… COM FUNDO A PETRÓLEO E OUTROS HORIZONTES POLÍTICOS
MARTINHO JÚNIOR
Aparentemente em função muito mais do Iraque, que do Afeganistão, é de se admitir que nem todos os interesses que gravitam na órbita do Poder Hegemónico, estejam de acordo com a estratégia “global” levada a cabo por George Bush, após o 11 de Setembro.
Já a 26 de Agosto de 2002, James Baker avisava na CNN que, no seu entender, George Bush não deveria atacar o Iraque sozinho:
“Embora os Estados Unidos pudessem na verdade ser bem sucedidos, deveríamos fazer o nosso melhor, no sentido de ir para o Iraque sozinhos e o Presidente deveria rejeitar a opinião daqueles que o aconselham a assim fazer”.
Aparentemente não era só uma questão de “lobby”, mas sobretudo uma questão de estratégia, que se impunha ao pensamento de James Baker, levando também em consideração os custos que o uso da força e os seus efeitos directos e indirectos acarretariam (incluindo os gastos para a reconstrução do País inibindo eventual oposição dos sucedâneos post Saddam).
Por outro lado, o impacto do ataque Americano ao Iraque, deveria ser considerado também em todas as Regiões subjacentes e James Baker incluía muito provavelmente o Cáucaso e o Mar Cáspio, como elementos a não perder de vista, em termos de inventário de acções, com ganhos e com perdas, que se deveriam prognosticar, em função dos interesses relativos ao petróleo, tal como não estaria a esquecer a situação interna e o uso estratégico da própria petroleira Russa, a “Yukos” por parte da Rússia, em alternativa à capacidade Ocidental.
A Administração Bush, ao radicalizar o discurso contra o “terrorismo”, atacando o Iraque da forma como o fez, inibindo métodos mais dissuasores e persuasivos, pela via dum maior enquadramento de forças possível e utilizando outras componentes de acção (incluindo as psicológicas), arriscou demasiado em relação aos impactos que deveria ter previsto, aparentemente no que diz respeito ao quadro das estratégias em relação à Rússia, como ao Cáucaso e ao Mar Cáspio.
A 5 de Dezembro e reflectindo um outro cuidado, James Baker, que em meados do ano havia estado em Tbilissi, como “Enviado Presidencial”, foi nomeado pelo Presidente para estudar as formas de pagamento da dívida Iraquiana preenchida pelo regime de Saddam.
Essas possíveis clivagens, que repercutem diferentes conceitos e opiniões em relação aos métodos e não em relação aos objectivos, parecem que foram também indiciadas a 30 de Setembro de 2003, ao nível de George Soros, que publicamente afirmou que iria apoiar e influenciar a promoção do voto nas próximas eleições dos Estados Unidos, de forma a procurar fazer sair do poder George Bush, sustentando a sua posição , conforme a “BBC”, no seguinte:
“Os Estados Unidos devem parar a sua política extremista, com uma mudança na Casa Branca.
Isso só é possível se houver uma mudança de regime nos Estados Unidos, por outras palavras, se pelos votos, o Presidente Bush sair do poder”.
Detalhando mais a sua ideia, George Soros considerava que se estava na presença duma “falsa ideologia” por detrás da política da Administração Bush:
“Há um grupo de, se assim se pode considerar, extremistas, que actuam dum modo como se as relações Internacionais fossem relações de poder, não emanação das leis e que a Lei Internacional seguirá sempre o que for determinado pelo poder.
Assim (eles acreditam) que por serem a mais poderosa Nação sobre a Terra, os Estados Unidos devem impor o seu poder, impor a sua vontade e os seus interesses ao Mundo e fazem-no.
Penso que isso é uma ideologia muito perigosa. É muito perigosa por que a América é de facto muito poderosa”.
As considerações de George Soros referiam-se principalmente às decisões sobre o ataque dos Estados Unidos ao Iraque e o argumento continuava crítico, em relação também às Nações Unidas:
“As Nações Unidas não é uma Organização significativamente efectiva em promover a sociedade aberta, é uma associação de Estados … Estados que põem sempre os seus interesses Nacionais acima do interesse comum.
Por isso não é uma Organização efectiva para a mudança das condições dentro dos Estados”.
Concluindo :
“Temos sido actualmente muito efectivos no que diz respeito à democratizaçã , em mudanças de regime democrático na Eslováquia, Croácia e Jugoslávia, através da ajuda à sociedade civil e à mobilização que ela faz nesses Países”.
