PEDRO DUARTE – ECONÓMICO – 20 fevereiro 2011 - 19:47 Lisboa
O presidente líbio já perdeu o controlo de quase toda a parte Leste do país, estando a reforçar a sua posição na capital, Tripoli.
Os combates de hoje centraram-se acima de tudo na segunda maior cidade do país, Benghazi, onde durante a manhã forças leais a Kadhafi abriram fogo com armas pesadas sobre uma multidão de 100.000 pessoas que havia comparecido aos funerais das vítimas do dia anterior. Esta atitude acabou por levar a maior parte dos soldados estacionados na cidade a mudar de campo, noticiam as agências internacionais.
"Posso confirmar 13 mortos só no nosso hospital. Mas as boas notícias é que as pessoas estão a celebrar com as notícias de que o exército está do lado do povo", disse à al-Jazeera um dos médicos do maior hospital da cidade, elevando para cerca de 200 o número de mortos e 900 o de feridos registados nos combates que tiveram lugar na cidade durante os últimos dias. O mesmo médico revelou ainda que os ataques têm sido realizados "por apenas uma única brigada militar que está contra os manifestantes, a brigada Al-Sibyl". Reforçados pelos militares que mudaram de lado, a multidão capturou vários outros veículos militares e armas, tendo incendiado a academia da polícia, estando a lançar neste momento um assalto armado sobre o quartel desta formação leal ao regime.
"Os advogados estão a manifestar-se em frente ao tribunal do Norte de Benghazi. Há lá milhares de pessoas. Estamos a chamar-lhe ‘Praça Tahrir Dois'. Os outros estão a atacar a guarnição da cidade, sendo atacados por atiradores furtivos", disse por telefone à agência AFP o advogado Mohammed al-Mugrabi, residente na cidade.
Confrontos espalham-se
Segundo os contactos que as agências noticiosas têm na Líbia, a revolta contra Kadhafi está agora presente em todo o Leste do país, em particular nas cidades de Bardya, Tobruk, Derna e Misrata. Na cidade de Al-Baida, fontes oficiais que pediram o anonimato disseram às agências que "extremistas islâmicos" capturaram e estão a manter reféns os elementos locais das forças de segurança, bem como "vários civis", estando o ministro da Justiça Mustafa Abdeljalil a conduzir negociações para tentar obter a sua libertação.
Nos desertos do Sul, as notícias que chegam dão conta de que a polícia, recrutada entre as tribos locais, se juntou aos manifestantes para combater os elementos leais ao regime, que são em grande parte recrutados em outros países africanos.
O domínio de Kadhafi só é visível na capital de Tripoli, cidade onde se têm sucedido durante todo o dia as manifestações de apoio ao líder, por entre uma forte presença das forças de segurança. O acesso à Internet continua sujeito a grandes restrições. "As comunicações com a Líbia são extremamente difíceis", disse Tom Porteous, porta-voz da agência de direitos humanos Human Rights Watch. Já as autoridades anunciaram a captura de um grupo de seis "sabotadores" que estaria alegadamente a tentar incendiar os campos petrolíferos de Sarir. "O grupo recebeu as armas do estrangeiro e recebeu as suas instruções através da Internet", disse à AFP uma fonte oficial.
Segundo o Sindicato de Imprensa egípcio, a comunidade de exilados líbios residentes neste país reuniu "equipamento médico urgente" para ser enviado para os seus compatriotas. Já o advogado Ayman Shawki, que vive na cidade fronteiriça de Matrouh, revelou à AP que a poderosa tribo Awllad Ali, que vive na fronteira entre os dois países, se voluntariou para transportar todo o material para dentro da Líbia.
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