Mesmo sabendo que o Brasil não votou a favor da resolução da ONU sobre o ataque à Líbia, Obama teve a deselegância de dar a ordem de começo da operação militar em solo brasileiro, durante a sua viagem relâmpago ao nosso país. Ao mesmo tempo, esbanjou charme, ele e sua mulher, fez elogios fartos ao Brasil e a Dilma – mesmo se muito parco nos acordos concretos.
A visita de Obama permitiu conhecer de perto as duas caras do mesmo do rosto da potência imperial. A fisionomia pode ser grosseira, como a do seu antecessor, Bush, ou ter a cara simpática de Obama, mas a política continua a ser a mesma: imperial, belicista, agressiva.
Porque os EUA não são apenas um país rico. São a cabeça do sistema imperialista mundial. Um sistema que teve a sua origem no sistema colonial, aquele que, desde a Europa, submeteu os países dos outros continentes, os explorou, os oprimiu – usando trabalho escravo da África –, dividiu-os entre si e constituiu um sistema internacional de poder que passou a controlar o mundo, sob hegemonia inglesa.
A decadência inglesa abriu campo para uma disputa de sucessão entre duas potências emergentes – a Alemanha e os EUA –, que as duas guerras mundiais resolveram a favor deste último. Ao mesmo tempo, as formas de dominação foram mudando. Da ocupação directa, que considerava que as colónias faziam parte dos territórios do país colonizador, foi-se passando a formas de dominação que conviviam com a independência política dos países dominados, mas submetidos a forte controle económico, tecnológico e militar. Foi-se passando do sistema colonial ao sistema imperialista, que tem nos EUA a sua cabeça fundamental. Fundem-se no poder norte-americano o poder económico, político, tecnológico, militar e ideológico.
O imperialismo e os monopólios são a consequência natural da concorrência do capital no mercado, em que os mais fortes se tornam cada vez mais fortes, os poderosos cada vez mais poderosos. A concentração de renda e de poder é um resultado obrigatório das condições da concorrência, em que o Estado tem um papel estratégico, seja de favorecer os grandes grupos económicos, seja de promover os interesses das grandes potências nos conflitos internacionais.
Os EUA passaram a defender os interesses do bloco capitalista em escala mundial, mediante a sua força militar, a sua capacidade de acção política, de exportação global dos valores das suas formas de vida – o “modo de vida norte-americano”. Defendeu esse bloco durante a Guerra Fria – do término da Segunda Guerra Mundial até ao fim da URSS (de 1945 a 1991) – contra os “riscos do comunismo”. Terminado esse período, passaram a buscar inimigos que justificassem a manutenção e a contínua militarização da sua economia e dos conflitos. Encontraram no “terrorismo” esse novo inimigo. As guerras do Afeganistão, do Iraque e agora da Líbia, expressam a forma concreta que essa luta adquire – contra países árabes, portadores de recursos energéticos de que os países ocidentais não dispõem ou dispõem de forma insuficiente.
Por que governantes de partidos distintos, com estilos diferentes, acabam defendendo os mesmos interesses: respeitando antes de tudo o poder dos bancos, da indústria bélica, mantendo as guerras iniciadas e começando outras? Porque, para além daquelas diferenças, se mantém o mesmo papel imperialista dos EUA? Porque é um Estado que tira a sua legitimidade, a sua força, dessa função de líder do bloco das potências capitalistas no mundo.
As guerras sempre foram parte integrante na afirmação da superioridade imperialista. Aproveitando-se da sua superioridade no plano militar, tratam de resolver os conflitos pela força, impõem-se a seus aliados valendo-se dessa superioridade militar. Assim, os EUA tornaram-se a potência mais bélica da história da humanidade, não apenas pelo seu poderio militar, mas também pela quantidade de invasões, agressões, desembarques, participações em golpes militares.
Mesmo com a economia em recessão, os EUA mantêm a sua capacidade de intervenção militar, de forma directa ou através de aliados, em quase todas as regiões do mundo, de que a Líbia agora é a confirmação. A luta pela democracia no mundo passa pela ruptura do mundo unipolar e a passagem a um mundo multipolar, em que o maior número de vozes possíveis sejam ouvidas para decidir os destinos da humanidade, até aqui concentrados nas mãos do maior império e o mais agressivo que a história conheceu.
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