Público - Agências, Paulo Moura, Cairo – 01 fevereiro 2011
Oitavo dia de protestos
Milhares de egípcios já se acumulam nas ruas do Cairo, indiferentes ao anúncio de uma mudança de Governo e de abertura do diálogo, no dia em que estão marcadas, para várias cidades, marchas que têm como objectivo simbólico juntar um milhão de manifestantes.
Multidões reúnem-se no centro do Cairo (cerca de 100 mil pessoas, às 12h00 locais), muitos tendo passado a noite na praça Tahrir (da Libertação) em desafio à ordem de recolher obrigatório, exigindo o fim do regime do Presidente, Hosni Mubarak, 82 anos e há já três décadas no poder, num protesto que foi engrossando desde a passada terça-feira contra a pobreza e desemprego, a corrupção e a ausência de representação de vastíssimas fatias da população, em particular dos jovens, cada vez mais numerosos.
Todos os acessos à praça Tahrir estão a ser controlados pelos militares que, num espírito pacífico e colaborante, revistam todas as pessoas. No centro da praça não há tanques nem militares. Enquanto se gritam palavras de ordem como "Mubarak para o inferno" ou "Mubarak fora", o clima é pacífico e amistoso.
Assim que reconhem jornalistas de meios de comunicação internacionais, os manifestantes gritam "welcome", "welcome".
Durante a manhã, mulheres distribuíram bolos e água aos manifestantes que passaram a noite na praça.
O Cairo não está sozinho
São esperadas manifestações em outras cidades do país, nomeadamente em Alexandria, segunda maior cidade do Egipto, e também em Suez, de onde eclodiram os primeiros protestos contra Mubarak copiando a revolta popular tunisina que derrubou o chefe de Estado daquele país, Zine al-Abidine Ben Ali.
Segundo um jornalista de AFP, a auto-estrada que liga Alexandria ao Cairo foi bloqueada a um quilómetro da capital por uma barreira do Exército, que está a impedir a passagem de veículos para o interior da cidade. Um outro jornalista da mesma agência deu conta de bloqueios semelhantes nas saídas das cidades de Mansoura, Suez e Fayyoum.
O exército egípcio, um dos pilares de apoio do Governo do Presidente Hosni Mubarak, já fizera saber na véspera que não vai disparar sobre os manifestantes – embora permaneça em posições em zonas estratégicas da capital – e que compreende os protestos “legítimos” do povo egípcio, apesar de tentar manter a ordem nas ruas nestes últimos oito dias de protestos. A oposição quer que os militares deixem claro até quinta-feira de que lado estão: do país ou de Mubarak.
Entretanto, cerca de 50 organizações egípcias não governamentais de defesa dos direitos humanos fizeram um apelo público conjunto para que o Presidente “se retire” do poder, de forma a “evitar um banho de sangue”.
O recém-nomeado vice-presidente, e chefe da polícia secreta, Omar Suleiman, tentara encetar já ontem conversações com os líderes da oposição e reiterou a promessa de reformas feita pelo Presidente durante o fim-de-semana. Mas, cada vez, os analistas políticos não falam já “se” Mubarak vai sair de cena, antes “quando” e “como”.
“A sucessão já está em curso. O importante agora é gerir a saída de Mubarak, que tem de ser tão graciosa quanto possível neste ponto. Por uma questão de honra, os oficiais de topo não vão permitir que seja de outra maneira. E os militares, que de facto governam o Egipto desde o derrube da monarquia em 1952, vão ter um papel crucial na decisão sobre quem vai substituir Mubarak; muitos esperam que os militares continuem a deter muito poder ao mesmo tempo que introduzirão reformas suficientes para acalmar a contestação””, avaliou o politólogo Steven Cook, do Council on Foreign Relations, em artigo publicado no website do think tank.
Já esta manhã, o Fundo Monetário Internacional revelou estar disponível a ajudar o Egipto a “conceber o tipo de política económica que possa ser posta em prática” de forma a reconstruir a economia do país.
Notícia actualizada às 10h31 por PÚBLICO
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Multidões reúnem-se no centro do Cairo (cerca de 100 mil pessoas, às 12h00 locais), muitos tendo passado a noite na praça Tahrir (da Libertação) em desafio à ordem de recolher obrigatório, exigindo o fim do regime do Presidente, Hosni Mubarak, 82 anos e há já três décadas no poder, num protesto que foi engrossando desde a passada terça-feira contra a pobreza e desemprego, a corrupção e a ausência de representação de vastíssimas fatias da população, em particular dos jovens, cada vez mais numerosos.
Todos os acessos à praça Tahrir estão a ser controlados pelos militares que, num espírito pacífico e colaborante, revistam todas as pessoas. No centro da praça não há tanques nem militares. Enquanto se gritam palavras de ordem como "Mubarak para o inferno" ou "Mubarak fora", o clima é pacífico e amistoso.
Assim que reconhem jornalistas de meios de comunicação internacionais, os manifestantes gritam "welcome", "welcome".
Durante a manhã, mulheres distribuíram bolos e água aos manifestantes que passaram a noite na praça.
O Cairo não está sozinho
São esperadas manifestações em outras cidades do país, nomeadamente em Alexandria, segunda maior cidade do Egipto, e também em Suez, de onde eclodiram os primeiros protestos contra Mubarak copiando a revolta popular tunisina que derrubou o chefe de Estado daquele país, Zine al-Abidine Ben Ali.
Segundo um jornalista de AFP, a auto-estrada que liga Alexandria ao Cairo foi bloqueada a um quilómetro da capital por uma barreira do Exército, que está a impedir a passagem de veículos para o interior da cidade. Um outro jornalista da mesma agência deu conta de bloqueios semelhantes nas saídas das cidades de Mansoura, Suez e Fayyoum.
O exército egípcio, um dos pilares de apoio do Governo do Presidente Hosni Mubarak, já fizera saber na véspera que não vai disparar sobre os manifestantes – embora permaneça em posições em zonas estratégicas da capital – e que compreende os protestos “legítimos” do povo egípcio, apesar de tentar manter a ordem nas ruas nestes últimos oito dias de protestos. A oposição quer que os militares deixem claro até quinta-feira de que lado estão: do país ou de Mubarak.
Entretanto, cerca de 50 organizações egípcias não governamentais de defesa dos direitos humanos fizeram um apelo público conjunto para que o Presidente “se retire” do poder, de forma a “evitar um banho de sangue”.
O recém-nomeado vice-presidente, e chefe da polícia secreta, Omar Suleiman, tentara encetar já ontem conversações com os líderes da oposição e reiterou a promessa de reformas feita pelo Presidente durante o fim-de-semana. Mas, cada vez, os analistas políticos não falam já “se” Mubarak vai sair de cena, antes “quando” e “como”.
“A sucessão já está em curso. O importante agora é gerir a saída de Mubarak, que tem de ser tão graciosa quanto possível neste ponto. Por uma questão de honra, os oficiais de topo não vão permitir que seja de outra maneira. E os militares, que de facto governam o Egipto desde o derrube da monarquia em 1952, vão ter um papel crucial na decisão sobre quem vai substituir Mubarak; muitos esperam que os militares continuem a deter muito poder ao mesmo tempo que introduzirão reformas suficientes para acalmar a contestação””, avaliou o politólogo Steven Cook, do Council on Foreign Relations, em artigo publicado no website do think tank.
Já esta manhã, o Fundo Monetário Internacional revelou estar disponível a ajudar o Egipto a “conceber o tipo de política económica que possa ser posta em prática” de forma a reconstruir a economia do país.
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