MIGUEL PORTAS – SOL, opinião
Onde e como é que isto tudo começou? Não me lembro, deve ter sido algures por Agosto, em França. Ou, talvez, uns meses antes, na Alemanha. Ou ainda antes, em Itália.
Para sermos inteiramente francos, até é capaz de ser história antiga, com décadas em cima, para não falar em séculos. Refiro-me, claro está, à questão da expulsão dos ciganos.
Houve uma comissária europeia, por sinal luxemburguesa, que se atirou ao Presidente francês, afirmando em público o que só alguns se atreviam a pensar em privado: que era preciso recuar até à II Guerra Mundial para se encontrar na Europa paralelo no tratamento de um grupo humano.
A senhora Reding não se referia ao holocausto, incomparável, do ponto de vista das consequências, à deportação. Ela referia-se, isso sim, ao substrato que justificou, num caso, o envio para campos de concentração e, noutro, o reenvio lá para a terra deles.
Reza o dito substrato que os ciganos são assim e são assado, como se fossem todos iguais, como se devesse pagar o justo pelo pecador, como se vivessem todos da droga ou todos proibissem as crianças de estudar. Tal como, de resto, os judeus de outras eras, que toda a gente sabia avaros e agiotas, exploradores do povo simples e a quem a iconografia medieval atribuía pés espalmados e narizes aduncos. Foi muito bem feita a comparação.
Oproblema de Sarkozy é que eles, os Romes, são cidadãos europeus. Fossem de outro lugar e era fácil: expediam-se por avião e via postal para a Roménia ou para o grão-ducado do Luxemburgo que, pelos vistos, gosta deles e se habituou a receber outras ra- ças, como a dos portugueses (gente incapaz e incompetente na terra deles, pelo menos é essa a opinião de um tal de Medina Carreira, que adora o FMI).
A segunda dificuldade de Sarkozy foi com uma ordem de serviço do seu Ministério do Interior. Alguém interpretou as instruções orais à letra e lá apareceram elas com a palavra ciganos escarrapachada. Nada disto é matéria de opinião. E porque não, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução muito dura para o Presidente francês.
Os socialistas votaram a favor, os do PSD abstiveram-se e os do CDS, colocando as feiras na gaveta, foram contra. Mas... uns dias depois, no Parlamento português, ordens de cima puseram o PS a chumbar, com PSD e CDS, uma resolução similar.
De repente, havia um inquérito a decorrer, talvez Sarkozy blá--blá , e talvez se não deva o Estado português intrometer na vida dos outros, embora Bruxelas se meta com os nossos orçamentos. E, para que a coerência fique completa, passaram-se mais uns dias e, nos Açores, PS e PSD votaram favoravelmente a mesmíssima moção que o BE apresentara em São Bento. Depois digam-me que tudo isto faz imenso sentido e que nos encontramos ante gente da mais insuspeita respeitabilidade...
.
Onde e como é que isto tudo começou? Não me lembro, deve ter sido algures por Agosto, em França. Ou, talvez, uns meses antes, na Alemanha. Ou ainda antes, em Itália.
Para sermos inteiramente francos, até é capaz de ser história antiga, com décadas em cima, para não falar em séculos. Refiro-me, claro está, à questão da expulsão dos ciganos.
Houve uma comissária europeia, por sinal luxemburguesa, que se atirou ao Presidente francês, afirmando em público o que só alguns se atreviam a pensar em privado: que era preciso recuar até à II Guerra Mundial para se encontrar na Europa paralelo no tratamento de um grupo humano.
A senhora Reding não se referia ao holocausto, incomparável, do ponto de vista das consequências, à deportação. Ela referia-se, isso sim, ao substrato que justificou, num caso, o envio para campos de concentração e, noutro, o reenvio lá para a terra deles.
Reza o dito substrato que os ciganos são assim e são assado, como se fossem todos iguais, como se devesse pagar o justo pelo pecador, como se vivessem todos da droga ou todos proibissem as crianças de estudar. Tal como, de resto, os judeus de outras eras, que toda a gente sabia avaros e agiotas, exploradores do povo simples e a quem a iconografia medieval atribuía pés espalmados e narizes aduncos. Foi muito bem feita a comparação.
Oproblema de Sarkozy é que eles, os Romes, são cidadãos europeus. Fossem de outro lugar e era fácil: expediam-se por avião e via postal para a Roménia ou para o grão-ducado do Luxemburgo que, pelos vistos, gosta deles e se habituou a receber outras ra- ças, como a dos portugueses (gente incapaz e incompetente na terra deles, pelo menos é essa a opinião de um tal de Medina Carreira, que adora o FMI).
A segunda dificuldade de Sarkozy foi com uma ordem de serviço do seu Ministério do Interior. Alguém interpretou as instruções orais à letra e lá apareceram elas com a palavra ciganos escarrapachada. Nada disto é matéria de opinião. E porque não, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução muito dura para o Presidente francês.
Os socialistas votaram a favor, os do PSD abstiveram-se e os do CDS, colocando as feiras na gaveta, foram contra. Mas... uns dias depois, no Parlamento português, ordens de cima puseram o PS a chumbar, com PSD e CDS, uma resolução similar.
De repente, havia um inquérito a decorrer, talvez Sarkozy blá--blá , e talvez se não deva o Estado português intrometer na vida dos outros, embora Bruxelas se meta com os nossos orçamentos. E, para que a coerência fique completa, passaram-se mais uns dias e, nos Açores, PS e PSD votaram favoravelmente a mesmíssima moção que o BE apresentara em São Bento. Depois digam-me que tudo isto faz imenso sentido e que nos encontramos ante gente da mais insuspeita respeitabilidade...
.