta-se para que a economia possa começar a recuperar na segunda metade de 2011. Os responsáveis do FMI dizem que o governo grego fez muitos progressos no seu programa de reformas. Depois de seis meses de esforços intensos, há sinais de melhoria da competitividade, ajudados pela desaceleração da inflação e pelos cortes nos salários. As medidas fiscais implementadas, a redução de 6% do défice em 2010, a reforma das pensões aprovada em Julho são boas notícias para os mercados, mas parecem sempre insuficientes. O primeiro-ministro Papandreou até faz campanha pelos eurobonds, tendo pedido esta semana um milhão de assinaturas para que a UE passe a vender dívida como um todo. Contudo, não consegue convencer a sra. Merkel nem o sr. Sarkozy.
Os gregos acham que vai ser difícil pagar todas as dívidas, que vai ser preciso ainda mais ajuda da Europa e de quem mais queira ajudar. Apesar de todos os nossos esforços, sozinhos não vamos lá.
*Jornalista na Grécia - Escreve à segunda-feira
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