sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

SALVAR A HUMANIDADE JÁ!

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MARTINHO JÚNIOR

De há praticamente 20 anos a esta parte o comandante-filósofo Fidel tem vindo a chamar a atenção para o aumento dos riscos causados pelo homem afectando a Mãe Terra, desde o início da Revolução Industrial, mas particularmente desde a IIª Guerra Mundial, quando pela primeira vez foram usados artefactos nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki.

Foi em Junho de 1992, quando da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, efectuada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, que Fidel fez o seu primeiro pronunciamento de alerta e de então para cá, enquanto cada vez mais tem vindo a fundamentar o seu argumento, tem crescido a insustentabilidade das acções humanas sobre a natureza, com consequências que começam a pôr em risco a sobrevivência da espécie.

Esses riscos aumentam por outro lado, dado o carácter militarista e agressivo do capitalismo em fase de império, tal como são exemplo as políticas tuteladas pelos Estados Unidos, que possuem bases militares em todos os recantos do mundo, que implementam alianças e emparceiramentos utilizando sistematicamente estratégias de tensão e têm vindo a optar pelo recurso ao unilateralismo e hegemonia em relação ao impulso do domínio musculado sobre o petróleo e outros recursos naturais, o que pode conduzir, entre outras coisas e de novo, ao emprego de armamento nuclear desta feita no Médio Oriente (Irão), com repercussões inimagináveis.

O tema foi levantado de novo em Havana, num encontro que Fidel teve com mais duma centena de convidados, intelectuais de diversas partes do Mundo que haviam acorrido à XXª edição da Feira Internacional do Livro da capital cubana, entre eles a Ministra da Cultura de Angola.

É um tema caro a muitos intelectuais da todos os recantos da Terra e que vai assumindo cada vez mais actualidade à escala global, à medida que as anomalias ambientais e climáticas se vão sucedendo de forma surpreendente, a um ritmo assustador, traumático e sem precedentes e as explicações mínimas têm de ser dadas a todos os humanos e particularmente às vítimas directas, a fim de encontrar as melhores acções de resposta e procurar as melhores medidas de prevenção.

“A Terra é um ser vivo” afirma com convicção o ecólogo e engenheiro agrónomo brasileiro José Lutzemberger e “os seres humanos são células, algumas cancerosas, de seu tecido nervoso”. (1)
"A ecosfera não é um simples sistema homeostático, automático, químico-mecânico. O planeta Terra é um ser vivo, um ente com identidade própria, o único de sua espécie que conhecemos. Se outras gaias existem no Universo, nessa ou em outras galáxias, serão todas coerentes. Um ser vivo tão destacado merece nome próprio - justifica Lutzemberger, enquanto explica que esta visão é diametralmente oposta a até agora adoptada pela ciência, que coloca os seres humanos como observadores externos da natureza.

Segundo ele, hoje é comum na visão científica a imagem da Terra como uma nave espacial. É uma figura na qual a Terra é apenas o palco da vida e, para nós, humanos, não passa de recursos aproveitáveis.

Mas a nave espacial engana. Uma nave tem passageiros. Em Gaia não há passageiros. Tudo é e todos somos Gaia”.

Para Leonardo Boff, um dos teólogos da libertação, em entrevista a Alberto Mora do Adital, Terra e humanidade são indissociáveis: (2)

“La idea de fondo es que la Tierra no necesita de nosotros, nosotros necesitamos de la Tierra.

La Tierra puede seguir adelante tranquilamente sin nosotros; pero el problema es las relaciones que tenemos con la Tierra, que es una relación de explotación, de agresión, de total falta de cuidado. Entonces lo primero que hay que hacer, y sin el cual las demás medidas no tendrán eficacia, es cambiar nuestra mirada con respecto a la Tierra.

Entender la Madre Tierra como un baúl de recursos que uno puede explotar, sin entender la Tierra como fue definido oficialmente, proclamado en la ONU el 22 de abril de 2009: que la Tierra no solamente es Tierra que uno puede comprar, vender, manipular; que la Tierra es Madre, y una Madre no se compra, no se vende, no se manipula, sino que se cuida, se ama, se protege.

La primera visión, que corresponde a las tradiciones más antiguas de nuestros pueblos... de la Tonantzín, de la Pachamama, de la Magna Mater, que corresponde a lo más avanzado de la Ciencia, de la Vida y de la Tierra hoy, que entiende la Tierra como Gaia... Gaia es el nombre griego para decir la Tierra Viva, que articula los elementos físicos, químicos, biológicos, de tal manera que se hace siempre propicia a la Vida. Ese equilibrio que la Tierra tiene, fue afectado terriblemente por 300 años de explotación.

