EFE
Cairo, 26 jan (EFE).- Várias organizações de defesa dos direitos humanos e movimentos opositores denunciaram nesta quarta-feira a "detenção ilegal" de centenas de manifestantes pela Polícia durante os protestos do dia anterior contra a situação política e econômica.
"Queremos saber por que essas pessoas foram detidas, onde estão e pelo que foram acusadas? Não podemos aceitar que a Polícia detenha-as e a gente não saiba onde estão", justificou à Agência Efe o ativista George Ishaq.
A denúncia foi feita hoje quando se confirmou uma quarta vítima, um civil, que morreu em um hospital da localidade de Suez por causa dos ferimentos recebidos nos protestos de terça-feira. Com este caso, já são três civis e um policial os mortos até agora.
Ishaq e mais 30 ONGs e ativistas políticos, denunciou em comunicado que a polícia mantém centenas de detidos em "centros da Segurança Central e nas províncias".
No comunicado, garantem que os policiais proibiram os advogados de várias ONGs de entrarem em contato com alguns feridos, alguns dos quais em estado grave, segundo os signatários.
Além disso, as autoridades cortaram as linhas de telefones celulares de alguns ativistas durante o protesto, acrescentaram.
Em reunião mantida nesta manhã no centro pró-direitos humanos Hisham Mubarak vários ativistas opositores de distintas correntes prepararam uma demanda para exigir às autoridades que anunciem o paradeiro dos detidos e que sejam libertados.
Enquanto ocorria a reunião, os trabalhadores da ONG não paravam de responder às ligações telefônicas de familiares que denunciavam o desaparecimento de seus filhos durante os protestos de terça.
Para Mohammed Abdel Qadus, um militante dos Irmãos Muçulmanos que participou do encontro, os protestos do dia anterior representam "uma grande vitória".
"Na manifestação de terça, o sonho que tínhamos há muito tempo, de o povo ir às ruas protestar. Pessoas normais, afastadas da política e dos partidos. Isto é o estilo tunisiano, o povo foi o protagonista", disse a Efe.
Qadus acredita que "o ocorrido na terça é só o começo, não acabou e pode repetir-se".
Um dos dirigentes da assembleia da mudança do prêmio nobel da paz Mohamed ElBaradei, Hamdi Qandil, mostrou a mesma postura que Qadus e declarou à Efe que a manifestação de terça expressou "a grande ira do povo egípcio".
Qandil denunciou o fato de que o Ministério do Interior terem insistido que os Irmãos Muçulmanos estivessem por trás do protesto e considerou que esta afirmação era "humilhante para o povo egípcio".
"A onda de ira de terça-feira foi espontânea e coordenada por jovens e não por nenhum partido político. Foi organizada pelos jovens e através da internet", insistiu Qandil.
Qandil criticou um comunicado do Ministério do Interior no qual nega que os participantes das manifestações do dia anterior chegassem aos milhares.
Para Qandil, o Ministério, que não ofereceu números e limitou-se a dizer que a maior concentração foi no Cairo, cerca de 10 mil pessoas, segundo suas estimativas "tentando falsear a realidade".
Conforme as estimativas das autoridades de Interior, um policial morreu e 18 oficiais e 85 agentes ficaram feridos.
Em nota, o Ministério pediu aos cidadãos que se afastem das tentativas de "provocar o caos" e avisou a adoção de medidas legais com os detidos.
CAIRO TENTA VOLTAR À NORMALIDADE
Cairo, 26 jan (EFE).- O Cairo tenta voltar à normalidade nesta quarta-feira, depois de milhares de manifestantes terem tomado na terça o centro da capital egípcia para exigir reformas políticas e econômicas e a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak, em uma jornada de protestos que terminou com o saldo de três mortos.
Segundo asseguraram à Agência Efe fontes dos serviços de segurança, durante a madrugada agentes antidistúrbios expulsaram à força manifestantes que estavam concentrados na praça de Tahrir (Libertação), na região central do Cairo.
Cerca de 150 manifestantes ficaram feridos e um número indeterminado foi detido durante a operação policial, que se prolongou entre 1h e 3h da hora local (21h e 23h de terça-feira pelo horário de Brasília) e que continuou com enfrentamentos e perseguições por ruas do centro da capital, segundo as fontes.
Já quatro horas depois o tráfego fluía normalmente na praça, onde três caminhões antidistúrbios faziam guarda e vários garis trabalhavam para recolher os restos dos protestos da véspera, como constatou a Efe.
Milhares de pessoas que se manifestaram na terça-feira em diferentes pontos do Cairo para exigir a queda de Mubarak, no poder desde 1981, o fim da lei de emergência e a realização de eleições limpas, se juntaram no centro da capital em uma concentração sem precedentes no país.
Houve manifestações também nas principais cidades do país, como Alexandria, Al Minya, Suez e Port Said, segundo as fontes, que informaram que pelo menos um policial e dois civis morreram durante a jornada de ontem.
O agente policial identificado como Ahmed Abdelaziz ficou ferido na praça de Tahrir após ser atingido por uma pedra e morreu no hospital, enquanto os dois civis faleceram na cidade de Suez por disparos de balas de borracha, informaram as fontes.
Em Suez, houve ainda 63 feridos, incluídos quatro agentes.
UNIÃO EUROPEIA A REBOQUE DE PROTESTOS NO EGIPTO
Bruxelas, 26 jan (EFE).- O presidente do Parlamento Europeu, o polonês Jerzy Buzek, pediu nesta quarta-feira as autoridades egípcias que "abracem as aspirações legítimas - sociais e políticas - da população (de seu país) sobre maior liberdade, pluralismo e democracia".
O Governo do Cairo tem uma "oportunidade única para responder verdadeiramente às preocupações da população egípcia", garantiu Buzek em nota enviada à imprensa.
Buzek pediu aos atores políticos "comedimento" para que a população "possa exercer seus direitos e liberdades fundamentais com dignidade, expressando sua esperança de que mais vidas não sejam perdidas".
Na sua opinião, as autoridades egípcias não cumularam totalmente esta oportunidade nas eleições parlamentares realizadas no ano passado, por isso que compartilhou o desejo da população egípcia para que as "eleições presidenciais deste ano respondam ao chamado do povo".
"Trabalharemos com as autoridades egípcias e buscaremos garantir que a voz do povo seja escutada", acrescentou.
Milhares de manifestantes tomaram na terça-feira o coração do Cairo, um fato sem precedentes no Egito, governado pelo presidente Hosni Mubarak desde 1981, em uma série de protestos que acabaram com três mortos e dezenas de feridos.
Desde primeira hora de terça-feira, os manifestantes se concentraram em diversos pontos da capital respondendo a uma convocação que surgiu na internet coincidindo com a queda do presidente tunisiano, Ben Ali, em passado 14 de janeiro, após um mês de protestos.
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