Para George Soros, a fim de se encetarem mudanças políticas, deve ser excluído o uso da poderosa acção militar, até por que isso implica custos elevadíssimos (aproximando-se assim das estratégias de James Baker).
Conforme o seu argumento, a acção psicológica continuada e inteligente, tendo como base um argumento democrático, mas usando de ingredientes próprios (instituições, partidos com papeis diferenciados, organizações juvenis e meios de difusão massiva), torna-se não só muito mais persuasivo, mas também mais barato, menos arriscado e tem a grande vantagem de, pela segredo dos bancos, poder manobrar com as coligações de interesses, providenciando a melhor utilização dos recursos financeiros, de forma a ganhar cada vez mais, especulando.
Nota:
Ao longo de 2003 todos os assuntos publicados no nº 376 do Actual foram sendo amadurecidos, pelo que em Dezembro desse ano houve a oportunidade para os publicar.
Este é outro dos artigos cuja substância na época pouca gente terá entendido em Angola, pois a maior parte das pessoas estão ainda hoje insuficientemente esclarecidas da multiplicidade de manipulações que este processo de globalização oferece para quem detém a capacidade ao nível da aristocracia financeira mundial.
Ao “repescá-lo” chamo a atenção para a velocidade com que as duas últimas Administrações Norte Americanas reformularam o seu sistema de relacionamento com o exterior, integrando no Departamento de Estado e no Pentágono os “vasos comunicantes úteis” com vista a uma “nova vaga” de manipulações de muito menor custo que as poderosas articulações militares desencadeadas contra o Iraque e o “AfPaq”.
Ainda aqui é Cuba Revolucionária aquela resistência que melhor entendimento faz da análise de riscos, com um ensinamento que está a ser transmitido a outros estados da América Latina (os componentes da ALBA, a Argentina, o Brasil… ).
Será que África, em função de análises de riscos desse tipo, vai acordar?
Também aqui a palavra cabe ainda e praticamente só às suas elites, que, no caso de Angola, desde 1985 atiraram para os baús do desterro, numa arrecadação que nunca mais se abriu, a possibilidade de conhecimento fiável de acordo com o materialista dialéctico em relação à evolução da humanidade em pleno século XXI!
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MARTINHO JÚNIOR
Aparentemente em função muito mais do Iraque, que do Afeganistão, é de se admitir que nem todos os interesses que gravitam na órbita do Poder Hegemónico, estejam de acordo com a estratégia “global” levada a cabo por George Bush, após o 11 de Setembro.
Já a 26 de Agosto de 2002, James Baker avisava na CNN que, no seu entender, George Bush não deveria atacar o Iraque sozinho:
“Embora os Estados Unidos pudessem na verdade ser bem sucedidos, deveríamos fazer o nosso melhor, no sentido de ir para o Iraque sozinhos e o Presidente deveria rejeitar a opinião daqueles que o aconselham a assim fazer”.
Aparentemente não era só uma questão de “lobby”, mas sobretudo uma questão de estratégia, que se impunha ao pensamento de James Baker, levando também em consideração os custos que o uso da força e os seus efeitos directos e indirectos acarretariam (incluindo os gastos para a reconstrução do País inibindo eventual oposição dos sucedâneos post Saddam).
Por outro lado, o impacto do ataque Americano ao Iraque, deveria ser considerado também em todas as Regiões subjacentes e James Baker incluía muito provavelmente o Cáucaso e o Mar Cáspio, como elementos a não perder de vista, em termos de inventário de acções, com ganhos e com perdas, que se deveriam prognosticar, em função dos interesses relativos ao petróleo, tal como não estaria a esquecer a situação interna e o uso estratégico da própria petroleira Russa, a “Yukos” por parte da Rússia, em alternativa à capacidade Ocidental.
A Administração Bush, ao radicalizar o discurso contra o “terrorismo”, atacando o Iraque da forma como o fez, inibindo métodos mais dissuasores e persuasivos, pela via dum maior enquadramento de forças possível e utilizando outras componentes de acção (incluindo as psicológicas), arriscou demasiado em relação aos impactos que deveria ter previsto, aparentemente no que diz respeito ao quadro das estratégias em relação à Rússia, como ao Cáucaso e ao Mar Cáspio.
