quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nova Zelândia: Números oficiais apontam 75 mortos e 300 desaparecidos

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Autoridades de Christchurch temem mais de cem mortos debaixo de edifício da TV local

PÚBLICO – 23 fevereiro 2011

As autoridades de Christchurch continuam a avançar com o número oficial de 75 mortos provocados pelo sismo de terça-feira. Mas temem que o edifício da televisão local, totalmente destruído, esconda um cenário negro com uma centena de mortos por baixo dos escombros. “Impossível de sobreviver”, dizem sobre o edifício.

Na altura do terramoto, que atingiu 6.3 na escala de Richter estavam naquele edifício, para além da equipa de televisão local, um grupo de estudantes japoneses. Todos são dados entre os cerca de 300 desaparecidos relatados às equipas de socorro em toda a cidade. O estado do edifício levou a que as equipas de salvamento tivessem de parar as buscas por razões de segurança. Dave Lawry, inspector da polícia local disse ao New Zealand Herald que tem “cem por cento de certeza” que não há sobreviventes.

“Não vou arriscar a vida do meu pessoal onde eu acredito que não existem sobreviventes. Ocorreram durante as últimas horas vários incêndios no edifício e as câmaras e detectores de som instalados não encontraram qualquer sinal de vida, disse Lawry.

As autoridades também não acreditam já encontrar sobreviventes por baixo dos escombros da catedral de Christchurch, um monumento com 130 anos que desabou. Há informação de 22 pessoas que estavam dentro da catedral quando ocorreu o sismo.

Nas últimas horas foram salvas cerca de 120 pessoas dos escombros, num dos casos uma mulher esteve presa mais de 26 horas mas sobreviveu. Muitas das vítimas tiveram de ser amputadas nos resgates.

Francisco Caldeira Pires, um português a viver há seis anos em Christchurch contou esta manhã às rádios da Media Capital que as autoridades pedem às pessoas para não saírem de casa e que o grau de destruição é enorme: “Há bastantes danos nas casas e estradas, está tudo destruído, as saídas e entradas da cidade estão impossíveis”, diz o português que se voluntariou para ajudar na limpeza da cidade que só nas últimas horas recuperou a electricidade. Francisco Caldeira Pires fala ainda de filas para gasolina e uma escassez de alimentos nos supermercados.

Cerca de 80 por cento da cidade permanece sem água.

Os líderes mundiais têm oferecido ajuda. Barack Obama vai mandar uma equipa de busca e salvamento e o Reino Unido também vai enviar uma equipa de 62 especialistas de busca e resgate com mais de nove toneladas de equipamento.

"Ver isto na televisão é uma coisa, sentir é outra. É indescritível" – Portuguesa

ASP - LUSA

Madrid, 23 fev (Lusa) -- Uma portuguesa residente em Christchurch disse hoje ter vivido momentos "indescritíveis" durante e depois do sismo que atingiu aquela cidade da Nova Zelândia na terça-feira, tendo passado várias horas sem conseguir chegar à escola dos filhos.

"Nunca tinha sentido nada assim. Ver na televisão é uma coisa, mas estar no meio é outra. É indescritível", contou à Lusa Elia Ribeiro, contactada telefonicamente em Christchurch, onde vive com o marido, hispano-australiano, e os quatro filhos (três rapazes de 15, 11 e 8 anos e uma menina de dois anos). O marido estava na altura do sismo em viagem de trabalho na Austrália.

A cidade de Christchurch, a segunda da Nova Zelândia, foi atingida na terça-feira por um sismo de magnitude 6,3 na escala de Richter que provocou pelo menos 75 mortos e 300 desaparecidos.

A portuguesa, de 36 anos, que se mudou da cidade australiana de Sydney para Christchurch apenas a 28 de dezembro do ano passado, contou à Lusa que quando o sismo ocorreu estava com a filha mais nova num centro comercial.

"Não sei como aquilo não caiu tudo em cima de nós. Caiu tudo à minha volta. Vidros partidos e outras coisas. Só não caiu em cima de nós. Tinha um anjo à minha volta", disse.

"Ficámos sem saber o que fazer. E quando aquilo parou e saímos estava tudo partido cá fora. O cimento partido. Havia água por todo o lado. Ficou tudo inundado em 10 minutos. A água chegava à porta do carro", recordou.

Com a filha, e depois de ter ficado "meia hora a tremer", meteu-se no carro e foi recolher o filho mais velho à escola "ali a cinco minutos de distância", onde"felizmente não havia feridos".

Chegar à escola dos dois rapazes mais novos foi bastante mais complicado, com estradas cortadas, um "caos" no centro, muita água pelas ruas e as dificuldades no acesso.

Sem comunicações, só conseguiu ver os filhos "quase às 6 da tarde", várias horas depois do sismo.

"O sismo foi às 12:12 [hora local]. Estive ali meia hora a tremer e depois não parei. Fui à escola do mais velho. Mas só consegui chegar às 6 à escola dos mais pequenos. Estavam capazes de morrer", disse.

"Felizmente, aconteceu na hora de almoço. Os miúdos estavam todos cá fora a brincar. Caíram alguns vidros e há alguns edifícios danificados mas felizmente não aconteceu nada de grave a ninguém ali", explicou.

Quase 24 horas depois do sismo, e ainda sem luz, Elia Ribeiro disse que passou a noite "com muita preocupação", na sala de casa com os filhos.

"Dormimos todos juntos na sala. Foi uma noite terrível porque durante a noite sentiram-se muitos abanões", disse, explicando que na sua zona várias casas, as mais antigas, foram parcialmente destruídas.

"A cidade continua sem luz. O telefone fixo não funciona e o móvel vai funcionando, mas porque o carrego no carro. Os vizinhos já vieram saber de mim. Há muita solidariedade por aqui", acrescentou.
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