En esa ruta ya no podemos caminar, porque vamos al encuentro del abismo, por lo tanto, la Declaración parte de esa visión nueva: la Tierra es parte del Universo en evolución. Tierra y Humanidad componen una única entidad, que es la visión que los astronautas tienen cuando miran la Tierra desde afuera. La Tierra y la Humanidad son una sola cosa, y que el Ser Humano en la Tierra tiene esa misión de cuidar de la Tierra, de ser el guardián de su integridad, de su vitalidad, que ahora está amenazada”.

O argumento de Fidel procura ser realista, objectivo e aponta cada vez mais responsabilidade para o homem em relação à vida no planeta, por que foi ele o ente capaz de estudar a “casa comum” onde ele próprio foi gerado e de que faz parte integrante e integrada nos seus sistemas de vida.

Com esse argumento-síntese Fidel assume a filosofia da paz, da concórdia e do respeito para com a humanidade e para com o planeta, com sensibilidade, lucidez e amor, demarcando-se da plataforma em que se têm situado os estadistas contemporâneos e homens que exercem o poder corrente sobre os estados que tão medievalmente se implicam na gerência das nações e dos recursos disponíveis. (3)

“No hablo de salvar a la humanidad en términos de siglos o de milenios… A la humanidad hay que empezar a salvarla ya.

(…)

Nuestra especie no ha aprendido a sobrevivir.

(…)

Hay un problema que si no se resuelve, sobra todo lo demás -afirmó-. No hay ni siquiera Historia. Pienso que estamos ante una crisis de ese carácter. Si tuviera razón sería muy inconveniente -se acotó a sí mismo-, pero soy optimista, porque de lo contrario no hablaría de estos temas… No los hablaría si creyera que la vida no pudiera preservarse

(…)

Yo pienso -insistió ahora- que la especie humana está en peligro real de extinción y pienso que podemos y debemos hacer un esfuerzo para que eso no ocurra. Ese es el tema principal sobre el cual quería conversar con ustedes”.

O comandante-filósofo alimenta em termos de conhecimento uma posição de vanguarda que foi alimentada ao longo de toda a sua passagem pela vida, desde a sua juventude até hoje, uma posição amadurecida, que pelas suas implicações profundas se demarca da política e dos políticos contemporâneos atingindo níveis de conhecimento, de abrangência e de rigor nunca antes alcançados.

Por isso ele associa este tema ao emprego da arma nuclear, conforme teve oportunidade de se referir durante a última visita de sobreviventes japoneses ao bombardeamento com bombas atómicas lançadas no final da IIª Guerra Mundial sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki.

“Por qué el mundo no puede actuar como una familia?

(…)

No tenemos otro planeta a donde mudarnos. Venus, que lleva el nombre de la diosa del amor, tiene un calor enorme. La estrella más cercana a la Tierra está a 4 años luz -un año luz es la distancia que un rayo de luz recorre en un año, a la velocidad de 300 000 kilómetros por hora-. No podemos mudarnos. Nuestra vida está aquí, en este planeta, lo único que verdaderamente tenemos

(…)

Creo que deberíamos comportarnos como una familia, y compartir lo que tenemos: unos petróleo, otros alimentos, los de más allá médicos…

(…)

Por qué no podemos considerar al mundo como la sede de una sola familia humana?”

Enquanto indivíduos todos os seres animais e vegetais estão de passagem pela vida, mas o ciclo de vida de cada ser humano desde o berço que é contaminado por preconceitos, pelo egoísmo próprio das sociedades capitalistas que se “esmeram” na concorrência que conduz ao lucro como uma entidade suprema e insuperável que se impõe de geração em geração, por uma mentalidade que não cultiva sequer o conhecimento dos riscos que hoje nos situam no caminho do abismo.

Quantas entidades públicas responsáveis assumem de forma esclarecida e pedagógica a sobrevivência da espécie e o respeito para com a Mãe Terra? Porquê?

Martinho Júnior - 19 de Fevereiro de 2011

Notas:
- (1) – A Terra é um ser vivo –
http://www.anjodeluz.com.br/gaiaeviva.htm
- (2) – La Tierra no necesita de nosotros, nosotros necesitamos de la Tierra – http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=ES&cod=45728
- (3) – El Mundo deberia ser una família –
http://www.cubadebate.cu/noticias/2011/02/15/fidel-con-intelectuales-a-la-humanidad-hay-que-salvarla-ya/comment-page-1/#comment-173527
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