A 5 de Dezembro e reflectindo um outro cuidado, James Baker, que em meados do ano havia estado em Tbilissi, como “Enviado Presidencial”, foi nomeado pelo Presidente para estudar as formas de pagamento da dívida Iraquiana preenchida pelo regime de Saddam.
Essas possíveis clivagens, que repercutem diferentes conceitos e opiniões em relação aos métodos e não em relação aos objectivos, parecem que foram também indiciadas a 30 de Setembro de 2003, ao nível de George Soros, que publicamente afirmou que iria apoiar e influenciar a promoção do voto nas próximas eleições dos Estados Unidos, de forma a procurar fazer sair do poder George Bush, sustentando a sua posição , conforme a “BBC”, no seguinte:
“Os Estados Unidos devem parar a sua política extremista, com uma mudança na Casa Branca.
Isso só é possível se houver uma mudança de regime nos Estados Unidos, por outras palavras, se pelos votos, o Presidente Bush sair do poder”.
Detalhando mais a sua ideia, George Soros considerava que se estava na presença duma “falsa ideologia” por detrás da política da Administração Bush:
“Há um grupo de, se assim se pode considerar, extremistas, que actuam dum modo como se as relações Internacionais fossem relações de poder, não emanação das leis e que a Lei Internacional seguirá sempre o que for determinado pelo poder.
Assim (eles acreditam) que por serem a mais poderosa Nação sobre a Terra, os Estados Unidos devem impor o seu poder, impor a sua vontade e os seus interesses ao Mundo e fazem-no.
Penso que isso é uma ideologia muito perigosa. É muito perigosa por que a América é de facto muito poderosa”.
As considerações de George Soros referiam-se principalmente às decisões sobre o ataque dos Estados Unidos ao Iraque e o argumento continuava crítico, em relação também às Nações Unidas:
“As Nações Unidas não é uma Organização significativamente efectiva em promover a sociedade aberta, é uma associação de Estados … Estados que põem sempre os seus interesses Nacionais acima do interesse comum.
Por isso não é uma Organização efectiva para a mudança das condições dentro dos Estados”.
Concluindo :
“Temos sido actualmente muito efectivos no que diz respeito à democratizaçã , em mudanças de regime democrático na Eslováquia, Croácia e Jugoslávia, através da ajuda à sociedade civil e à mobilização que ela faz nesses Países”.
Para George Soros, a fim de se encetarem mudanças políticas, deve ser excluído o uso da poderosa acção militar, até por que isso implica custos elevadíssimos (aproximando-se assim das estratégias de James Baker).
Conforme o seu argumento, a acção psicológica continuada e inteligente, tendo como base um argumento democrático, mas usando de ingredientes próprios (instituições, partidos com papeis diferenciados, organizações juvenis e meios de difusão massiva), torna-se não só muito mais persuasivo, mas também mais barato, menos arriscado e tem a grande vantagem de, pela segredo dos bancos, poder manobrar com as coligações de interesses, providenciando a melhor utilização dos recursos financeiros, de forma a ganhar cada vez mais, especulando.
Nota:
Ao longo de 2003 todos os assuntos publicados no nº 376 do Actual foram sendo amadurecidos, pelo que em Dezembro desse ano houve a oportunidade para os publicar.
Este é outro dos artigos cuja substância na época pouca gente terá entendido em Angola, pois a maior parte das pessoas estão ainda hoje insuficientemente esclarecidas da multiplicidade de manipulações que este processo de globalização oferece para quem detém a capacidade ao nível da aristocracia financeira mundial.
Ao “repescá-lo” chamo a atenção para a velocidade com que as duas últimas Administrações Norte Americanas reformularam o seu sistema de relacionamento com o exterior, integrando no Departamento de Estado e no Pentágono os “vasos comunicantes úteis” com vista a uma “nova vaga” de manipulações de muito menor custo que as poderosas articulações militares desencadeadas contra o Iraque e o “AfPaq”.
Ainda aqui é Cuba Revolucionária aquela resistência que melhor entendimento faz da análise de riscos, com um ensinamento que está a ser transmitido a outros estados da América Latina (os componentes da ALBA, a Argentina, o Brasil… ).
Será que África, em função de análises de riscos desse tipo, vai acordar?
Também aqui a palavra cabe ainda e praticamente só às suas elites, que, no caso de Angola, desde 1985 atiraram para os baús do desterro, numa arrecadação que nunca mais se abriu, a possibilidade de conhecimento fiável de acordo com o materialista dialéctico em relação à evolução da humanidade em pleno século XXI!
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